Tema delicado sempre, no entanto mais pela vaidade intelectual do que pelo conteúdo ao qual se propõe. Digo isso porque as pessoas que se julgam engajadas em um tema assim e militam por suas causas estudam a fundo os argumentos levantados dentro do seu grupo e pelos que discordam mas pouco costumam se aprofundar no abismo entre o ideal e o comportamento do ser em sociedade.
O autor do post sob a alcunha de MalconX ao meu ver transparece essa prepotência intelectual em diversos pontos, como quando estratifica em categorias as pessoas aptas a compreender ou não a santidade imaculada dos argumentos ou da causa.
Difícil se livrar da névoa que turva o indivíduo e seu argumento do discernimento, sempre pensamos estar plenamente corretos (e não sou exceção) mas as nuances de certos temas garantem que não sejam mera questão de 8 ou 80.
É um conhecimento de senso comum, infelizmente, a distância entre muitos brasileiros e o hábito de leitura mas questiono quantas vezes o autor da postagem se prestou a dialogar com outros membros que reagiram a mesma? Talvez fosse fácil imputar certo desprezo aos argumentos de terceiros com isso seguindo a mesma estrutura argumentativa do autor, pintando um indivíduo como um quadro, um espantalho perfeito. Mas é se fosse mera falta de tempo? E se os indivíduos só estivessem saturados desse debate pois já estão remoendo esses argumentos em muitas áreas e a muito tempo? Como não seria prepotência imputar a tantas possibilidades uma face perfeita?
"Mansplaining" acho que foi esse o termo correto que quis utilizar, uma prática frequente em qualquer interação entre pessoas mas pervertida para uma situação caricata onde é a mulher que é interrompida. Me pergunto se as pessoas assistem debates, políticos que sejam, onde existe ali um mediador para garantir falas sem interrupções... E mesmo cientes da falta de "educação", cordialidade ou melhor "das regras" , estas interrupções ocorrem. Isso porquê desde debates acalorados até conversas triviais é comum que as pessoas queiram fazer colocações pontuais como quando você que lê estas minhas colocações sente-se compelido a querer começar a responder um trecho antes de concluir a leitura completa (não que haja necessidade de que o faça, digo, ler tudo pra colocar algo pontual). Sendo assim este um pequeno exemplo, não se deve ignorar o indivíduo passional que interrompe, ou que desconhece a gama de conhecimentos daquele a quem ele tenta explicar algo, ou talvez da sua forma de reforçar se aquilo que ele sabe é coerente com o conhecimento de todos ali, "será que falamos a mesma língua?", e que tal o indivíduo em uma posição docente que no ato está acostumado a corrigir a colocação de um aluno para levar para o caminho que julga correto o restante das ponderações do mesmo? Se ignoramos todas as possibilidades novamente podemos pintar perfeitamente uma cena onde "mansplaining" (pois sem fundamento lógico algum deduz que é um comportamento típico masculino reforçado pela sua subjetiva posição privilegiada na hierarquia social), é o ideal VS o real e não significa quesituações caricatas do mesmo não existam como naquele famoso vídeo onde um homem tenta explicar a uma mulher um artigo que ela própria escreveu. Fragmentos de eventos assim são usados como um alicerce para muitos que buscam convencer as pessoas que tudo é perfeitamente assim sempre.
É tão fácil defender uma causa quando estamos crentes de que ela é nobre! Pois até nos atos altruístas nosso sistema de recompensa no cérebro é ativado, a ideia de que um ato nobre é amplamente reconhecido por nossos semelhantes ou seria mesmo que ninguém soubesse dele, e de que isso é produtivo pra nossa sobrevivência entre nossa espécie nos da a sensação de pertencimento e utilidade. Sentimos prazer. Por essas minúcias biológicas, sociológicas e uma pilha de termos, é bom estar atuando pelo que julgamos correto. Fácil se perder nisso quando todos aqueles que discordam ou tem ressalvas são tomados como "inimigos, inferiores, egoístas...". Fica até mais fácil lutar contra "um zumbi" quando você tem plena certeza que ele é um zumbi, até que ele desvia e te apunhala (ok, essa referência foi péssima).
Mas e se você estava errado o tempo todo? E se a causa nobre no fim não era tão nobre? Ou se você vê aquilo perder totalmente o seu controle? Se alguns indivíduos nela usam a mesma pra quebrar, pichar, linchar, queimar, destruir, saquear, matar, ridicularizar... O que fazer? Toda aquela nobreza maculada e você não concorda com aquilo, não era isso que você buscava, afinal você odeia extremismos. Mas não é ingenuidade? Afinal discursos tão inflamados e eloquentes,e todos aqueles argumentos pintando inimigos com uma recompensa na cabeça, os mecanismos pra "cancelar" até a figura mais notória na sociedade, você ajudou a armar as pessoas... Mas não ensinou a elas que não se trata de derrubar inimigos, mas convencê-los e na melhor das hipóteses levar cada indivíduo na sociedade a um convívio mais harmonioso mesmo que nem tudo se encaixe perfeitamente. Afinal, muitos indivíduos foram convencidos a deixar de contrapor "causas nobres" e estas no fim não eram tão nobres assim. Isso está por toda história desde a filosofia a economia e em quase tudo que não é matematicamente preciso. Basicamente uma disputa sobre "qual versão das regras vamos usar" VS "minha versão é a correta".
Caro MalconX, eu teria que me estender muito mais pra tentar explicar porquê sob meu ponto de vista sua visão parece turva e sua linha argumentativa está fadada a compilar clichês dentro do debate acadêmico, alguns sem consenso lógico, sem a possibilidade real de que se chegue a um denominador comum...
Mas devo alertar para o fato, de que um dia na sua mesa, nos seus fóruns, nos seus gostos e micro universos de entretenimento, se depare com um indivíduo iluminado pela causa de... Combater violência? Que tal? Justo e nobre. Mas derrepente aquela luta nobre contra a violência nos jogos não quer mais que orcs e aliança combatam, afinal a realidade já é muito violenta e não precisamos disso na ficção! E pq animais precisam servir de alimento como um recurso tão banal se isso estimula e objetifica a vida daquela criatura? Ou pq precisamos comprar jogos feitos com material que fruto de um desmatamento? E você fala " que exagero é só ficção", tal qual lhe falam " que exagero é só humor" mas daí te respondem "mas e as implicações disso na realidade? Não desmereça minha luta! Minha luta... MINHA LUTA...". A nobre causa, a harmonia pela espada e não pela razão. O ímpeto de discutir com um sexagenário com valores e uma visão de mundo moldada em outras circunstâncias. A necessidade de colocar a causa acima do indivíduo sempre pois não é mais necessário entender as complexas motivações de seus atos se você tem tantos exemplos daquela atitude dele que te dão certeza que aquele indivíduo é um racista, um inimigo, um caso perdido, algo a ser cancelado e eliminado, algo que você pode despejar anos de leituras e argumentos que não pode usar naquele outro "debate" onde os mediadores eram os likes na opinião mais pop e socialmente aceitável (ou não). "Humor negro?!?" e essa expressão que já lhe causa arrepios e afloram sentimentos, argumentos, uma pilha de semântica, a história... E ao enfrentar aquela pessoa você sente que a venceu por expulsar ela dali, punida ela irá refletir. Mas será que não vai buscar se aproximar de indivíduos que pensem de maneira parecida a dela onde ela possa dentro de suas concepções de humor... Brincar? Sem pensar se aquilo que ela disse vai repercutir no roteiro de piadas do stand UP da KKK. A intenção...
E tudo bem ela deveria saber que apesar da intenção o impacto das palavras dela reverbera mas... Mas nós sabemos quando o impacto das nossas se torna a motivação para um grupo de meninas atirarem urina de baldes em homens apenas por quê são homens? Os fins justificam os meios? E são radicais? Radicais que acham que é você que é um conformista que não faz sua parte mesmo estando do lado delas na base disso tudo?
Se um indivíduo não alcança o discernimento, se não existe consenso, as palavras são só palavras. Mas o indivíduo ainda é quem ele é e se você não consegue permitir a existência dele por julgar-se incapaz de muda-lo talvez deva reavaliar se devemos extinguir cobras pela dificuldade de adestra-las. Isso claro, presumindo de maneira igualmente prepotente que não temos cada um nossas próprias escamas.
Enquanto ainda sentarmos na mesma mesa pra falar sobre e não estivermos nas nossas trincheiras recarregando armas, podemos encontrar soluções.
Vocês podem me perdoar pelos erros gramaticais? Tenho a compaixão de vocês?
A pra você que leu até o fim, não vou te dar parabéns por pertencer a escassa parcela de brasileiros sem nada melhor pra fazer (humor).