Mombasa chegou para mim com gabarito. Recomendado ao Kennerspiel, do mesmo autor do Isle of Skye (que eu adoro e tem resenha aqui no canal) e em um ano que foi muito bom para os boards. Em 2015,
12 jogos entraram no top 100 do BGG e isso foi um grande feito, se aproximando muito do ano de ouro de 2014 que conta com
15 jogos no top 100 do BGG. Para efeito comparativo, 2016 até o momento tem
8 (mas precisa de mais tempo para sedimentar) e 2013 tem apenas
5. Mombasa também foi o último jogo dos Kennerspiel de 2016 e, até então, eu tinha gostado (muito) de todos os anteriores. Logo, a expectativa era bem alta.
Quando eu sentei na mesa, fiquei bem intimidado. Há uma quantidade bem grande de elementos no jogo, muita informação já que o jogo mescla diversas mecânicas diferentes , e quase toda a informação começa aberta. O gerenciamento de mão é implementado de uma maneira bem original e que eu pessoalmente não lembro de ter visto em outro jogo. A arte é bem funcional , com tons bens neutros favorecendo 100% de funcionalidade e zero preocupação em ser linda/chamativa. O manual é bem grande mas, felizmente, tivemos o David Coelho , do
Siga o Coelho para explicar o jogo (recomendo fortemente esse vídeo para facilitar o aprendizado:
https://www.youtube.com/watch?v=1ipoRXviW_k)
Excepcionalmente funcional e longe de ser uma obra de arte. E tudo bem.
Após a explicação, eu já percebi que o jogo teria um dos elementos que eu gosto bastante em jogo do estilo que é a "briga de faca no elevador". Ou seja, muito interativo. O mapa e a expansão dos territórios é bem agressiva, impossibilitando que haja espaço para um crescimento saudável e amistoso entre as companhias. O jogo possui a minha mecânica favorita que é o mercado de ações e que sempre é extremamente interativo , possui aquele traço do "preciso fazer com que o jogador B e C façam ações que me favoreçam", algo , traduzindo para o português claro como parasita. Apesar de não ser um grande fã de interação agressiva (leia-se atacar e pilhar o amiguinho) em jogos longos, esse tipo de interação direta mas sutil é algo que exerce um grande fascínio em mim.
Outro ponto que sempre me chama atenção (e que eu tentei aplicar no Space Cantina, por exemplo) é a questão das múltiplas rotas para vitória. Você tem três grandes fontes de pontuação, muito claras, no jogo. Não dá para fazer todas mas você precisa reagir aos outros jogadores e as cartas que você compra para conseguir seguir e executar o seu planejamento. Há diversas partes móveis necessárias para execução de cada uma dessas estratégias e , o tempo todo, outros jogadores estarão atrapalhando essa execução. Ao ouvir a explicação, que misturava tantas mecânicas diferentes, fiquei com medo de ser um daqueles jogos que qualquer coisa que você faz pontua e que as mecânicas estão ali só para encher linguiça. Longe disso, é bem clara a costura feita entre os elementos e como cada um deles contribui para um dos caminhos de vitória.
Finalmente e, talvez esse seja o fator que mais me chamou atenção, é o que eu apelido de "cobertor curto". O jogo tem 7 rodadas e propositalmente. O próprio autor disse que testou com 8 mas viu que ficou "folgado" e cortou uma. Essa sensação que aparece, por exemplo, no Agricola ou no Through the Ages de que não há ações/tempo suficiente para fazer tudo o que você gostaria é bem legal. Somado ao baixo fator sorte, a agressão entre os jogadores e o eterno parasitismo, você tem a receita de um jogo "implacável" , aquele que te pune durante a partida. E eu adoro o gênero. Dungeon Lords, Antiquity , In the Year of the Dragon e Age of Steam figuram entre os meus favoritos não é à toa.
Muitas e muitas opções no jogo.
Consigo ver, no entanto, muita gente torcendo o nariz para essa questão do punitivo/pouca sorte. Por não ter muita aleatoriedade, é uma fórmula simples: más decisões = baixa pontuação. Não tem dado milagroso, não tem aquela cartinha que vai mudar sua vida aos 45 minutos do segundo tempo e muito menos uma virada espetacular. Há ótimos momentos, jogadas legais mas é um jogo punitivo e que , para muitos, não vai ter diversão por não ter aquela vibração de um ameritrash. Ele é um euro. Pesado.
Outro ponto e esse é um que impediu ele de entrar no meu top 10 é o quão taxativo é o jogo. Ele não é rápido, leva entre 1h30 e 2h30 e você sai cansado. Para jogá-lo bem, é preciso ter bastante concentração e atenção aos detalhes, ao que os outros estão fazendo e às diversas partes móveis do jogo. Eu lembro da minha primeira partida quando eu sai realizado, em êxtase (ganhei!) mas cansado. Não dava para emendar outro jogo. Depois foi sendo mais automatizado e menos cansativo mas ainda assim , ele exige bastante "RAM" para ser jogado em alto nível.
Mombasa é sensacional. Entrou para o meu top 20, é o meu jogo favorito de 2015 e uma das melhores recomendações de euro disponível no Brasil. O Alexander Pfister entrou para o Hall de autores que eu "preciso jogar" quando sai algo dele e Great Western Trail é do mesmo quilate. Para quem gosta de euro, de interação e de queimar a mufa, não tem como errar. Mombasa é fora de série.
Esse jogo foi gentilmente cedido para essa resenha pela BG-Express. Para adquirir o Mombasa com desconto, use o cupom TOP2015 e acesse o link para comprar o Mombasa com 5% de desconto:
http://www.bgexpress.com.br/mombasa