Por Jaime Daniel Cancela
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Ok, a coisa tá tensa!
O fulano ali não vai deixar barato. Já nem é mais pelo pote de azeitonas, e sim pela situação. E dá pra ver daqui o canto da boca dele espumando! O mano quer vir pra cima, mas ainda não tem certeza se ele se garante, senão já tinha vindo tirar sangue. Os parceiros dele não parecem lá grande coisa, mas ‘tão em maior número… Só que nem ferrando que nós vamos arregar… E meu skate tá doido pra quebrar uns dentes…
- E aí, maluco, pronto pra ir pro hospital? Vai ficar tanto tempo lá que nem vai lembrar do dia em que entrou… CAI DENTRO!!
A treta começou…
Apagão: Ruas de Fúria é um jogo do designer Gustavo Barreto (Don Capollo, Tinco, Dark City) baseado na série Apagão, as HQs de Raphael Fernandes (Editora Draco). O cenário é a cidade de São Paulo que está sem eletricidade há mais de três meses. Com parte da população tendo abandonado a cidade, algumas gangues disputam violentamente a dominação das ruas. As seis gangues que disputam o controle da cidade (Macacos Urbanos, Dandaras, Filhos de Deus, Guardiões da Moral, Irmãs Canivete e os Manos) buscam ser a tribo urbana com maior reputação. As duas gangues que acumularem mais pontos de Respeito vão se enfrentar pela vitória e pelo prêmio mais cobiçado de uma cidade sem luz: uma bicicleta estacionária geradora de energia!.

Este card game é indicado para três a seis jogadores. Cada participante será o(a) líder de uma gangue e seu objetivo será conseguir o maior número de pontos de Respeito no final da partida. Para ganhar Respeito, cada líder deverá disputar na lábia ou no tapa comida e energia, mas também terá de saber administrar os recursos de sua gangue, como integrantes e armas, e tomar cuidado com o olho gordo do adversário. É, irmã, o bicho tá pegando… Mas vamos dar a letra pra você entender melhor essa parada!
O jogo é composto por:
- 6 cartas de líder, um para cada gangue, que representarão os jogadores
- 31 marcadores de Respeito
- 1 marcador de primeiro jogador
- 6 cartas de alfa
- 48 cartas de integrantes, 8 de cada gangue
- 10 cartas de armas
- 6 cartas de arma preferida
- 5 cartas de polícia
- 10 cartas de comida
- 8 cartas de energia (bateria, placa solar)
- 1 carta de bicicleta geradora de energia
Cada jogador inicia com as cartas de líder e alfa da gangue que escolheu. O alfa é o subordinado direto de cada líder. Cada alfa também tem a habilidade especial de renovar a mão de cartas do jogador, mas só poderá usá-la uma vez. A cada rodada os jogadores vão disputar cartas aleatórias que serão reveladas e ficarão disponíveis para serem conquistadas. Essas cartas podem ser novos integrantes, armas, comida ou fontes de energia. Começando pelo primeiro jogador, cada um vai declarar em qual carta está interessado. See apenas uma jogadora se interessar por uma carta, esta irá para a mão dela. Se ninguém se interessar por uma carta, o destino dela será o descarte. Mas se dois ou mais jogadores estiverem atrás de uma mesma carta, vai começar uma disputa que pode gerar uma treta!

O primeiro jogador (ou o mais próximo dele) inicia a disputa, fazendo a ameaça. Ele “encarna” o alfa e tenta intimidar o outro alfa com uma frase de efeito, um olhar ameaçador ou algo parecido. “Vaza rapidinho ou vai virar figurante de série médica”, ou então “Sai da minha área ou vai ficar com tanto hematoma que vão pensar que você é um dálmata!”. A ideia é mostrar que você e sua gangue devem ser temidos. Os outros jogadores envolvidos na treta podem:
a) recuar — a treta acaba e o atacante fica com a carta disputada;
b) chamar pra briga e resolver a treta “na porrada” — quem vence levará a carta e ganhará 1 ponto de Respeito; ou
c) subir a aposta, respondendo ao desafio com a ameaça mais grave de “pixar” o território ou a cara do rival. Aí, além de o vencedor levar a carta e ganhar pontinho, o perdedor perderá Respeito.
d) se a troca de ameaças da treta continuar, a próxima será mais séria ainda… “Aê, vou te mandar pro Criador; pergunta pra ele o que fez de errado pra ter sofrido tanto na minha mão!”. Quem vencer a treta ganhará a carta disputada e um ponto de Respeito, enquanto o perdedor perderá pontinho e um integrante da sua gangue!
A resolução da treta “no tapa” se dá com o uso das cartas de cada jogador. Obedecendo a uma sequência que se inicia com o primeiro jogador, ou o mais próximo dele, os líderes envolvidos na treta usarão integrantes e armas da sua mão de cartas para verificar quem venceu a treta. Cada carta dessas acrescenta um ponto ao seu ataque, sendo que cartas de comida permitem que o alfa “suborne” integrantes de uma outra gangue não envolvida na briga. Ainda é possível melar a treta, chamando a polícia, que levará a carta disputada pro descarte e nenhuma gangue ficará com o prêmio. O jogo prossegue com as ameaças e a resolução das tretas. No fim de cada rodada, o marcador de primeiro jogador é passado adiante. Quando todos os jogadores tiverem sido o primeiro duas vezes, verifica-se quais foram as duas gangues que acumularam mais pontos de Respeito. Esses dois líderes vão disputar a bicicleta geradora de energia e definir o vencedor.

Apagão: Ruas de Fúria tem o objetivo de simular as disputas das gangues das HQs de Raphael Fernandes, Camaleão, Fabi Marques e Abel, colocando os jogadores no papel dos principais personagens das histórias. Além daqueles que curtem o mundo de Apagão, o card game agradará também as jogadoras que gostam de:
- interpretar cenas e personagens
- confrontos diretos
- gestão de mão
Apagão: Ruas de Fúria está em campanha de financiamento coletivo no Catarse, com suporte das editoras Draco e FunBox. Já bateu a meta principal e começou a desbloquear metas estendidas.
Normalmente, eu encerraria o texto aqui, mas Ruas de Fúria é um jogo muito diferente de outros já lançados e necessita de um esclarecimento adicional. E vamos tentar ser bem claros nessa questão.
Uma parte importante da dinâmica de Ruas de Fúria é o lance das ameaças e provocações. No manual de regras, estão bem claras algumas regras muito importantes:
• Nunca, em hipótese alguma, encoste um dedo em outro jogador durante uma Treta.
• Não recorra a nenhum tipo de discurso de ódio. Ponto final. Sem discussão.
• Não use características do jogador adversário para criar insultos e provocações. Concentre-se em coisas criativas que você pode propor para fazer um outro Alfa – o personagem, não o jogador – parecer fraco, covarde, ridículo etc.
As regras são essas! Mas algumas pessoas sem criatividade ou com más intenções podem argumentar que “o jogo é pra ser politicamente incorreto” ou que estão “interpretando um personagem racista/homofóbico/misógino/transfóbico etc”. Bom, nesse caso, a mensagem deve ser bem clara.
Se você precisa usar ofensas baseadas em discurso de ódio, seja lá qual for, este jogo não é pra você. Este jogo é para pessoas maduras, inteligentes e que entendem que jogos são formas de cultivar amizades, e não disseminar preconceito e intolerância. Vá jogar rouba-monte com o nonno ou assistir a uma partida de futebol, beleza?
Então é isso! Venha jogar Apagão: Ruas de Fúria e prepare-se para a treta!
E não cruza meu caminho, mano, senão o próximo unboxing que você assistir será o vídeo da troca das suas bandagens no hospital!
https://www.catarse.me/apagao2