CONFIRA OS TRECHOS CITADOS EM http://onboardbgg.com/2015/10/11/sound-board-trilha-sonora-para-stone-age/
Como arrumar uma trilha sonora para um jogo ambientado quase dez mil anos antes de Cristo? Foi a pergunta que me fiz quando comprei meu Stone Age um tempinho atrás. Afinal, uma de minhas técnicas iniciais quando busco a ambientação musical ideal é perguntar quando o jogo se passa e aí, lascou a pedra!
Procurei filmes, jogos, músicas tribais, nada servia. Muita instrumentação moderna e até a música tribal não parecia prestar, pois se havia instrumentos na época, não soariam como os tambores bem afinados das gravações que se encontram por aí! Tudo bem, sei que até flauta do período feita com osso de abutre já foi achada em sítios arqueológicos, mas daí a ter algo no Spotify é pedir demais!
Mas a mente do Lukita aqui não descansou enquanto não resolveu o problema do silêncio em Stone Age e foi daí que veio a epifania! Antes de mostrar a trilha em si, vejamos algumas lições com os mestres de duas artes distintas, Beethoven e Hitchcock.
Ouçamos, de Beethoven, os primeiros instantes de sua sinfonia nº 3, a Eroica, assim mesmo sem "h". [confira o trecho no site do On Board]
Que impacto, heim? Começar com dois acordes de mi bemol maior na cara da sociedade em 1805, ano de sua estreia. Pensem no choque na época! Se fosse vocês até ouviria novamente.
Mas Beethoven foi ainda mais longe na mesma sinfonia. Confira: [confira o trecho no site do On Board]
Desta vez são seis acordes em sforzando, ou seja, com ênfase, com força repentina! SEIS!!! E esse acento súbito dá um ar de minúsculos intervalos, um pulso. Essa diferença de acentos fornece um vigor incrível a estes compassos, parecem até pausas! Beethoven era o mestre absoluto das pausas, do uso do silêncio e das mudanças de dinâmica. Ah! A gravação que usei é uma bem recente com o maestro queridinho Gustavo Dudamel, se quiserem ouvir é esta aqui.
Hora do cinema! Assista a um trecho de Sabotador, filme de 1942 do gênio Alfred Hitchcock. A antológica cena na Estátua da Liberdade. [confira o trecho no site do On Board]
Percebeu aonde quero chegar? Ouviram a música na cena? Não havia! Em uma época do cinema na qual havia música de fundo o tempo todo, Hitchcock teve a sacada brilhante de que nada seria mais assustador e agoniante do que o barulho do vento, dos navios lá embaixo... Simples e genial!
O que isso tudo tem a ver com a Idade da Pedra? Para que melhor do que sons da época? Sonoridades que tenho certeza de que haviam? Vamos ouvir um trecho do que estou falando: [confira o trecho no site do On Board]
Sons da natureza apenas! Pássaros, vento, chuva, riacho, insetos. E vocês não fazem ideia como cai bem com o jogo. É relaxante e fornece a ambientação ideal! Já utilizei este recurso em outros jogos. Para Friday, por exemplo, você não quer nada além do vento e das ondas. Prefiro, claro, ter música, minha maior paixão, mas respeito e sei valorizar sua ausência!
Desta vez, neste artigo, não postarei várias faixas, pois são todas no mesmo estilo, com pequenas variações. Preparei uma playlist de mais de seis horas, boa parte das faixas tem mais de uma hora de duração cada. Deixem de fundo e curtam as partidas.
O que aprendemos, pois, na seção de hoje? Que, às vezes, o efeito musical mais poderoso é a ausência de música!
NOTA: confira nosso review de Stone Age aqui.
PLAYLIST SELECIONADA: [confira no site do On Board]
Abraços analógicos!
