Entendo a indignação desse rapaz do vídeo, (mas não fico comovido), mas a fala do mesmo, sem querer adjetiva-lo de uma forma que o descaracterize é um discurso extremamente leigo. Então me sinto a vontade de pronunciar uma outra fala (e por claras questões de formação e atuação profissional). Concordo quando, no dia a dia, dizemos que temos uma alta carga tributária, sim é verdade, porém em relação a quais outros países? E outra, em quais os setores que afeta essa carga tributária, em quais setores da economia ela atinge e qual a finalidade do imposto para o Estado? Esse ponto deve ser bem discutido se quiser fazer uma análise séria sobre o tema. Um ponto que sempre gosto de pontuar é que: a carga tributária do Brasil (falando em termos gerais) é menor do que países como a Noruega, Suíça, Uruguai, Alemanha. Países como Noruega ou Suíça chegam ter em torno de 60% de impostos incidido sobre o rendimento do trabalhador, ou seja, se no Brasil, dos 12 meses que trabalhamos, 4 é apenas para pagar imposto, nesses países essa proporção varia entre 5 a 6 meses e meio. A diferença central está no retorno para a população em serviços, no qual o Brasil se pratica descaradamente, o estado mínimo, ou seja, tudo é terceirizado para iniciativa privada. Se por acaso queremos laser então vamos ao clube, uma escola de “boa qualidade” tem que ser particular (as aspas é porque escola de boa qualidade é algo muito complicado de se discutir na área de educação), segurança boa é segurança privada, acho que uma das poucas coisas que salva nesse sentido são as universidades públicas, onde realmente, tem uma formação mais completa que a iniciativa privada (ou pelo menos na maioria das vezes, é só comprar o quadro docente de mestres e doutores e sentiremos a diferença). Nesses outros países, ainda não tem o nível de estado mínimo que temos aqui e os serviços são muito melhores. Outro ponto: a capacidade de consumo de nossa população em geral é inferior a maioria desses países, não podemos dizer que temos trabalho (no seu conceito mais radical), pois ainda nem saímos da fase do Labor (ou seja, nossos “trabalhos” são muito mais laboriosos, sofridos e de castração física e intelectual) e o que uma boa parte da população “ganha” não serve apenas para sobreviver e a outra parte serve para “aguentar”. Nesse sentido, a nossa carga tributária atinge principalmente aos serviços e produtos que atingem principalmente a classe média (são eles que têm melhores condições de paga-las) e a classe média consome isso ai que todos nós gostamos, determinados tipos de laser, produtos importados, etc. Sabe o que é pior? É que a tendência é ter aumento de carga tributária. Porque? Simples, o nosso modo de vida urbano e concentrado no serviço não se suporta mais com a nossa carga tributária, ou seja, ela está se tornando insuficiente para manter nosso modo de vida (infraestrutura , tecnologia, educação, segurança, energia, abastecimento de agua), o que um bairro paga de imposto em água e energia é muito inferior do que o estado precisa gastar para manter essa agua e energia (por isso os incentivos à indústria, pois são elas (infelizmente, gostaria que fosse os pequenos comerciantes) que possuem capital para gerar essas despesas do próprio estado. O buraco é um pouco mais profundo do que aparenta, e a Nintendo não está saindo do país pela carga tributária, está saindo porque não esta tendo lucro que justifique a sua permanência, se tivesse altos índices de lucro ficaria, independente de imposto cobrado. Bem termino por aqui, críticas são bem vindas, respeitosamente a todos Leandro.