Fala Galera!
PaladinoMonge na área trazendo para vocês mais um pouco da vida de algum designer de jogos de tabuleiro moderno.
E aí, você por acaso conhece Martin Wallace?
(Olá Galera. Eu sou Martin Wallace)
Martin Wallace nasceu em 1962 em uma cidade perto de Southampton na Inglaterra, se mudando para Salford quando tinha 7 anos. Para quem não sabe, pelo menos naquela época, Salford era uma das áreas mais carentes da Inglaterra. Então você já deve pensar que foi uma luta para o Martin conseguir viver naquele local, bem como conseguir educação. Mas ele conseguiu um diploma em humanadas (história) e um certificado de professor.
A vida começou bem dura para ele. Mas isso não o impediu de começar a se interessar por jogos de tabuleiro. Conta aí para a gente Wallace.
‘Eu sempre gostei de jogos, especialmente Boardgames. Eu ficava esperando o Natal porque nesse período eu conseguir forçar alguns familiares a jogar monopoly. Eu tenho era fascinado por War assim como outros garotos e eu coleciona bonequinhos, construía modelos de aeronaves e tanques de guerra. Eu comecei a jogar propriamente jogos de tabuleiro moderno no secundário (por volta dos 12 ou 13 anos).
No Ensino médio eu fui apresentado ao D&D e isso abriu uma porta para um excitante mundo de fantasia medieval. Na época, não existiam tantos suplementos de RPG, então muita coisa eu mesmo criava para jogar. Nessa época eu comecei a estocar vários sistemas de RPG e também figuras medievais.
Por um tempo isso foi bastante divertido. Eu ficava lendo e aprendendo vários jogos. Mas teve um ano que eu me aventurei por jogos de computadores. Inclusive eu desenvolvi um jogo de guerra para a Spectrum que foi escrito em sua maioria em Basic. Contudo, verifiquei que minhas habilidades não iriam me fortalecer nesse mercado de jogos eletrônicos e decidi partir para a carreira acadêmica.’
Martin Wallace começou a desenvolver seus próprios jogos em 1990. Mas vamos deixar ele mesmo falar sobre isso e sobre seu primeiro jogo criado.
‘Em 1990 eu decidi que queria criar meus próprios jogos e comecei a criar jogos de guerra, pois era o que eu tinha bastante conhecimento para fazer. Por alguma razão eu achei que podia vender esses jogos para a GDW. Então, juntamente com um amigo do clube de jogos eu imprimi 50 copias do jogo Lords of Creation. Um outro amigo me apresentou para Mike Siggin e eu encaminhei uma cópia do jogo. As primeiras análises do jogo foram positivas e novos pedidos começaram a chegar com um número surpreendente de pedidos vindo da Alemanha. Essa foi a primeira vez que entrei em contato com o mercado de jogos alemão. Uma coisa levou a outra e em 1994 eu acabei indo para Essen com Tim Cockitt e Simon Bracegirdle em uma van cheia de cópias de Lords of Creations.’
(Primeiro jogo do Martin Wallace. Essa arte é bem estranha)
Wallace gosta de falar que essa ida a Essen mudou a sua vida e seu olhar para o mundo e mercado de jogos de tabuleiro. Todas as vezes que ele ia para Essen, geralmente com algo novo, esses jogos se esgotavam rapidamente e um maior interessa crescia em sua pessoa.
Uma curiosidade bem bacana é que o Martin Wallace já falou mais de uma vez que, para cada jogo bom que ele cria, outros 20 foram criados. Interessante notar que há um esforço tremendo nesse processo criativo e, convenhamos, existem muitos jogos bons desse designer. Logo podemos deduzir que o trabalho é muito grande.
Mas engana-se quem acha que já passou pela cabeça dele em desistir de fazer jogos. Isso porque, para ele, criar jogos é uma diversão. Você pode pensar em várias nuances do jogo enquanto você está numa caminhada ou mesmo trabalhando na sala de aula (no caso dele, pois ele é professor). Por isso mesmo, ele nunca pensou em desistir, mesmo havendo pessoas que já o aconselharam a fazer isso. ‘A prática leva a perfeição. Quanto mais jogos eu faço, mais me torno um designer de jogos melhor’.
(Age of Steam. Um dos jogos do Martin que tem trenzinhos)
Martin Wallace é bastante reconhecido pelos seus jogos hipertemáticos. E isso se dá porque ele sempre gosta de começar pelo tema quando está criando jogos.
‘Eu geralmente começo a criar os jogos pelo tema. A maioria dos meus jogos tem temas históricos. Eu leio alguns livros sobre o período e começo a desenhar os principais pontos e fatos relevantes daquele período que estou estudando. Então é nesse momento que eu venho com as mecânicas. Algumas vezes as mecânicas vestem o tema muito bem, sem nenhuma dificuldade. Mas existem momentos que é necessário analisar todo o histórico do tema e as mecânicas para que elas se fundam de forma harmoniosa. O que eu tento não fazer é colocar todas as nuances históricas de um determinado período no jogo. Eu acho que é mais importante dar um pequeno gosto de como era aquele período de tempo do que similar tudo.
Por exemplo, no jogo Struggle of Empires, eu comecei desenvolvendo um jogo muito mais complexo do que sua versão final. Tinha um mecanismo de sistema econômico muito mais complexo que envolvia recursos e mercado. Eu havia incluído também personalidades históricas como Frederico o Grande. Contudo, eu pensei que a versão final do jogo era melhor apenas capturar parte dos principais marcos do período histórico. ’
Eu gosto bastante de saber como é o processo criativo desses designers. Martin Wallace tem jogos muito elegantes e diferentes cujo tema é bastante perceptivo. E o que acho mais legal é que as mecânicas estão bem trabalhadas para o tema em si. Posso citar o exemplo aqui de London, cujo jogo se passa em uma Londres após o grande incêndio de 1666 e onde havia um crescimento gigantesco da pobreza, sendo que no jogo, essa pobreza gera pontos negativos ao jogador. Será que tudo é invenção desse grande designer?
‘Eu não posso dizer que todas as minhas ideias de mecânicas são originais. Muitas das minhas ideias surgiram de mecanismos que outros designers utilizaram em seus jogos. Um exemplo é o jogo Tyros onde seus tiles de mapa foram inspirados por Sid Sackson.
Quando eu desenvolvo jogos eu tento pensar o que os jogadores querem experimentar. Após isso é que eu venho com as mecânicas do jogo, sempre pensando no tema que já foi escolhido. ‘
(Brass é um dos jogos mais conhecidos do Martin Wallace. Ano passado teve uma nova versão que deixou o jogo simplesmente lindo)
Martin Wallace é bastante conhecido por seus jogos complexos e que puxam bastante para um jogo econômico onde temos mercado, recursos, entregas e tantos outros pontos que fazem uma economia de um país ou cidade. Mas o mais engraçado é que o próprio Wallace não curte jogar jogos complexos. Isso porque quase todo o seu tempo é dedicado a criar jogos e, por isso, seu tempo livre, ele prefere jogar jogos mais rápidos e que consigam dar novas ideias de mecânicas. Inclusive ele gosta de falar que sua coleção é composta de jogos simples como Carcassone que o diverte de forma maravilhosa.
Caramba PaladinoMonge, e como é que esse cara consegue fazer jogos tão complexos se nem ao menos ele joga? Vamos deixar ele responder?
‘Quando falo que prefiro jogos simples eu não considero os meus próprios jogos. Eu jogo meus próprios jogos e sei o quanto eles são complexos. Mas como eu conheço bastante as regras envolvidas nele, eu não sinto dificuldades em jogá-los ou mesmo aprender suas regras, já que eu sou o criador’
Um ponto muito importante nesse processo de criação do Martin Wallace é com relação ao playtest que ele utiliza. Para ele, os jogos precisam ser testados por jogadores experientes que ficam felizes em jogar jogos que podem não funcionar e que precisam de ajustes, bem como que não tenham medo em falar verdadeiramente suas reações e o que não está funcionando no jogo.
(Automobile é um dos jogos do Wallace que mais tenho vontade de conhecer)
Talvez um dos seus jogos mais conhecidos e que teve uma nova versão lançada no ano passado via Kickstarter, é o Brass. Vamos saber como foi a criação desse jogo?
‘A ideia surgiu quando um amigo meu sugeriu que eu criasse um jogo econômico, já que eu estava criando muitos jogos de guerra. Eu escolhi o tema a partir do período que eu mais me interessava no local que eu havia vivido, Manchester. Para quem quer contar histórias, é muito bom você saber sobre o local que ocorrerá o relato. E isso pode ser usado também na criação de jogos. Então eu apliquei isso e como eu estudei história econômica na minha graduação, muito do material de estudo que fiz para criar o jogo já era familiar para mim. E assim, nasceu o Brass.’
Martin Wallace é bastante eclético quando se fala de jogos. Por acaso você sabia que ele desenvolveu um jogo no mundo criado de Terry Pratchet? Pois é, o jogo é o The Witches. Além dele podemos citar também o Hit Z Road, um jogo onde você faz uma viagem de carro pela famosa rota 66, mas em um mundo infestado por zumbis.
(E quem disse que os jogos do Martins não podem ser bonitos: Ships)
Um dos seus últimos lançamentos é o jogo Moa. Nesse jogo, Wallace fala dos eventos que cercam o assentamento da Nova Zelândia, mas reformulando com aves e mamíferos antropomorfizados. Os habitantes da ilha são representados por pássaros gigantes enquanto os colonos são representados por cães, ratos e doninhas.
Para finalizar uma curiosidade bem bacana: Wallace gosta de ficar na cama o maior tempo possível, até que sua esposa o expulse e o mande começar seu dia. Olha, me identifiquei com ele hein?
(o último lançamento do Martin Wallace: Moa. inclusive saiu no Brasil)
É isso galera. Espero que vocês tenham gostado desse artigo sobre Martin Wallace.
Alguns Jogos de Martin Wallace:
- Lords of Creation (1993)