Saudações a todos!
Está aí um tema que faz tempo que estou para escrever a respeito:
Uma das referências que usei para a criação do Don Capollo, foi o Bonnanza, um jogo que gosto muito, mas acredito que o Don Capollo produz uma nova experiência de jogo.
O Bonanza tem negociação em sua mecânica, mas o principal foco dele não é a negociação, mas sim o gerenciamento da fila de cartas que fica em sua mão, tanto que muitas vezes vale a pena vc dar uma carta para outro jogador apenas porque ela está te atrapalhando, independentemento do fato desta carta servir ou não para ele.
Por causa disso, é um jogo que acaba estabelecendo regras muito rígidas sobre o que vc pode executar em seu turno, com uma porção de proibições. Vc não pode mudar a ordem de cartas na sua mão, nem escolher quantas vai sacar e nem quantas vai comprar. Vc tem limites de cartas para baixar na mão, e uma das poucas decisões é se vai baixar a segunda carta da fileira ou não (e não pode ser nenhuma outra). Depois que vc baixou esta carta, também não pode mais negociá-la com ninguém.
No seu turno, vc tem uma ordem exata de ações para fazer que acabam determinando o seu turno inteiro: você precisa baixar uma carta, precisa comprar duas, precisa resolver todas, precisa comprar cartas até ficar com 5, e etc.
Não há muito espaço para estratégia de longo prazo, e vc sempre precisa se adaptar ao momento, e se uma carta te interessa e a outro jogador também, vc não tem muitas ferramentas para convencer o outro jogador a entregar esta carta para vc.
Vc acaba dando a carta para quem tem maior afinidade, para quem está gritando mais ou para quem vc acha que não vai ameaçar a sua vitória.
É um jogo bastante animado, mas não tem muita profundidade estratégica.
Já o Don Capollo tem muito mais liberdade no seu turno:
Vc escolhe quais ações vai fazer, em que ordem, e ainda tem várias ações extras.
O foco do Don Capollo é a negociação, e você pode negociar com vários elementos: a cartas da sua mão, as cartas da mesa, as cartas de negócios ativos, a compra das cartas, as cartas que os outros jogadores podem entrear para o jogador que vc está negociando, o dinheiro, o seu favor, o favor dos outros e tudo isto em qualquer combinação.
Vc escolhe para quem vai revelar que carta vc tem e quando vai fazer isto.
As cartas não tem um valor absoluto, e valem mais ou menos de acordo com a quantidade de cartas que já saíram ou que algum jogador conseguiu acumular.
Uma mesma carta que em uma partida se ganha muito dinheiro, na partida seguinte, paga-se para alguém ficar com ela.
A quantidade de cartas que vc saca também é determinante, e se vc quer ficar com pelo menos uma carta na mão tem que pagar caro por ela: ou 3 de dinheiro, ou na sua vez pegar uma fechada.
O jogo te coloca em diferentes situações, ora com muitas, ora com poucas cartas, ora com muito dinheiro e depois com muito pouco ou até com nada, e vc precisa se adaptar a todas elas.
Se vc busca uma estratégia de dinheiro, pode pegar duas cartas abertas, e economize até o último centavo. Se é para negociar, paga um para virar três abertas, mas se prefere um jogo mais fechado, para surpreender os jogadores ao final, fique contando as cartas que já saíram, pegue uma fechada e um dinheiro, e depois compre mais cartas fechadas que puder.
Vc pode escolher que negócios vai cuidar, e em que momento vai baixar a sua carta.
Além disso, vc pode pagar para alguém não faer negócio com outro jogador, e simplesmente prestar contas daquela carta.
As cartas com valor negativo dão uma graça adicional ao jogo, e permitem os mais variados critérios de negociação.
Ele também tem um elemento de blefe sutil: se vc mostrar muito interesse ou até desespero para ficar com uma carta, imediatamente ela acaba aumentando de valor.
Toda esta liberdade e escolhas permitem criar diferentes estratégias, e permite-se também contar as cartas de cada negócio, e calcular lucros e perdas de cada negociação.
Em Don Capollo, quem negocia melhor ganha o jogo, porque tem muitas ferramentas para negociar e interagir com os outros jogadores.
O tema de Don Capollo é mais adulto, o que atrai mais jogadores desta faixa etária, e permite os mais diversos tipos de piadas na mesa.
É evidente que sou suspeito para dizer isso, mas na minha opinião, Don Capollo tem um tema interessante, permite mais estratégia e arte esta líndíssima.
Devido a isto, produzem experiências de jogo diferentes e a meu ver os dois jogos podem coexistir tranquilamente em uma coleção.
Gustavo Barreto