AMarquezini::Boa noite, eu escuto o podcast de vocês desde o primeiro e acho que vocês estão evoluindo, parabéns por isso! Mas, infelizmente, eu preciso fazer uma crítica, eu acho que vocês são parciais demais quando se trata de euros, vocês passam a impressão de que odeiam jogos ameritrash, ou que os mesmos são inferiores por não possuírem um enfoque na mecânica. O conceito de diversão é muito amplo, alguns se divertem queimando a cabeça montando estratégias à longo prazo, outros curtem mais o desenrolar de uma aventura e não se frustram com a ocorrência de fatos inesperados... Eu curto os dois estilos e acho que não tem nada de errado em preferir um dos dois, mas talvez fosse melhor que vocês não passassem uma visão tão negativa dos jogos com enfoque temático. Abraço!
AMarquezini, fico muito feliz que tenhamos ouvintes que nos aturam deste nossa estréia.
Tento não ser professoral no programa, mas como vício de profissão, quando escrevo eu sou prolixo, então vamos lá...
Tendo a discordar, camarada. Não creio que sejamos parciais, muito embora em nenhum momento tenhamos nos comprometido com qualquer grau de imparcialidade já que nossas análises estão embasadas apenas em nossas experiências subjetivas no que toca ao programa. Na verdade, se entendi bem, talvez sejamos mais críticos à "classificação" ameritrash e, pior que ela a de jogos "temáticos" do BGG do que aos jogos classificados sob esta desigação. Explico-me: há toda uma polêmica, por parte dos americanos, que consideram pejorativo o termo "ameritrash" e por esse motivo o BGG criou a categoria de "temáticos"... mas basta ver os jogos classificados no top 100 dela para perceber que talvez ela não classifique lá grandes coisas e talvez esteja na hora de repensarmos essas categorias. O nosso provocativo título "Euros temáticos" foi justamente neste sentido. Mas para o próprio BGG não existem, igualmente "Euros", mas sim jogos de "estratégia". Sem entrar em maiores digressões, quanto às categorias, eu lhe responderia o seguinte, explicando de modo mais detalhado o que procurei comentar no programa: acredito que a designação "ameritrash" é, atualmente, anacrônica, ao menos considerando os jogos mais bem avaliados e criticados dos últimos 10 anos.
Um exemplo claro e direto que conheço bem: Arkham Horror (de 2005) foi o jogo que comentamos no último programa como sendo um dos que se propõe a ter um tema, mas que não funciona muito bem neste propósito. Eu tive ele com todas as suas expansões e devo ter jogado umas 15 vezes (o que me dá mais de 100 horas de Arkham Horror no currículo de boargamer

), mas em muitas ocasiões o que acontecia podia render muitas risadas, mas não fazia muito sentido tematicamente. O principal problema eram os atributos variáveis e os testes "surpresa", ao entrar em um local era impossível saber sobre o que seria o teste, na casa da bruxa poderia a porta podia fechar às suas costas e ser necessário usar combate... ou evasão para fugir de um monstro que aparecia subitamente (e se um estivesse alto, o outro estaria baixo pelo sistema do jogo) ou mesmo sorte (que servia meio que pra destreza e tudo o que não tivesse outra categoria). Além disso, como o sucesso era apenas 33,3333...% (2 faces no d6) não era incomum tentar se preparar para algo e rolar 4 ou 5 dados falhando miseravelmente, o que fazia com que as escolhas no jogo ficassem mais limitadas e, embora eu ainda goste muito do Arkham Horror, as implementações mais recentes como o Eldritch Horror e, sobretudo, o Card Game do Arkham Horror são imensamente superiores em termos temáticos (especialmente o último).
Claro que é possível se divertir jogando esses jogos, mas tenho a impressão de que houve uma mudança de sensibilidade entre os jogadores ao longo do tempo. Eu joguei Hero Quest, Descent, Imperial Assault (que ainda jogo, só tenho que convencer os rebeldes a encararem a campanha até o fim) e Conan (da Monolith). Digo-lhe que de todos o que eu mais gosto de jogar atualmente (sempre sou o Overlord) é o Conan e o jogo é aleatório pra caramba... mas há um elemento mecânico no uso das "gemas" que faz muito sentido tematicamente e mecanicamente também é muito interessante. Isso tornaria Conan um "euro", por haver uma administração de recursos? Dificilmente, mas mesmo do alto de suas dezenas de miniaturas, rolagens de dados para ataques e tudo o mais, a Monolith incorporou um elemento dos jogos de estilo Euro de modo temático.
Por ironia, se formos a fundo no tema e consultarmos o Eurogames (2012), do Stewart Woods, no excelente histórico que ele faz dos jogos deste estilo o irônico é que os europeus aprenderam com os americanos a fazer jogos deste tipo a partir de jogos lançados pela finada 3M nos anos 60... ou seja, este campo e, sobretudo, essas classificações são muito dinâmicas e temos que estar abertos a rever nossos conceitos.
Reitero, é claro que é perfeitamente possível se divertir jogando Munchkin (niguém discute que ele é Ameritrash!), passando 15 horas jogando Twilight Imperium 3 ou fritando o cérebro com o Vinhos, Dungeon Lords ou coisa parecida, todos concordamos quanto a isso. Mas eventualmente à medida que vamos conhecendo jogos diferentes, as percepções que temos sobre eles mudam, bem como de acordo com os grupos que jogamos.
Pessoalmente, gosto de jogos, não importa muito a categoria e pelo que conheço os camaradas do Carpeta sei que eles também pensam assim. Mas, obviamente, temos nossas preferências, críticas e manias e vamos continuar atormentando educadamente nossos ouvintes com elas por um bom tempo!
Abraço e até o próximo