professor::Com toda sinceridade eu não entendi o adjetivo "datado". Todas as mecânicas / mecanismos que HQ possui são utilizados até hoje pelos jogos que supostamente deveriam fazer melhor do que HQ fez. Infelizmente esses jogos, apesar de trazerem um visual atualizado não superam HQ em nada. A menos que estejamos fazendo de qualidade de produção: tipo de papelão, detalhe de miniaturas, dados gravados, plástico mais durável, etc.
Tenho alguns pontos a considerar:
1) Linearidade das buscas (aventuras): Todo bom Mestre / Overlord deve te no mínimo dedicado algum tempo a estudar a aventura antes da sessão de jogo. E isso não é chato, muito pelo contrário: é divertido. No final do livro de Buscas existe uma folha em branco para que o Overlord /Zagor crie suas próprias aventuras. Cabe ao Overlord criar a novas aventuras para que o jogo aconteça sempre de uma forma diferente.
2) O Overlord não é inimigo dos jogadores. Eles estão contando uma história juntos. A diferença do HQ para um RPG nesse sentido é que em HQ é mais difícil para o Mestre "roubar" em favor dos jogadores. Existe a posssibilidade inclusive do Overlord ter um personagem SEU no grupo dos jogadores.
Uma vez resolvi jogar junto com os jogadores ao mesmo tempo em que eu era o Overlord. O que gerou uma desconfiança de que aquele NPC seria possivelmente um traidor. Foi uma experiência muito interessante para mim e para os jogadores que me deixaram à morte para depois descobrirem que meu personagem estava sendo sincero durante todo o tempo. Claro que depois disso peguei o gancho e um outro personagem apareceu em uma aventura futura para vingar o irmão morto...
3) Desafio em Niveis mais altos: Poder de combate em HQ não significa necessariamente sucesso. O jogo é baseado em dados e a sorte faz um excelente trabalho aqui. É possível que um guerreiro muito bem armado perca pontos de saúde importantes para um mísero góblin e que lhe custarão a vida durante o restante da aventura. Se o grupo está poderoso demais, cabe ao Overlord criar aventuras para dar o desafio necessário ao grupo. Se o grupo está muito forte, que tal aposentá-los e criar seus próprios personagens? Ou partir para as expansões?
4) Sempre ouço o argumento de que HQ é pura Nostalgia. Mas isso é uma falácia que é normalmente dita por quem carece de argumentos sobre o jogo. Dentro do estilo de Dungeon Crawler se existe uma coisa mais atual do que OLD SCHOOL RENAISSANCE, eu gostaria que alguém me apontasse.
Tirando esses pontos, eu sempre aprecio quando esse jogo magnifico é mencionado. O texto está muito bem escrito e as fotografias como de costume, impecáveis. Parabéns.
Hehe... Seja bem vindo Professor! Muito obrigado pelo elogio e por trazer um debate bacana que ajudar a refletir sobre as nossas visões deste jogo. É sempre muito interessante a forma como argumenta seus pontos de vista. Nos ajuda a forjar mentalmente conclusões relevantes sobre o tema. Hehehe. Então vamos lá....
Com relação ao termo datado, na minha opinião Heroquest tem características pertencentes da época de seu lançamento, que não são adotadas em nenhum jogo atualmente. Isto não faz que ele deixe de ser um jogaço! Mas em termos de produção do tabuleiro, manual, cartas, minis e dados, temos um jogo datado mesmo. Em relação as regras, existem sistemas atualmente bem mais refinados, inteligentes para movimento, combate e gestão de saúde, equipamentos e atributos. Datado, pelo menos na minha opinião, não significa desmerecido. Mas sim que houvesse reprint dele, certamente muitos pontos seriam atualizados. Hoje ele não seria mais vendável como lançamento, mesmo sendo um jogo excepcional.
No que se refere ao termo nostalgia, creio que houve uma interpretação errada, talvez da sua parte. Quando digo nostalgia, não significa que me refiro a algo ultrapassado, desvalorizado ou velho. Heroquest foi um jogo de sucesso muito grande aqui no Brasil nos anos 90, e muita gente de 30-45 anos jogou ele até detonar a caixa em sua infância ou juventude. A nostalgia ao qual me refiro vem das boas lembranças do passado, de ter um gatilho que lembre dos bons momentos com a família ou amigos, de uma época dourada na nossa vida. É como ir a uma cafeteria, e ao sentir o cheiro de um bolo de fubá quentinho, lembrar das férias na casa da vovó, das brincadeiras com os primos a muito tempo separados pelas responsabilidades da vida, de correr descalço e gritando com a adrenalina a mil sem nem saber o porque. A nostalgia é capaz de despertar em nós memórias valiosas e nos dá a capacidade de reviver pequenos momentos felizes de nosso passado. Quando a galera falar de Heroquest e nostalgia, fique mais atento ao sinais de exclamação... tenho certeza que se estivessem falando pessoalmente, você seria capaz de ouvir o suspiro e notar a marca de um sorriso no canto dos lábios de quem falou. Não é com intenção pejorativa. Se alguém assim o fez, não tem estas experiências para recordar, e aí sim, realmente, o faz por falta de argumentos e de conhecer o real poder desta palavra.
Por sinal, gostei bastante das suas considerações sobre a linearidade, níveis de dificuldade e do papel do Overlord... estou de acordo com você em seus apontamentos.
Grande abraço, e muito obrigado mais uma vez.