oniwars::Acredito que com pessoas novatas funcione mesmo, mas vejo pessoas que o top 1 é o Anachrony ou outro pesadão e vem falar que o dobro é um puta jogo? Tá de sacanagem né. Só pode ser pra agradar o criador do jogo que é amigo.
Bom, pode até ser que outra pessoa goste muito de Dobro e o top 1 seja o Anachrony, mas essa combinação realmente encaixou perfeitamente comigo, então achei válido responder. Confesso que li bem por cima as demais respostas do pessoal, então vou responder com base apenas no comentário inicial e também nesse que me apetece.
Acho que o primeiro ponto é que, gosto de Dobro e gosto de Uno. Quando saiu aquele redesign do Uno Minimalista eu até aproveitei pra trocar minha cópia antiga do Uno que já estava sem um 8 verde, sem manual e a caixa toda zoada. Isso que nem parei pra ir atrás das variantes, tipo Uno Flip, Dos, Ono99 (Uno japonês) e por ai vai. Por pouco não gastei quase 200 reais num Uno do The Office só por causa do tema, mas me segurei kkkk. Então leve isso em consideração, eu gosto de Uno e sou suspeito inclusive pra falar de Uno, porque tem toda uma nostalgia envolvida.
Segundo ponto é que, por jogar muitos carteados (só ano passado foram mais de 80 jogos novos, fora os que eu já conhecia), os nuances acabam se destacando muito mais do que pra uma pessoa que só tenha jogado, por exemplo, Uno e Dobro. O Uno é um jogo de shedding, limpar sua mão, e vc joga pensando nisso, eu quero me livrar das cartas, eu posso usar cartas cartas de efeito pra atacar o próximo jogador e isso vai atrasar a chance de vitória dele, mas tbm pode acontecer comigo, e vc só pode jogar carta da mesma cor ou do mesmo número (tirando especiais). É um tipo de jogo pra mim. O Dobro é um jogo de climbing (escalada) que curiosamente não tem a parte do shedding, que normalmente vem junto em muitos jogos de climbing, como Velonimo, Lhama, Scout, Tichu e por ai vai. No Dobro, dependendo do número do jogadores, o que eu penso quando jogo é o quanto eu vou escalar para o próximo jogador, pensando que essa escalada pode voltar pra mim e eu preciso me defender. Em 3 jogadores, a escalada vai voltar bem rápido, enquanto em 5-6 jogadores se chegar em mim provavelmente vai chegar alto. O fato de vc poder jogar uma carta para dobrar te dá certa agência sobre o que vc está fazendo e mesmo que tudo dê errado quando chegar pra vc, ainda tem algumas cartinhas de efeito que vc consegue mitigar isso. Vc pode jogar uma ou duas cartas e isso faz a diferença pra vc repor a mão. Se vc for pensar sobre o que vc faz, em ambos vc jogam cartas dentro de uma regra (cor/numero/especiais vs cartas iguais ou mais altas/especiais). Vc pode comparar nesse nível e sim, pensando no que vc faz, são parecidos. Se vc vai um passo adiante e pensar no seu objetivo de jogo, um vc quer se livrar das cartas, o outro vc não quer ganhar cartas, já tem uma diferença significativa e ai se vc for entrar no mérito das decisões, os dois são realmente bem diferentes. Pensando nesse sentido, eu gosto mais do Dobro do que do Uno, a gestão de mão (restrição) e as diferenças em diferentes contagens de jogadores me agradam mais do que a restrição que o Uno me traz.
Terceiro ponto é sobre "ser um puta jogo". Aqui é uma questão de gosto e de oportunidade. Gosto de Dobro e de Uno porque gosto de jogos assim, eu gosto de jogos de cartas e especificamente os sistemas de baralho tradicional (carteados) tem sido algo que tem me atraído muito. Pode ser uma fase, como pode ser uma constante. Gosto é algo fugaz, mutável, mas como comentei, de oportunidade. Se eu chamar hj a maioria dos meus amigos e conhecidos para jogar e colocar a escolha entre Uno e Dobro, boa parte vai escolher o Dobro. Primeiro pela novidade, segundo pelo aspecto visual e terceiro porque alguns não gostam de Uno, e tá tudo certo. Mas isso é o meu circulo social. Alguns deles simplesmente vão dizer que entre os dois, preferem um tapa na cara, e está tudo bem também. A questão da oportunidade é que, desde que o Dobro lançou, eu joguei tranquilamente entre 50-100 partidas, muitas delas seguidas, já joguei com todas as quantidades de jogadores, com diferentes pessoas, enquanto que o Uno hj em dia raramente alguém dos nossos grupos querem jogar.
Seguindo o terceiro ponto, boa parte das pessoas que jogaram o Dobro comigo sequer sabem quem são Fel Barros, Lucas Castanho ou Pedro Vinicius, ou que o autor do Uno chama Merle Robbins. Muitas dessas pessoas, como por exemplo a minha sogra e minha cunhada, que já jogaram com a gente mais de 100 jogos diferentes, de Taco Gato, Dobro e Uno a Agricola, Marco Polo e Brass, não estão envolvidas em forums como a Ludopedia, não leem manuais, não estudam mecânicas, não consomem conteúdo. Elas só jogam o que a gente coloca na mesa e é isso ai. Em nenhum momento me lembro de termos comparado o Dobro com o Uno na mesa, nem com elas, nem com outras pessoas, mas o que eu tenho pra mim é que a maioria das pessoas que jogaram Dobro com a gente se divertiu muito jogando, jogamos outras vezes, dei de presente Dobros para algumas delas e eu tenho hoje duas cópias dele, uma em casa e uma no carro que eu levo pra todo lugar (outro jogo que faço isso é o Bohnanza e em breve um Trio vai pro porta-luvas do carro, outros dois jogos que tenho ai perto de 50 partidas, senão mais, não registro mais). E antes que alguém comente por ser criador de conteúdo, todas as cópias eu comprei, não recebi.
Acho que como último ponto, voltando ao gosto, quanto mais vc jogar e com quanto mais pessoas vc jogar mais vc vai encontrar opiniões divergentes e isso tá tudo certo. Nossos melhores amigos que jogam conosco aqui em casa quase toda semana odeiam certos jogos que eu amo. Por exemplo, eles não suportam eurogames e jogos complexos. Jamais jogariam um Anachrony e se jogassem, provavelmente iriam reclamar que tem muita regra, que é muito complexo, burocrático e por ai vai. Recentemente jogamos Pax Emancipation (eu e minha esposa, Carol) e só a descrição do processo de aprendizado que eu tive pra poder jogá-lo já deixou nossos amigos de cabelo em pé. Agora carteados é outra história. Se eu empilhar 10 jogos de vaza na frente deles, vamos jogar os 10 e discutir depois sobre eles. Fechamos a campanha do A Tripulação com mais de 100 partidas e agora já estamos jogando o The Crew 2: "A fase da água". Entre jogar Dobro ou qualquer euro, eles vão jogar Dobro 2x e reclamar do euro sem jogar. E tá tudo certo.
Pra fechar meu textão, só pra não deixar de comentar, como outras vezes que vim comentar aqui na Ludopedia, existe uma desconfiança com criadores de conteúdo e eu entendo, pois tem criadores e criadores. Eu não posso falar pelos outros, só posso falar por mim. Quando eu falo que gosto de Dobro, não gosto de Dobro por ser do Fel, do Lucas e do Pedro. Gosto de Dobro porque gosto de jogos de cartas, gosto de carteados, gosto dos nuances do jogo, gosto porque tenho muitas oportunidades para jogá-lo, gosto porque joguei muito e gosto porque as pessoas que jogam comigo também gostam. Não foi atoa que ele entrou no meu top 50 e no da Carol pra quem acompanha ai o podcast. Pode ser que num próximo top 50 ele não entre, porque o Medievalia, o Dobro, o Uno e outros jogos do tipo abriram uma porteira entre a gente aqui que trouxe muitas experiências com esse tipo de jogos e agora a minha carga com esses jogos é muito maior para poder comparar qual prefiro, mas não é porque prefiro um ou outro que tenho que deixar de gostar de algum deles.