Winston – Geologista – 14/11/2029 - SOL 1
Perdoem-me os que lerem estes registros, por mais estranho que pareçam, os relatos abaixo refletem a realidade vivida por meu grupo de astronautas composto por mim, Israel, médico; Mario, cientista e Lucas, engenheiro.
Havíamos acabado uma grande missão no dia anterior e MCEI nos passou uma nova, localizar e recuperar uma sonda, com as amostras que ela coletou. Eles a estavam controlando da Terra, mas uma interferência desconhecida causou a perda dos sinais da sonda. Resolvemos manter a programação de descanso realizando um torneio num antigo jogo de luta que o Mario tinha, sabíamos que precisaríamos estar em plena forma para cumprir essa missão em 7 SOL.
O estranho foi que assim que terminou a final, o sistema de som do HUB começou a tocar What a Wonderful World, versão de Louis Armstrong, o único problema é que todos estávamos na sala de jogos. Quando eu fui correndo para a sala de som verificar o ocorrido, acertei o mindinho na porta da sala de jogos e isso doeu pacas, mas chegando lá e fazendo checagem, nada estava errado e não tinha nenhum programa tocando a música, o pior, ninguém tinha uma cópia da versão original. Eu estranhei, mas até então não dei muita atenção para o problema.
Enquanto eu checava o sistema de som, o Mario, com ajuda do Israel analisava as imagens das áreas ao redor do HUB para eliminar locais que sabíamos que a sonda não tinha passado, enquanto ele fazia isso, ele utilizou um algoritmo que tinha desenvolvido em sua tese, e acabou comprovando a eficácia de sua própria teoria, claro que ele ficou muito empolgado com isso, fora que ele havia ganho o torneio de vídeo game.
Já o Lucas foi consertar a garagem que ainda estava com problemas da missão anterior. Ele é um bom engenheiro, o problema é que ele às vezes é muito proativo, enquanto consertava os sistemas da garagem ele identificou um subsistema que comunicava com a oficina e achou que o MCEI tinha exagerado nos componentes, então resolveu retirar algumas peças “extras”, pois talvez precisaríamos no futuro. Infelizmente para nós, ele estava errado dessa vez e isso causou problemas no PC da oficina, a quebra da porta da garagem, que ele havia acabado de consertar, e passamos a ter mau funcionamento nos blocos de trabalho e residencial, como já estávamos com problemas no bloco de sistema, tínhamos um início de missão fantástico.
Winston – Geologista – 15/11/2029 - SOL 2
O segundo SOL não começou bem, Israel captou novos sinais da sonda, mas ele estava meio alterado, quando eu e o Lucas fomos conversar com ele, ele teve uma crise falando que tinha algo a mais no meio do sinal, que ele não sabia explicar e que ia descansar um pouco, o problema é que ele saiu empurrando eu o Lucas e acabamos os três se machucando. Nunca imaginei que a derrota no torneio de ontem o chatearia tanto, bem, ao menos foi isso que eu pensei na hora, mas eu não sabia nada do que realmente estava acontecendo.
O Israel resolveu se redimir do ocorrido e resolveu analisar os sinais recebidos quebrando-os em pequenas partes para ter certeza que não tinha nada demais neles, quando estava convencido que o que tinha imaginado coisas foi ajudar o Mario fazer uma análise minuciosa, passo-a-passo, de sinais no R2 e R3, infelizmente ele não conseguiu identificar nenhum problema no R3, mas descobriu que o outro sinal analisado tinha vindo do R2-O e não R2-SO como pensávamos inicialmente. Estranhamente, o Mario acabou se machucando enquanto fazia as análises, ele sequer sabe como isso aconteceu, só foi perceber no final do dia.
Eu tinha certa experiência com análises de erros e inconsistências em padrões de dados e resolvi dar uma olhada nos dados da sonda, acabei identificando algumas irregularidades e descobrindo que a sonda tinha emitido sinais no R1-O, o que fazia mais sentindo que os sinais em R2-L e R3-L. Aliás o padrão desses sinais era algo que eu nunca tinha visto antes, não é possível que algo feito na Terra, emitissem sinais naquele padrão, devia ser um problema com o receptor, ao menos foi o que pensei na hora.
O Lucas teve sua revanche com a garagem e dessa vez, não teve problemas em consertá-la. Infelizmente o mau funcionamento dos sistemas causou problemas na baia das sondas e no software da fazenda, isso está começando a acumular demais.
Winston – Geologista – 16/11/2029 - SOL 3
No começo do SOL 3, o Lucas fez uma descoberta que finalmente alertou a todos de que algo anormal estava acontecendo. Ele pegou um padrão em baixa frequência que dizia: “estamos vendo vocês”, o MCEI achou que ele estava imaginando coisas, mas todos os dados que tínhamos de sinais para analisar sumiram, era impossível fazer análises de erro ou análises passo-a-passo como pretendíamos, e estávamos tão perto de localizar a sonda, bastava confirmar mais um sinal que teríamos o caminho completo. Infelizmente o último sinal que recebemos apontava novamente para R3-L, mas não tem como ter nada nessa região, o acesso é simplesmente impossível, fora que era de lá que veio aquele sinal com padrão estranho que eu tinha identificado no dia anterior.
Após muita discussão do que fazer agora que nossos planos foram destruídos devido a esse evento misterioso, resolvi sair com o froggy para explorar R1-O, quando voltasse veria o que povo decidiu fazer. Encontrei uma área com gêiseres, bem perigosa, passar por aqui sem se machucar seria complicado, mas eu poderia achar um caminho seguro para atravessá-la se eu me esforçasse bastante, coisa que por hora não tenho como fazer.
Ao voltar descobri que o Lucas fez uma conferência com o MCEI sobre o sinal que ele identificou, resumindo o resultado, eles acharam que ele estava imaginando coisas e ele achou que estavam escondendo algo de nós. Para ver se ele se distraia um pouco, pedi ajuda dele para explorarmos o R1-N com o scorpio, acabamos encontrando um desfiladeiro com várias cavernas interessantes, e voltando com uma amostra de uma das rochas destas cavernas, para nossa surpresa, visualizamos uma das caixas que tinham amostras colhidas pela sonda. Voltaríamos outro dia para pegá-las, senão ficaria tarde demais para voltar para o HUB.
Ao chegarmos, o Israel e o Mario estavam desiludidos, o Mario estava tão mal que não paravam de falar dos filhos na Terra, saudades uma hora dessas não ajudaria. Passaram o dia fazendo rádio monitoramento e tudo que conseguiram captar foram sinais no R3-L e R3-NE, e o pior, naquele padrão estranho. A sonda não emitiria sinal no próximo SOL, ela não tinha energia para isso, só conseguimos rastrear com certeza 6 sinais, isso não era suficiente, precisávamos de mais um sinal que fizesse parte de um caminho lógico que a sonda pudesse ter feito sozinha e não teríamos isso. Não teríamos como ter sucesso, mas ao menos continuaríamos para tentar recolher as amostras da sonda.
A amostra que trouxe, animou um pouco o Mario, mas acho que nós ficamos mais empolgados que ele, sempre é assim quando ele resolve falar de amostra que coletamos, mesmo que não as usarmos para pesquisa e descobertas.
Winston – Geologista – 17/11/2029 - SOL 4
Eu já não podia negar tantas evidências, os sinais eram estranhos demais, aleatórios demais para terem sido enviados por qualquer equipamento no MCEI. Para piorar detectei novos sinais da sonda, só que a ela não teria como enviar novos sinais desde ontem, e esses sinais apesar de parecerem normais, eles eram estranhos, algo que não dá para explicar, apenas alguém experiente e acostumado com esse tipo de trabalho poderia identificar, era como se a fonte dos sinais fizesse ele parecer enviados pela sonda, mesmo não sendo. Essa notícia deixou todo mundo bem abalado, tenho certeza que haveria habilidades que não teríamos mais segurança de usar.
A aleatoriedade dos sinais recebidos dificultaria qualquer tentativa de pesquisa nos próximos dias, mas ao menos eu e o Mario estávamos fazendo nosso truque favorito, eu arrumava algumas amostras sem que ninguém soubesse de onde eu as tirava e ele fazia análises e discursos sobre elas, isso sempre aumentava a moral do Israel e do Lucas, e eu me divertia com isso, mas o Mario sabia que isso era apenas um ato para animar os demais.
Lucas e Israel ficaram no HUB fazendo fazer leituras adicionais dos sinais que eu detectei pela manhã, enquanto eu e o Mario saímos para explorar R2-O com o froggy e depois coletar a amostra da sonda com o scorpio. Como eu já imaginava acabei me machucando enquanto dirigia através gêiseres mas descobrirmos uma planície depois deles e localizamos outra caixa de amostras deixada pela sonda perdida.
Na volta eu já identifiquei um caminho seguro pelos gêiseres, na próxima vez que alguém passasse por ali não teria problemas com eles. Coletamos a amostra da sonda sem problemas e quando voltamos para o HUB vimos o Israel e o Lucas retornando de uma exploração externa. Ao chegarmos, eles nos explicaram que, após analisar as leituras, confirmaram a passagem da sonda pelo R2-O onde tínhamos ido, com isso tínhamos certeza que ela estaria no R3-O. Assim eles exploraram R1-NO com esperanças de encontrar alguma caixa de amostras da sonda e acabaram localizando uma na região cheia de crateras, onde também acharam uma coletânea completa da trilha sonora da série Star Skirmishes em funcionamento, ter música nova durante o jantar ajudou a aliviar um pouco do estresse, que já estava alto.
Enquanto o Lucas explicava como consertou o software da fazenda no improviso e como faria o mesmo com o oxigenador 01 amanhã, tivemos uma queda de energia o que nos forçaria a desligar o centro de comando e tivemos problemas nos quartos da tripulação o que afetou a moral. Ao menos o Israel pôs a quiropraxia dele em prática para “ajustar” as minhas costas que estavam doendo muito.
Winston – Geologista – 18/11/2029 - SOL 5
Amanhecemos ao som de vários “click clack” por todo o HUB, não sabíamos de onde vinha esse barulho e ele estava por toda a parte, com os nervos à flor da pele, isso foi a gota d’água para uma briga generalizada.
O Israel fez primeiro socorros em si e o Lucas parecia o mais abalado por tudo que estava ocorrendo, decidimos deixá-lo sozinho descansando no HUB e enquanto isso fomos explorar o R3-O e pegar a amostra do R2-O, já que não queríamos correr o risco de danificar o scorpio nas crateras do R1-NO. Acabou que o Lucas improvisou um acerto no software do oxigenador 01 como prometido e, depois de descansar um pouco, ficou jogando vídeo game até voltarmos. Pelo que ele nos contou quando voltamos, o “click clack” parou do nada enquanto ele descansava.
Eu dirigi o froggy até R3-O onde encontramos a sonda no meio de uma desolação, teríamos que resgatá-la amanhã se estiver tudo bem e na volta, com o Israel no volante do scorpio, recolhemos a última amostra colhida pela sonda que precisávamos.
A noite não tivemos novos problemas, as coisas pareciam ter melhorado.
Winston – Geologista – 19/11/2029 - SOL 6
Depois de tudo acho que alguns tiveram pesadelos, outros não conseguiram dormir, mas pela manhã ninguém queria me acompanhar para buscar a sonda, para falar a verdade, nem eu queria deixar o HUB, todos estavam com medo.
O Israel fez um discurso motivacional para tentar melhorar os ânimos, mas quando ele sem querer citou que todos os sinais estranhos que tínhamos detectado vieram do Leste o Mario prontamente se voluntariou para me auxiliar na missão de recolher a sonda no R3-O, exatamente no lado oposto dos sinais.
Deixamos o Lucas acertando o problema no software da oficina, aquele defeito que ele causou lá no começo da missão para conseguir umas peças sobressalentes adicionais, peças essas que nunca usamos na missão. O resto do dia ele tentou sem sucesso consertar o problema da produção do painel solar 01 para religarmos o centro de comando, mas ele não teve sucesso.
Por algum motivo o dia estava muito frio, muito mais frio que o normal, eu sou friorento, mas o Mario não, e ele tremia mesmo dentro da proteção da EMU. Quando mais próximos da sonda chegávamos mais frio vazia, ao chegarmos coletamos o mais rápido possível e voltamos ao HUB, mas o frio parecia nos acompanhar como se viesse da sonda, mas as leituras de temperatura da mesma estavam normais.
A noite tivemos um problema no laboratório, mas nada relevante, com todos os sistemas verdes, contatamos o MCEI para avisar do sucesso da missão. Pelo visto as amostras coletadas pela sonda tinham algumas evidências de vida baseada em silício que estávamos procurando, os dados foram mandados para a Terra e fomos muito elogiados. Apesar de tudo essa missão terminou com sucesso.
Winston – Geologista – xx/11/2029 - Epílogo
“Apesar de tudo essa missão terminou com sucesso”, essas últimas palavras que escrevi no diário de nossa última missão não podiam estar mais equivocadas, a missão poderia ter terminado para o MCEI, mas não para nós. No dia seguinte acordamos sem sinal com o MCEI, aliás os três acordaram, pois eu não consegui dormir por causa do frio. Fiquei vendo vídeo com fones de ouvido e tomando café quente a noite toda para ver se eu aguentava o frio.
Mario me perguntou se tinha ouvido algo estranho a noite, mas disse que não, provável que o fone de ouvido não deixou, o isolamento acústico dos meus fones era excelente, mas também não explicou o porquê da pergunta.
Como não tínhamos contato com o MCEI mas ainda tínhamos sinais vindo do R3-L, eles resolveram ir investigar e saíram com o scorpio e o froggy, como eu não tinha dormido, achamos melhor em eu ficar no HUB caso recuperássemos contato com o MCEI. Após eles saírem percebi que o HUB foi esquentando aos poucos, consertei o problema do painel solar 01 e fui dormir um pouco. Quando acordei eles não tinham voltado e isso já faz vários dias.
Os sistemas do HUB estão funcionando perfeitamente, exceto pelo sistema de datas e a comunicação com o MCEI, apesar disso esses devem ser meus últimos registros. Tenho rastreado e analisado os sinais recebidos pelo HUB nos últimos dias, e percebi que aquele padrão estranho, que apelidei de Coldnoise, estava cada vez mais perto do HUB, e quando ele coincidiu com os sinais emitidos pelo froggy e pelo scorpio, parei de receber estes últimos.
A fonte do Coldnoise deve chegar ao HUB amanhã, eu não estarei aqui para descobrir o que é, fiz meus preparativos, para observar o HUB a distância e é o que devo fazer, caso alguém leia esse diário, use minha “senha pública número dois” para abrir o anexo abaixo, nele está a minha localização, todos os astronautas desta missão conhece essa senha. Só espero que a fonte do Coldnoise não a conheça.
