Lançado em 2017 pelo designer Jacob Jaskov, Fog of Love tenta representar uma comédia romântica em boardgame, com situações hilárias, esquisitas, dramáticas e, claro, românticas. O jogo é para apenas 2 jogadores e cada um representa um dos personagens do casal na tentativa de atingir seu destino e, se possível, ajudar seu cônjuge a fazer o mesmo.
Fog of Love: Jogo em andamento. Foto: BGG.
No início de cada jogo, os jogadores formam seu personagem escolhendo sua profissão e suas características. Então, escolhem qual história jogar, que são as narrativas que definem o plot geral do início desse romance. A história descreve então como se conheceram, define a duração do jogo e quais cartas os jogadores poderão comprar para fazer sua mão de cenas - cada jogador sempre irá ter 5 cartas de cena na mão, que podem ser "românticas", "sérias" ou "dramáticas".
O objetivo de cada jogador é muito simples: Alcançar seu destino. Cada um possui uma mão com X cartas de destino que vai sendo reduzida ao longo do jogo até sobrar apenas uma e, ao fim da partida, ambos os jogadores devem concluir os requisitos de sua carta.
Alcançar seu Destino e cumprir os "trait goals" é o objetivo de cada jogador - além, claro, de ser feliz no relacionamento!
No seu turno, o jogador coloca uma cena em jogo que terá que ter sua resolução votada por um ou ambos os participantes. Após colocar a cena em jogo, ocorre a votação de forma simultânea e então os jogadores arcam com os efeitos da carta. Em geral, se escolherem a mesma coisa recebem um bônus de felicidade que é marcado na ficha de personagem e que define o quão feliz você está na relação. Além disso, ao escolherem uma das opções possíveis, os jogadores acrescentam um token à "dimensão da personalidade" correspondente. Se tiver feito uma escolha extrovertida, por exemplo, um token será acrescentado em extroversão. Isso é importante pois os jogadores tentam, além de cumprir seus destinos, alcançar seus "trait goals", cartinhas que estão no card holder, escondidas do seu companheiro e que dão pontos de felicidade extra ao fim do jogo se concluídas.
Aqui vale um ponto positivo pro jogo: existem muitas cenas, das mais básicas como "Quem vai fazer a limpeza da casa hoje?"; "Meu chefe quer jantar conosco. O que acha disso?"; "Acho que devíamos adotar um cachorro!"; até as mais mirabolantes como "Vamos trocar de emprego: eu vou no seu trabalho e você no meu!".
Que tal ser um bombeiro que fala gírias, usa óculos nerd e possui os dentes tortos?
Após jogar uma cena, os jogadores devem votar secretamente numa resolução. Depois, revelam sua escolha simultaneamente.
Tokens são adicionados à personalidade do personagem de acordo com escolhas feitas nas cenas. Isso servirá para tentar cumprir os "trait goals" recebidos no começo do jogo.
Mas e aí? É bom?
É diferente. Isso, sem dúvidas. A tentativa de fazer uma comédia romântica acontecer no boardgame é clara e as cenas são muito legais. A questão é que Fog of Love é mais experiência do que jogo. É mais roleplay do que boardgame. E pode ser bastante difícil encarnar um personagem numa relação romântica às vezes. Já me peguei em alguns momentos votando no que, eu, André, quero fazer dentro do meu entendimento do que é uma relação saudável e esquecendo de votar como o músico drogado que faz show toda sexta-feira ou como o Príncipe do Condado de não sei onde.
A questão de estratégia fica muito mais voltada para tentar cumprir seu destino, fazendo escolhas que o levem a esse caminho. Porém, a dificuldade aqui é cumprir seu objetivo e ajudar seu cônjuge a fazer o mesmo. Por vezes, ao se ajudar, você atrapalha o outro e ao ajudar o outro, você se atrapalha. O outro ponto da estratégia é tentar deduzir o que seu cônjuge quer, para que você possa realmente ajudá-lo a cumprir seu destino e não apenas fazer escolhas aleatórias e torcer para estar ajudando. Então, bem como num relacionamento, é difícil tentar fazer tudo o que você quer e ajudar seu parceiro a fazer tudo o que ele quer também. Seria possível bicar o balde pro seu parceiro e fazer de tudo pra chegar ao seu destino? Acredito que sim, mas não é o intuito do jogo. Para esse propósito seria mais fácil colocar um jogo de pancadaria na mesa e cada um que se vire com o que tem.
Como disse, Fog of Love é diferente. Não é o tipo de jogo que agrada todo mundo, especialmente não irá agradar aqueles que adoram um jogo mais competitivo, de maximização de ações e estratégias mirabolantes - acho, afinal, o jogo me agrada e eu curto jogos competitivos e de estratégias mirabolantes.
O jogo tem um ritmo bem gostoso, e acompanhado de uma cerveja e uma boa companhia, flui bem e leva os jogadores a tomarem algumas decisões difíceis e rirem de situações inusitadas. Fog of Love é o típico jogo que se destaca dos outros por conta da sua proposta fora da curva, como Tales of the Arabian Nights, e que, exatamente por isso, não atinge o grosso do mercado.
Dizer que representa uma comédia romântica é um pouco ousado demais, para mim não chega a tanto, mas Fog of Love garante uma experiência ímpar e muito divertida, especialmente quando os jogadores realmente entram no personagem. O jogo é uma grata surpresa num mercado inundado de lançamentos iguais ou extremamente parecidos, seja em tema, mecânicas ou estilo de jogo.
Fog of Love pode não ser um jogo que a maioria vai ter na estante, mas apenas o fato de tentar fazer algo diferente do usual, vale uma conferida para quem tiver a oportunidade.
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