@thiago.sleite e @DiegoBard como vocês dois mesmo disseram em seus comentários, é tudo uma questão de interesse pessoal (para não dizer gosto). conteúdo com análise estratégica ou algo relacionado não seria um "erro" nem tiraria a "graça de jogar" (usando termos que vocês próprios usaram), mas seria apenas mais um tipo de conteúdo disponível para quem se interessa. obviamente, não é o caso de vocês. mas pode ser o caso de outras pessoas. e como uma coisa não exclui necessariamente a outra, o mundo dos board games só tem a ganhar com a variedade de conteúdos.
eu particularmente me interesso muito por esse tipo de texto com análises e discussões sobre estratégias. não só gosto, como tenho vontade de escrever sobre coisas assim e cheguei até a fazer um blog, o Confraria dos Jogos, que um dos intuitos é justamente disponibilizar esse tipo de conteúdo. infelizmente, escrever algo assim exige pesquisa e tempo, de maneira que não consigo postar tanto quanto gostaria (inclusive, sobre estratégias, cheguei a fazer dois textos: um sobre jogos de dedução social e outro sobre o 'lewis & clark'.
obviamente, entendo que grande parte da diversão de jogos mais estratégicos é descobrir essas estratégias por conta própria. eu adoro fazer isso. e quando a gente consegue descobrir uma estratégia que funcione bem e nos leva a vitória dá até aquela sensação de orgulho por si mesmo (né?). porém, muitas vezes meu nível de análise estratégica de um jogo chega num limite e eu não consigo perceber tudo que aquele jogo pode oferecer em relação às possibilidades estratégicas, então esses textos acabam sendo bem interessantes, pois me fazem perceber coisas que eu não perceberia sozinho. pra mim, é como estudar algo interessante. até porque eu gosto muito de toda a linguagem mecânica que existe por trás de todo jogo, então entender melhor as nuances de um jogo a partir dessa linguagem é quase tão divertido quando joga-lo.
todo jogo é como um maquinário cheio de mecanismos. analisar estratégias de um jogo é como estudar esses mecanismos e entender melhor como esse maquinário funciona. mas fazemos isso não pra poder mexer nesses mecanismos a nosso bel prazer (o que poderia causar a sensação de estar roubando, como o @DiegoBard falou), mas pra poder aproveitar dele da melhor maneira possível. é importante entender que essas análises não são um "manual" de como jogar determinado jogo, mas uma maneira de fazer o jogador entender melhor como ele funciona e poder construir sua própria estratégia a partir daquele conhecimento. até porque se um jogo possibilitar a existência de uma maneira específica de joga-lo e, assim, ganhar, significa que esse jogo é "quebrado" (o que tira grande parte da graça de joga-lo). não é sobre "faça isso e isso e você ganha" mas mais sobre "desse jeito você consegue isso, daquele jeito você consegue aquilo" e a partir daí cada um aproveita dessa informação como bem entender. até porque, se o jogo for bem feito, a estratégia vai depender muito do oponente - então conhecer profundamente as estratégias envolvidas não vai te fazer necessariamente um ganhador (repito, se o jogo não for quebrado), mas sim um bom jogador.
por exemplo, temos o 'xadrez'. é um jogo que já foi estudo e analisado à exaustão. não só existem textos analisando e expondo estratégias, mas inúmeros livros sobre o assunto. mesmo assim, nunca chegaram num "manual" que te ensine a ganhar toda partida. porque isso não existe. o jogo é bem amarrado o suficiente para que não possibilite isso. então estudar 'xadrez' pode te fazer um grande jogador, mas nunca vai te dar o caminho pra ser imbatível.
por outro lado, temos o 'dominion'. depois de algumas partidas eu percebi (e descobri que já é de conhecimento comum) que tudo que você precisa pra vencer são os pontos de vitória (obviamente), e pra adquiri-los, você precisa de dinheiro. somente. então notei que não há a necessidade de ficar comprando as cartas de reino, pois é muito mais vantajoso comprar diretamente cartas de dinheiro que valem mais. seu deck não fica cheio de cartas que não são dinheiro, e assim você pode comprar os dinheiros maiores pra, depois, poder comprar diretamente as cartas de ponto. dessa forma, eu agilizo o final de jogo e termino com muito mais pontos que os demais jogadores. se você fizer isso sozinho numa partida de 'dominion', é certo que sairá como vencedor. quando eu descobri isso, o jogo perdeu totalmente a graça pra mim. ele se mostrou quebrado, mostrou que todo aquele aparato não serve de nada e que existe uma estratégia completamente dominante (pelo menos no jogo base).
o @thiago.sleite coincidentemente brincou sobre um "manual" de como jogar 'the resistance', e no meu blog eu escrevi justamente sobre estratégias nesse tipo de jogo. não quis de maneira alguma ensinar a cada um como 'the resistance' deve ser jogado (até porque isso não existe). mas percebi que algumas pessoas jogam o jogo simplesmente gritando "eu sou resistência! eu sou resistência!" e apontando o dado pro outro "ele é espião! ele é espião!", e eu quis mostrar que o jogo não precisa ser só isso (se você quiser que não seja só isso), e que existem sim estratégias interessantes para serem usadas, o que pode fazer com que as partidas fiquem mais dinâmicas e menos caóticas, tornando o jogo mais divertido (pra alguns). se vocês lerem o texto vão entender melhor o que quero dizer...
a ideia com esse textão não é convencer vocês nem ninguém a gostar desse tipo de conteúdo. mas pra que vocês entendam porque algumas pessoas (como eu) curtem e pedem esses tipos de textos. não é necessariamente pela vontade de vencer, mas pelo interesse em conhecer a linguagem mecânica de um jogo mais profundamente. há inúmeras formas de diversão, e, pra gente, jogar um jogo entendendo exatamente como ele funciona (não em termos de regras) pode ser tão divertido quanto o jogo em si (mesmo que, no final, a gente perca).
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