Quem me conhece já sabe que sou uma verdadeira expert em lançar questões, analisar e problematizar um pouquinho de tudo. Assim, chega a ser estranho escrever sobre os encontros da JogaMana, que chegam à sexta edição numa fluidez impecável e impressionante!
Não há o que não precise de questionamentos para crescer, desenvolver melhores versões e mesmo prosseguir com o que gera de melhor, no entanto, cá entre nós, eu confesso que fico mesmo embasbacada com situações em que a organização, a comunicação, a integração e a representatividade conseguem andar tão juntas.
Manas da sexta edição (ainda faltam algumas na foto!)
Temos pouco tempo, mas já muita história, e parece que os capítulos que vêm terão recheios ainda mais saborosos.
A cada edição, pouco a pouco, somos cada vez mais manas jogando juntas. Esse crescimento vem acontecendo progressivamente e promete seguir assim, mas sinto que foi nesse sexto encontro – o mais recente que fizemos – o primeiro momento em que começamos a passar de joga entre amigas já conhecidas para algo maior: um evento de mulheres para mulheres, dispostas a conhecer umas às outras a partir das partidas, do hobby boardgamista e da proposta de construir nossos espaços, isto é, enquanto mulheres jogueiras. O evento aconteceu na JogaSampa, uma loja bonitona que tem nos recebido com alegria.
Manas jogando
Azul: Vitrais de Sintra na JogaSampa. A loja é ampla e bem estruturada. E, como podem ver, ainda a dividimos com mesas de outros eventos e de outros grupos de jogadores. Tudo na paz
Com uma presença já mais expressiva, a sexta JogaMana lançou mão dos partygames, pela primeira vez precisando de certa gestão das chegadas e saídas de jogadoras.
Espontaneamente, acabamos por descobrir que essa categoria pode ser deliciosa para abrir a tarde de jogos. A propósito, foi o famoso Sushi Go! um dos primeiros party que rodamos, num mesão de 7 mulheres já na primeira hora do encontro. Enquanto isso, uma mesa ao lado já jogava
Azul: Vitrais de Sintra, um verdadeiro hype para um abstrato.

O famoso
Sushi Go! é um jogo de cartas que simula esteiras rolantes de restaurantes japoneses que usam o sistema “kaiten-sushi”. É um jogo simples, ótimo para pequenos intervalos e para mesas iniciantes no hobby.
Apesar da diversão e versatilidade que alguns jogos mais simples e breves oferecem – bons para momentos assim, de mesas ainda sendo formadas -, confesso ter sentido certa coceira comum para típicas eurogamers de plantão: “será que vai ser só isso a tarde toda? Quando vou conseguir juntar mais 3 manas e pôr logo um euro na mesa?”. A angústia logo passou. Já disse que estou impressionada com como as coisas têm fluído tão bem?

Manas jogando o party game
Fantasma Blitz, da editora Devir. Eu sou essa carequinha toda alegre aí!
Quando a mesa de Azul Vitrais concluiu a partida, chegamos logo ao fim da nossa (entre
Dobble (Spot it!) e Fantasma), enquanto chegavam mais manas para o evento. Algumas de nós só dissemos alguns títulos que gostaríamos de jogar, e logo aquelas que se animavam chegavam junto e formávamos novas mesas, sem frescura: se calhava de alguém “faltar” ou “sobrar”, o reposicionamento rolava sem crise. Fiquei de explicar dois dos jogos antes de ouvir a explicação para aquele que eu ia jogar. Minha mesa esperou por mim tranquilamente, já aproveitando pra comer e papear um pouco, sem que precisássemos ficar nos justificando para evitar caras fechadas.

Concentradas em Coimbra!
O melhor de tudo foi explicar percebendo a atenção nos rostos. Ninguém antecipando regras ainda não ditas, fazendo caras e bocas, nem interrompendo para questionar ou sugerir outra forma “melhor” de explicar. Dúvidas eram postas como tais: cada uma falando em um momento. Todas pudemos nos ouvir e nos ajudar. Cheguei enfim para aprender
Coimbra, muito bem explicado pela mana @
paulabassi. Joguei e adorei.

Detalhe do tabuleiro de Coimbra (trilhas de desenvolvimento).
Nós, mulheres, encontramos entraves e desconfortos nos contextos em que ainda não aprenderam a nos receber como iguais. Assim, estabelecemos nós mesmas um espaço em que sentimos confiança de que não faltará respeito e abertura, e onde a competição fica restrita ao tabuleiro, aos dados e às cartas.
Não queremos um isolamento ou uma separação definitiva, mas sim um processo de reconhecimento dos desafios do cenário atual, para que possamos, todas e todos, concomitantemente aprender e transformar, com diferentes ferramentas operando ao mesmo tempo.
Sabemos que, pra que todo mundo possa jogar junto, à mesma mesa, é fundamental fortalecer os grupos que ainda são desestimulados a ocupar os lugares. Assim, estamos orgulhosas de crescer cada vez mais nessa intenção e em seus resultados.
Se você entende e apóia essa jogada, então estamos ganhando juntos.