Por Rodrigo Rego
Então finalmente seu jogo está pronto. Mecânicas inovadoras, tema redondo, todo mundo que joga se diverte. Chegou a hora de colocá-lo no mercado! Só um pequeno problema. Você não conhece ninguém nas editoras. Não tem trânsito com nenhum DBGN. Financiamento coletivo? Nem por cima do seu cadáver, imagina ter que ser simpático e mendigar apoio no Facebook?
Introvertidos do mundo, há um caminho! Concursos de game design. Muitos, muitos jogos conhecidos viram a luz do dia por terem sido premiados em concursos.
Concursos fazem a ponte entre designers desconhecidos e editoras, que buscam os finalistas como uma forma de poupar tempo e esforço, pois a chance de encontrar um bom jogo entre os que já passaram pela triagem de um concurso é bem maior do que entre dezenas de protótipos não-solicitados.
Veja quais são os concursos que mais ajudam as suas chances de publicação:
Concours de Boulogne-Billancourt
O mais tradicional dos concursos de game design. Ele é organizado pelo CNJeu, uma ludoteca nos arredores de Paris.
O concurso é anual, abrindo as inscrições no início de janeiro e fechando quando chega ao centésimo jogo inscrito (o que costuma acontecer bem rápido). Na primeira fase, basta enviar as regras. A partir da leitura das regras, 30 jogos passam para a segunda fase, na qual é preciso enviar um protótipo para o concurso. Desses 30, 10 são escolhidos como finalistas.
Os finalistas são apresentados a várias editoras francesas, como a Space Cowboys, Ystari, Asmodée e Days of Wonder, e podem ser "assinados" antes mesmo da final. A final acontece no CREA Games, um festival que acontece durante um fim de semana de setembro, e no qual cada finalista ganha uma mesa para demonstração. Nela você demonstra seu jogo para editoras, blogueiros e o público em geral. Nenhum jogo fica um minuto parado.
Entre os 10 finalistas, 4 são eleitos vencedores, mas o prêmio é o de menos: o mais importante é começar o contato com editoras estrangeiras. Mesmo que seu jogo não interesse a nenhuma, os organizadores do concurso continuam promovendo, inclusive levando-o a Essen, onde ele é mostrado para outras editoras.
Entre os jogos publicados que passaram por Boulogne-Billancourt estão: Quadropolis, Tokaido, Bruxelles 1893, River Dragons, Formula D, Yspahan e até Vineta, do brasileiro Fabiano Onça, que já ganhou duas vezes.
Mas será que seu jogo faz o estilo do concurso? Não necessariamente. Ele reflete o mercado francês, tendendo a premiar jogos familiares, com potencial para ser visualmente cativantes e com mecânica inovadora. Jogos pesados não são a tônica do concurso, mas assim como card games, podem ser premiados também.
Esse é o concurso favorito da Mansão. Todo ano mandamos ao menos um jogo para lá. Foi com ele que o meu jogo Palmares, finalista no ano passado, encontrou uma casa na editora Catch Up Games, e deve ser publicado em 2017.
Hippodice
Hippodice é um clube de jogos localizado em uma pequena cidade alemã, que em 1989 criou um concurso para jogos de tabuleiro não-publicados. O Hippodice tem um foco muito maior em gamer's games do que Boulogne-Billancourt, o que dá pra ver por alguns dos seus premiados: Mombasa, Hansa Teutonica, Yunnan, Dilluvia Project, Planet Steam. Mas também premia jogos leves, nenhum concurso é monolítico.
Assim como Boulogne-Billancourt, a intenção do Hippodice é colocar designers e editoras em contato. Eles tratam os jogos finalistas como "recomendações" para editoras. O júri é todo composto por representantes de editoras alemãs, como Ravensburger, Eggetspiele, Pegasus Spiele, Kosmos e outras.
As inscrições são entre julho e outubro. O processo é semelhante a Boulogne-Billancourt: na primeira fase, só é necessário mandar as regras. Os jogos que passarem para a segunda fase demandam o envio de um protótipo. Dentre eles, são escolhidos os finalistas, e por fim, os 3 vencedores.
Premio Archimede
Um concurso italiano organizado pela Studiogiochi, empresa que agencia, testa e desenvolve jogos, encabeçada por Leo Colovini, talvez o mais reconhecido autor italiano. (Cartagena, alguém?)
O concurso acontece de 2 em 2 anos, e foca em jogos familiares. Alguns dos premiados que foram publicados incluem Cacao, Imhotep, Egizia, Sator Arepo Tenet Rotas e também Voyages of Marco Polo (que prova que assim como os demais concursos, esse foco é só uma direção. Jogos mais pesados também podem ser premiados).
Por ser organizado por uma empresa, o Archimede é ainda mais explícito em seu objetivo de conectar designers e editoras. Os contatos principais são com editoras italianas e alemãs, incluindo a Hans im Glück, Kosmos, Abacus Spiele e outras.
O concurso diz ter recebido 164 jogos na última edição, dos quais, seguindo processo semelhante ao dos outros concursos, 50% são pré-selecionados e 10% são considerados finalistas, sendo expostos a diversas editoras. A grande vantagem do Archimede é a premiação: o vencedor, o segundo e o terceiro lugares podem receber até 3500 euros.
Já a desvantagem é que, ao participar do concurso, você cede à Studiogiochi o direito de "recusar primeiro" até 2020, ou seja, para mostrar para outras editoras, você primeiro precisa da negativa da empresa.
As inscrições costumam ser em maio, e a premiação, em outubro. Mas agora, só em 2018.
Ion Awards
O Ion Awards é organizado pela SaltCon, uma conferência de jogos de tabuleiro em Salt Lake City, nos EUA. Sue objetivo explícito também é colocar editoras e designers em contato. Os contatos do Ion são com as editoras indie americanas, como Red Raven, Crash Games e Mayday Games.
Para participar, é preciso enviar as regras até dia 1o de janeiro de cada ano. É possível ainda enviar um video-pitch.
O melhor do Ion é que, classificado ou não para a fase seguinte, todo jogo recebe um formulário com feedback do júri, que é composto por membros de empresas. Cada uma dá uma nota e pode tecer um comentário sobre o jogo, então mesmo que você não se classifique, recebe um feedback para orientá-lo a melhorar.
Se alguma empresa se interessar pelo seu jogo depois de avaliá-lo, vai entrar em contato diretamente com você.
Protótipos em jogo
Concurso brasileiro que teve 2 edições esse ano, feito pela loja carioca Game of Boards e do canal Aftermatch Ele segue a proposta dos melhores concursos gringos, com foco em colocar designers e editoras em contato.
A periodicidade a partir de agora provavelmente será anual ou semestral. Para saber quando será o próximo, fique atento à fanpage da Game of Boards no Facebook, eles divulgam com bastante antecedência.
Na última edição, o concurso tinha 2 fases: na primeira, era preciso mandar o manual e um video explicativo do jogo. Os selecionados iam para a final, em que 12 jogos disputavam os 3 primeiros lugares, sendo jogados ao mesmo tempo pelo público, e pelo júri composto por designers e editoras como Galápagos, Redbox e Conclave.
Na primeira edição, venceu o Triax, do Swami Guimarães, e na segunda, o Cangaço, do Sanderson Virgolino. Nós da Mansão participamos das 2 edições e fomos premiados também: meu jogo Maracanã ficou em 2o lugar na 1a edição, e o Ziriguidum do Leandro Pires foi o 3o. Na segunda edição, meu jogo Dead & Breakfast ficou em 2o lugar.
O concurso é uma iniciativa incrível, que ajuda no contato com editoras e coloca um holofote nos vencedores. Torço para que saia do gueto carioca e comece a chamar a atenção de designers de outros estados, cuja presença na última edição ainda foi modesta.
Estes concursos são os mais tradicionais e os que mais ajudam a encontrar editoras. Mas não faltam concursos com bom histórico de publicação entre os premiados:
Epitrapezio - Concurso de jogos grego
Granoliers - Concurso de jogos espanhol
Nordic Game Jam - Concurso dinamarquês, também para jogos digitais
Criar um jogo é só a primeira parte do caminho. Se você não sabe o que fazer agora, participar de um concurso pode ser um excelente veículo para ter seu jogo publicado.
