O mais imersivo e punitivo da coleção.
Já vi gente falando que ele é depressivo... quer ser feliz vai jogar little poney e não avalia mal o jogo por isso... fim.
O jogo vende a ideia de você gerenciar sobreviventes comuns, como um mecânico e um professor de matemática, durante a Guerra da Bósnia, baseado em fatos reais. Se não consegue aproveitar o jogo que de cara disse que você está ferrado e que vai fazer de tudo para sua vida ser um verdadeiro inferno, pelo menos não faça avaliações ou dê nota baixa por isso, é um jogo depressivo se você quiser considerá-lo assim e ponto final.
Compramos o jogo de olhos fechados, pois meu esposo já havia jogado diversas vezes na Steam e sempre fazia elogios. É um jogo sombrio, maldoso, punitivo e realista. E os caras conseguiram transmitir isso para um board game com louvor e algumas críticas rs. Uma pena termos descoberto muito depois do Kickstarter, pois teríamos feito um All-in de muito bom grado, ainda com toda a reclamação da empresa até hoje estar devendo jogo para algumas pessoas. Os móveis em 3D viraram uma verdadeira lenda urbana, quem tem não quer vender e os poucos que surgiram vendendo estavam cobrando pelos itens e pela sua alma (que monetariamente custava a bagatela de $400 só os móveis rs).
Compramos o jogo importado, pois imaginávamos que nenhuma editora ousaria fazer a versão nacional. Os caras mal traduzem as cartas direito, imagina um LIVRO de histórias! Tanto que assim que meu esposo comprou fez a tradução do livro inteiro pra quando fosse jogar com pessoas que não sabem inglês com tanta facilidade, como eu. Na época ele até ofereceu disponibilizar para a editora a tradução, que só precisaria de uma revisão (para ver o quanto ele gosta do jogo rs), e a editora revelou que já tinha planos de uma versão em português.
Bom... quanto ao jogo em si, com toda certeza é o mais punitivo que temos. Que Food Chain Magnate nada, a tensão de sobreviver nesse jogo é bizarra de difícil. Ele te joga numa situação extremamente insustentável, pois os recursos são todos escassos.
Durante o dia suas ações são limitadas proporcionalmente à saúde dos sobreviventes, que vão buscar de todas as formas se auto-ferrarem com seus vícios e empatia. Depois disso, durante a noite, há uma oportunidade de tentar buscar novos recursos, principalmente tudo, rsrs porque na guerra tudo pode ser usado para alguma finalidade de sobrevivência, mas isso não significa que será fácil, pois existe a possibilidade de encontrar outros sobreviventes, marginais e os próprios soldados. Caso consiga sobreviver, antes de voltar para seu abrigo, há a possibilidade (enorme, por sinal) de que na sua ausência outras pessoas também saíram de suas casas e escolheram o seu abrigo para invadir, fazendo com que parte dos seus recursos sejam roubados, na melhor das hipóteses, pois eles ainda podem atacar os sobreviventes que ficaram de guarda e causar um prejuízo maior ainda.
Mas não acaba nisso, após voltar para seu abrigo com recursos novos e saber que roubaram os recursos que já havia acumulado de dias anteriores, ainda será necessário analisar o destino, que pode indicar que um ferimento se agravou ou que aquela tosse virou uma verdadeira doença incapacitando ainda mais seu sobrevivente e, consequentemente, impactará as suas ações na manhã seguinte, virando um verdadeiro ciclo de merda realista.
O jogo foi projetado para que você não complete a missão de sobreviver e esteja pronto, pois ele faz isso de uma forma belíssima.
[ALERTA DE SPOILER] Durante todo o jogo, você terá a oportunidade de ler alguns trechos de histórias dos seus sobreviventes, o que causa uma imersão ainda maior ao conhecer mais daquele personagem, como também histórias que surgem no seu dia a dia, desde encontrar uma criança morta até encontrar um padre, ser abençoado e em seguida ser assaltado por ele. Se isso não for imersão no jogo, não sei o que é. Os textos são incríveis demais. [FIM DE SPOILER]
Agora vamos às críticas: Assim como no Eldritch, esses jogos sofrem do mal de que se jogamos demais, começamos a gravar as cartas, mesmo que inconscientemente e isso é horrível, pois começa a perder a graça da imersão, principalmente se alguém do grupo ler rapidamente ou pular porque já sabe o que vai acontecer. Gostaria de ver, assim no Eldritch, uma variedade maior de cartas. Não digo de histórias, pois o livro sozinho é simplesmente infinito, você tem uma probabilidade mínima de olhar a mesma história novamente e mesmo que veja, será numa situação completamente diferente e você terá a opção de buscar outra alternativa.
Mas digo em relação as cartas de exploração, destino, missões, ataques noturnos e, principalmente, as cartas iniciais do abrigo. No começo é legal escavar aquele entulho na esperança de que vai ter algo já ali, mas depois que você descobre que todos entulhos no versão são entulhos remanescentes, perde aquele encanto da imersão.
Outro fato negativo é o "manual", que é uma verdadeira porcaria. Como se não bastasse eles colocaram algumas FAQ's dentro do livro em posições distantes ao invés de juntar tudo no início ou final do livro, ou simplesmente fazer a porcaria de um manual e o "jornal" ser um player aid de qualidade. Não está bem escrito e algumas coisas te deixam na dúvida, mas não há onde consultar uma informação mais detalhada, você tem que se virar.
Além disso, a mecânica de combate é tão simplória que chega a ser sem graça alguma, sendo a única coisa do jogo que não te transmite nenhuma imersão. Até a rolagem de dados do Zombicide é mais emocionante do que aqui. Poderiam ter trabalhado um pouco mais nessa parte, pois você pode gerenciar lindamente os recursos e a saúde dos personagens, fazer as melhores decisões (como se houvessem) e do nada surge a porcaria de um vagabundo e te mata no dado sem você poder fazer nada de diferente e fim, é brochante porque todo o resto tem um contexto, até o fato de você ir até o lado de fora do abrigo em busca de visitante/sobrevivente e poder tomar um tiro do sniper tem um contexto, mas o sistema de combate não.
Por fim, criaram o jogo com uma mecânica em que a cada momento alguém seria o "líder" das decisões, como forma de eliminar o Alpha Player do jogo cooperativo. Bom, primeiro que isso foi uma puta desculpa para vender o jogo como cooperativo, porque ele é um jogo solo, ponto final. Segundo que ele não elimina em nada o Alpha e com o decorrer do tempo enche o saco ficar passando o "manual" de mão em mão, pois as decisões são feitas em conjunto.
Normalmente aqui em casa o Alpha dos cooperativos é meu esposo, por mais que ele tente não ser, mas algumas pessoas acabam esperando a decisão dele por ele já ter o jogo e ter jogado mais vezes. No caso do TWOM ele fica encarregado da leitura das cartas e do livro, deixando toda a parte de gestão e decisões para os outros jogadores. Quando há uma decisão difícil a ser tomada o grupo faz uma votação.
Expansão: Foi muito bom ver que vão dar continuidade ao jogo, principalmente adicionando sub-missões que te dão itens novos. Até agora já ganhamos 3 das missões e foi muito legal ver outras mecânicas. Há também os esgotos, mas ainda não os colocamos em jogo. As novas miniaturas são apenas por estética, já que não impactam em nada, mas como gostamos de miniaturas elas sempre são bem-vindas rs. Espero que surja uma expansão com os móveis 3D que vão dar uma imersão maior ainda do que o uso das cartas nos abrigos.
Curva de aprendizagem: Alta, pois é preciso conhecer os personagens e seus vícios, além de ter uma incrível habilidade de gestão de recursos, que será essencial para tentar sobreviver... sim... tentar rsrs.
Componentes: O tabuleiro do jogo é lindo, com muitos detalhes e não são todos os jogos que fazem o tabuleiro dupla-face. Os tokens são de boa qualidade e as cartas são excelentes, pena que exigem o uso dos sleeves porque a todo momento você fica embaralhando. As miniaturas são bem fracas de detalhes e comparados com as do Zombicide parecem ter sido feitas de forma bem amadora, poderiam ter caprichado mais. Pior coisa desse jogo em relação a componentes é a porcaria do insert que não cabem as cartas com sleeves. Fizeram um insert perfeito, para caber tudo, só que não sei qual o problema dessas editoras que não conseguem raciocinar que algumas pessoas gostam de proteger seus jogos e por sleeves nas cartas. Interessante que a expansão já é diferente, o insert dela é maior e cabe perfeitamente com sleeves.
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