Escrita por: Rodrigo Neves.

Sinopse do Jogo:
"Poseidon perdeu seu estimado tridente e seus amigos desapareceram enquanto tentavam encontrá-lo. Eles foram capturados pelo maléfico Kraken, que planeja fazer um bom guisado com eles. Você poderá superar seus tentáculos, libertar seus amigos e ainda derrotá-lo? Eu espero que sim. Ah... provavelmente este não seja um bom momento para mencionar o tubarão..."
Adaptação da descrição da Ludopedia.
O Poseidon's Kingdom desta resenha é uma edição limitada de 1.000 cópias da Fragor Games, lançada em Essen de 2011, que posteriormente teve uma segunda edição via Kickstarter pela Game Salute. O charme do jogo é uma onda que mantém os dados acima do tabuleiro e utiliza a elogiada mecânica "anthill system" (do jogo Antics!!) que gerencia o alcance das ações de cada jogador. Ele ainda contém as caricatas miniaturas que tornaram a Fragor Games famosa em 2005.
Desenvolvido pelos irmãos Gordon Lamont e Fraser Lamont, é um jogo familiar que aceita de 2 a 4 jogadores e possui partidas de entre 1h e 2hs de duração, dependendo da explicação. É um jogo que sem dependência de idioma e que possui um manual bem simples, bastante ilustrado. Outros jogos da Fragor com resenhas pelo Canal TTZO são Game of Gnomes e Dragonscroll.
Mecânicas:
- Rolagem de dados;
- Movimento em área;
- Colocação de peças;
- Anthill system.
Componentes:
Como nos demais jogos da Fragor, um dos grandes destaques de Poseidon's Kingdom são as suas miniaturas. Feitas de resina, pintadas a mão e coloridas, representam as equipes dos jogadores: peixes, estrelas do mar, polvos e conchas. Além de uma mini exclusiva para o tubarão, o terror dos jogadores durante partida.
Cada jogador recebe um estoque pessoal contendo 10 mini-dados D6 de sua cor, seis pequenos tokens redondos que representam seus “amiguinhos” capturados pelo Kraken e 4 tiles 2-Hex iniciais de recife.
O jogo conta com dois tabuleiros dupla-face. O maior deles representa o mar e a praia, sendo dividido em faixas de ondas. Interessante apontar, que os jogadores poderão se movimentar pelas trilhas nas duas laterais do board, e que se cruzam como um 8 no centro. Ao final do turno de cada jogador, o tubarão irá se mover de acordo com a numeração indicada onde ele terminou seu movimento. Por isto, o tabuleiro possui dois lados, visando quantidades de jogadores diferentes. Com menos 2 ou 3 jogadores apenas, o tubarão irá se mover bem mais rápido. O tabuleiro menor representa o Kraken e seus seis tentáculos. Um lado deste tabuleiro está em inglês e o outro em alemão.


Talvez o componente mais original neste jogo seja a “onda de dados”, usada para alimentar o tabuleiro principal com os dados durante a partida. Ela consiste de uma grande peça, que precisa ser ajeitada também de acordo com o total de jogadores na partida. Ela ficará localizada no fundo do mar, e sua base ainda serve como lembrete para os possíveis bônus obtidos pelos jogadores após a onda quebrar. Aliás, um dos momentos mais divertidos e temáticos do jogo. Genial e criativo!
O jogo ainda conta com mais alguns componentes como tiles de pontuação, peças de recifes, tokens de espinhas de peixe e dados neutros. Sem contar com a mini do tubarão, que é um NPC controlado pela IA do jogo.
Síntese do Jogo:
Para iniciar uma partida de Poseidon's Kingdom, cada jogador coloca uma miniatura sua na praia e outra no fundo do mar. O tubarão é colocado em sua casa inicial, como indicado no manual. Uma primeira onda é “quebrada” para alimentar o tabuleiro. Além disto, cada jogador deve montar seu recife inicial e montar seu estoque de dados.
O tabuleiro do Kraken também precisa ser preparado. A terceira mini de cada jogador fica no círculo maior do Board. Um “amiguinho” de cada jogador é alocado em cada tentáculo. Prepara-se as pilhas de tokens de pontuação separados por tentáculos e empilhados em forma crescente, com os menores embaixo e maiores em cima. Um estoque de peças de recife por tipo e os dados neutros também são arrumados.
O jogo não tem um número de rodadas pré-determinado, e vai rolar até que o primeiro jogador consiga libertar todos os seus amiguinhos, mais uma rodada extra para todos. Em uma rodada, cada jogador executa as seguintes fases antes de passar ao próximo jogador, no sentido horário:
- Aumentar seu recife pessoal ou alocar seus dados na onda;
- Sua movimentação e pegar dados para armazenar ou gastar;
- Movimentação do tubarão;
- Conferir se a onda irá quebrar.
Fase 1 - Aumentar seu recife pessoal: No início do seu turno, o jogador pode escolher aumentar seu recife pessoal, o que sinceramente, é uma das partes mais inteligentes deste jogo. Para isto, basta pegar uma das peças do estoque geral, a seu critério, e colocar na sua área. O seu recife representa o alcance das suas ações no jogo. O “símbolo de onda” representa quantos dados você consegue colocar na onda de uma vez, os “dados mordidos” quantos dados você consegue consumir do tabuleiro de uma vez, a “seta” sua quantidade de movimentos e os “quadradinhos” na areia servem para armazenar dados para consumo futuro.

O recife de um jogador poderá crescer horizontalmente ou na vertical, a sua decisão. O bacana de aumentar os andares de um recife é que a sua altura irá indicar a sua eficiência. Por exemplo, se tivermos um símbolo de onda no terceiro andar, poderemos colocar três dados na onda. Se uma seta de movimento estiver no segundo andar, nossas miniaturas poderão me mover por dois espaços no tabuleiro. Os símbolos repetidos não contam, apenas aquele que estiver mais alto. A única exceção são os hexágonos que armazenam dados, pois cada um serve como depósito, independente da altura.
Imagem obtida na resenha do Canal “Caverna dos Euros”.
Porém, estes espaços podem ser perdidos durante o jogo. Quando o tubarão se move por uma casa com a miniatura do jogador, ele será devorado, e o mesmo será obrigado a colocar um token de espinha de peixe em seu coral, a sua escolha, mas inutilizando o símbolo escolhido. Também vale frisar, que colocar um recife em cima do outro, traz algumas restrições:
- A peça precisa estar obrigatoriamente apoiada em duas peças diferentes.
- Não podemos apoiar a peça sobre uma espinha de peixe.
- Não podemos apoiar a peça sobre espaço contendo um dado.
Ou alocar seus dados na onda: que é uma outra ação que pode ser feita nesta primeira fase. Mas apenas uma delas.
Fase 2 – Sua movimentação para pegar dados: Nesta fase, o jogador deve optar por mover uma das suas duas miniaturas no tabuleiro principal, de acordo com seu alcance. Não é obrigado a se mover tudo que pode, mas deve andar pelo menos uma casa. As minis deslocam pelas trilhas na lateral do tabuleiro. Ao parar sobre uma faixa de onda, ele pode consumir ou armazenar em seu recife os dados que ali estão à disposição.
Mas afinal, para que serve “consumir” os dados? Na temática do jogo eles são alimentos que servem para te deixar forte o suficiente para soltar seus amiguinhos do Kraken. Ao libertá-los, ganhamos pontos de vitória, que são representados por tokens azuis. Sendo que tais tokens tem valores diferentes, valorizando quem conseguir cumprir antes.
Cada tentáculo precisará de uma combinação especifica de dados para ser derrotado. Vejamos quais são:
- Tentáculo 1: Dois dados que somem 7 pontos.
- Tentáculo 2: Dois dados repetidos pequenos, com 1, 2 ou 3.
- Tentáculo 3: Dois dados repetidos altos, com 4, 5 ou 6.
- Tentáculo 4: Três dados em sequência.
- Tentáculo 5: Três dados iguais.
- Tentáculo 6: Quatro dados diferentes.
Mas nem sempre conseguir as combinações certas é somente glórias... Lembre-se que existem dados neutros, seus e dos demais jogadores em jogo. Ao consumir os seus dados ou neutros, temos apenas alegria. Mas quando precisamos consumir dados dos oponentes para realizar uma missão, damos uma leve vantagem para eles como retribuição.
No tabuleiro do Krakken existe uma trilha de seis espaços circulares pequenos, um em cada tentáculo que terminam em um círculo grande, na cabeça do Kraken. Quando sua miniatura percorre todo este percurso e completa uma volta, indica que você conseguiu distrair o monstro o bastante para libertar automaticamente um “amiguinho” e ganhar o respectivo token de pontos de vitória. E como nossa miniatura anda por esta trilha? Ora, sempre que algum adversário consumir ou armazenar um de nossos dados. E o mesmo valerá para eles quando usarmos seus dados.

Fase 3 – Movimentação do tubarão: Nesta fase, o jogador confere o número indicado na casa onde sua miniatura terminou o movimento, e anda com o tubarão o valor indicado. Ele sempre segue pela trilha marcada e no sentido do seu nariz. Se passar por uma ou mais minis dos jogadores, elas são devoradas e voltam imediatamente na praia ou no fundo do mar, a sua escolha. Quando a onda quebra, ele muda de direção, 180º. E ao passar por um símbolo de dado no tabuleiro, imediatamente é adicionado um dado neutro à onda.
Fase 4 – Conferir se a onda irá quebrar: Caso nesta fase a onda seja completa, o jogador da vez terá o prazer de “quebrar a onda” e alimentar o tabuleiro com novos dados. Os dados que caem para fora do Board são eliminados. A regra diz apenas que que se o jogador for “ignorante demais”, a ponto de jogar mais da metade dos dados do lado de fora, o processo deve ser repetido pelo jogador seguinte. Após a quebra, os dados de cada jogador são somados, e eles podem ganham bônus pela soma total obtida no tabuleiro.
- Soma 3 ou menos: Coloque um dado seu na onda;
- Soma 7 ou menos: Coloque dois dados seus na onda;
- Soma 12 ou menos: Ande dois espaços na trilha do Kraken
- Soma 16 ou menos: Limpe as espinhas de peixe do seu recife.
- Soma 19 ou menos: Liberte seu amiguinho mais próximo ao início da trilha do Kraken automaticamente.
O jogo deverá rolar até que o primeiro jogador consiga libertar todos os seus amiguinhos, com mais uma rodada extra para todos, inclusive o próprio. Na última rodada será possível obter alguns bônus extras, que não mencionarei nesta resenha. Para mais esclarecimentos e uma descrição mais profunda do jogo, indico uma excelente resenha escrita pelo Canal Caverna dos Euros, do Victor “Zavandor”.
Avaliação:
Em Poseidon's Kingdom somos animais marinhos em busca do tridente de Poseidon, em uma saga para livrar nossos amiguinhos do Kraken. O jogo possui mecânicas muito bacanas como a onda de dados, os recifes que são quebra cabeças tridimensionais e a pontuação das missões. Rola até um jogo da memória de leve com os bônus de fim de jogo.
Mais um belo jogo da Fragor, e sinceramente, este é o mais original e criativo deles que tive a oportunidade de jogar. O visual do Poseidon's Kingdom é lindo, as miniaturas um show a parte e o jogo bastante temático. Nota-se que muitas decisões mecânicas foram tomadas com intuito que a jogabilidade tivesse sentido.
As regras dele possuem uma complexidade mediana e apesar de ser um jogo familiar, não considero um bom gateway. Apesar de não ter dependência de idiomas, de ser um jogo de duração média e do estilo infantil/caricato adotado para a arte do jogo, ele é bem estratégico e existem muitas nuanças nas regras que podem dificultar o entendimento macro dele. Em uma partida com jogadores menos acostumados com o hobby, uma seção de explicação de regras pode levar um terço do tempo total consumido pelo jogo. Por outro lado, também é um jogo que talvez não agrade os jogadores mais heavygamers. Ele não possui caraterísticas que permitam profundas análises ou grandes sacadas estratégicas, não é punitivo e nem permite lá grandes interações entre os players.
Talvez a grande sacada dele seja curtir sua proposta meio descompromissada, que encanta pela beleza das minis e mecânicas criativas. Muito possivelmente valha mais pela experiência artística e mecânica do que pela diversão que pode proporcionar. Pena que seja um jogo de tiragem limitada, mais difícil de conseguir adquirir uma cópia.