Post original de 8 de setembro de 2012
Nosso amigo Mário Lúcio conta quais são os desafios iniciais da Oficina Lúdica, um projeto exemplar na cidade de Belo Horizonte:
“O trabalho de Monitor de Oficina Lúdica envolve várias atividades. O objetivo é apresentar aos alunos jogos que trabalhem diversos aspectos como cultura, reflexão, debates, raciocínio, convívio social ou puramente diversão.

A Escola Integrada, a qual a Oficina faz parte, tem por objetivo ocupar o tempo dos alunos no contra turno, evitando que fiquem ociosos em casa ou vagando pelas ruas. Para isso é preciso estar sempre procurando meios para atrair os alunos e manter os já cadastrados. No caso específico de nossa escola, a faixa etária é de 12 a 16 anos. Por um lado existe uma grande vantagem porque podemos apresentar jogos e atividades mais complexas para esta faixa. Por outro lado o trabalho de atração e manutenção dos alunos é bem complicado porque estes alunos já possuem poder de decisão. Quando o trabalho é com idades menores os pais cadastram o filho na Escola Integrada e ele não tem opção. Já em idades maiores os próprios alunos é que decidem se desejam ou não entrar ou permanecer. Isso cria um desafio enorme, pois são necessárias atividades diárias que prendam a atenção destes alunos. Como o grupo é grande encontramos uma diversidade muito grande de desejos e procurar atendê-los diariamente é tarefa árdua.

No caso específico da Oficina Lúdica, procurei primeiramente identificar o que cada aluno gostaria de fazer. Felizmente o jogo de Xadrez tem uma participação grande no dia a dia da escola. Existe um curso regular, mas que atende a um pequeno grupo. Então os alunos que gostam do jogo, mas não freqüentam este curso encontraram na Oficina o local ideal para praticar. Também os que freqüentam o curso passaram a apoiar e divulgar a Oficina, pois ali sempre encontram parceiros dispostos a uma partida. Adquiri então 8 conjuntos de Xadrez (a maioria dos alunos do Curso de Xadrez da escola carrega seus próprios conjuntos). Com isso é bem comum termos 10 ou 12 partidas sendo disputadas simultaneamente. Acho isso sensacional.

Outro grupo é composto por alunos que procuram novidades. Conheceram alguns jogos e isso despertou neles o desejo de conhecer outros. Geralmente este grupo não se intimida com jogos mais complexos ou demorados. O mais jogado por eles desde o início da Oficina tem sido o Robin Hood, da dupla Zatz e Hallaban. É um estilo de jogo que eles não estavam acostumados, combinando estratégia com blefe e malícia. Caiu no gosto rapidamente e as partidas são sempre divertidas e muito disputadas. Além deste, apreciaram Carcassonne, Finstere Fuore, Descobridores de Catan, Interpol, Hera e Zeus, Lord of the Ring Confrontations, Senha, Ricochet Robot e outros. Dois detalhes interessantes: muitos do grupo de Xadrez fazem parte deste grupo e geralmente só preciso ensinar regras uma vez. Depois disto eles próprios se encarregam de convidar e ensinar outros alunos. Assim tenho tempo para me dedicar aos novatos em outros jogos.

Existe ainda o grupo que procura tão somente diversão pura e simples. Querem jogar sem ter que se esforçar mentalmente. É com certeza o grupo mais animado. A preferência é por jogos rápidos e divertidos. Adoram Lobisomem, Can Can, Uno e jogos no estilo brinquedo como Bola ao Cesto (um jogo em que os jogadores procuram acertar bolas em cestas com auxílio de um lançador), Jenga e Torre Inteligente. O maior trabalho com este grupo é a necessidade de estar sempre em busca de novidades, pois costumam cansar rapidamente de uma atividade e já querem outra diferente. Uma técnica que tem funcionado é literalmente esconder um jogo por alguns dias e depois voltar com ele. Como eles ficaram alguns dias sem jogá-lo acabam gostando da ideia. Apesar da dificuldade é este grupo que mais impulsiona e divulga a Oficina entre os outros alunos.

O último grupo é formado pelos alunos que não gostam de jogar. A princípio parece que podem atrapalhar, mas a realidade mostrou-se bem diferente. Para conseguir mantê-los interessados procurei algumas formas de envolvê-los com a Oficina. Sempre convido alguns deles para me ajudar a buscar ou guardar algum jogo, separar peças, fazer anotações ou mesmo explicar regras a novatos. Achei isso bem interessante. Tenho alunos que não jogam, mas assistem partidas, aprendem as regras e são capazes de ensiná-las perfeitamente. Deixo-os também à vontade para se dedicarem durante a Oficina a qualquer atividade que não prejudique os outros. Assim alguns dedicam-se a fazer trabalho de escola, desenhar, ouvir música, dormir, ler ou simplesmente bater papo em grupinhos. Estou organizando agora um Cantinho da Leitura onde pretendo disponibilizar alguns livros para eles.

Passados estes momentos iniciais – a Oficina completará 2 meses em meados deste mês, já consigo elaborar um planejamento bem melhor e mais acertado. Este trabalho de identificação dos grupos de alunos foi fundamental para que a Oficina consiga mostrar-se atrativa. Agora já posso começar a elaborar pequenos torneios de Xadrez e outros jogos e partir para a parte de confecção de peças e tabuleiros. Uma das características da Escola Integrada é que ela deve funcionar o máximo possível fora das dependências da escola. Possuímos um galpão nas proximidades, mas costumamos sair muito com os alunos para as praças da região. É absolutamente entusiasmante ver a garotada na praça jogando, tabuleiros espalhados pelos bancos, alguns apenas passeando, lendo, enfim, são momentos agradáveis e que cumprem a importante função de mostrar à comunidade local o trabalho realizado.”
Por Mário Lúcio