Star Wars: Rebellion é um excelente jogo de tabuleiro com mecânicas assimétricas, fáceis e intuitivas, dotado de lindos componentes que se constituem num espetáculo a parte quando dispostos sobre o tabuleiro gigantesco, formado em duas partes.
Contudo, mais do que um simples jogo, o que realmente impressiona é a sua capacidade de forjar uma poderosa narrativa baseada na trilogia original do cinema de Star Wars. Menos importante do que vencer ou perder, o importante mesmo é experimentar a inesquecível experiência proporcionada pelas mais de 3 horas; 3 horas e meio de partida, entre 2 jogadores (apesar de indicar ser passível de até 4 jogadores) Rebellion é um autêntico 1 contra 1.
Logo na minha primeira partida, como o jogador imperial, você se descobre surpreendido com narrativa cinematográfica criada pela lógica assimétrica do jogo. No mesmo esteio do vilanesco Império do cinema, você dispõe de imensos recursos e um forte poder de oprimir a galáxia; enquanto o jogador rebelde se vale de diplomacia, operações especiais e da sabotagem para avançar sua agenda.
Para vencer, o Império depende de localizar a base rebelde, cuja localização lhe é desconhecida, precisando diluindo suas tropas pela vastidão das diversas regiões e sistemas planetários da galáxia, enquanto o jogador rebelde tentar iludi-lo sobre a posição de sua base, buscando sobreviver o suficiente para que seu marcador de prestígio (que avança de acordo com os objetivos exclusivos dos rebeldes, cujo cumprimento mina progressivamente o poder e a influência imperiais) reduza a quantidade de turnos da partida até se encontrar com o marcador de tempo. Uma mecânica poderosa que motiva as ações furtivas dos rebeldes e torne urgente a mobilização das frotas e soldados do Império.
Como jogador imperial, é um deleite assistir uma nova Estrela da Morte ou Super Star Destróier deslizar das suas linhas de produção para o tabuleiro ao mesmo tempo como se revela marcadamente frustrante testemunhar incisivas operações rebeldes nos seus sistemas menos guarnecidos, uma vez que, por maiores que sejam seus recursos (e eles são realmente muito superiores aos da Aliança Rebelde) a maior parte dele se encontra engajada numa luta desesperada contra o relógio não só para localizar a elusiva base inimiga, mas também, com tropas e naves em número bastante para destruí-la a tempo. Sim, por que, a despeito, do grande sacrifício de localizá-la, os imperiais ainda tem o imenso desafio de eliminá-la rapidamente, diante da capacidade rebelde de mover sua base para outro ponto desconhecido da galáxia, o que praticamente significa a derrota para o Império.
No meu caso, valendo-me das pistas disponíveis pelas cartas de sonda, o jogador rebelde, com muita habilidade, atraía-me para errado da galáxia! Somente ao executar uma missão imperial, na qual libertei um líder rebelde, com um dispositivo de rastreio escondido (como no filme IV) descobri a região da galáxia onde o sistema da base inimiga realmente se achava.
Com tempo mínimo de jogo restante, mobilizei minha Estrela da Morte para o ataque, acompanhada de uma frota impressionante, porém, sem tropas de superfície suficientes para conquistá-la. Assim, dependia somente do Super Laser da Estrela da Morte para destruir a base, ao mesmo tempo em que defendia minhas muitas posições na galáxia de missões rebeldes (nessa altura do jogo, bastava meu oponente cumprir um simples objetivo para ganhar o jogo!). Ou seja, ambos chegávamos ao final das mais de 3 horas e meia de partida superpressionados. Ele, com sua base localizada e sob a mira da Estrela da Morte, eu sem poder cometer nenhum erro, pois só restava um mísero turno para a vitória rebelde.
Então, a magia do jogo alcanço seu ponto máximo! Com tantos ações e movimentos na cabeça (levar a Estrela da Morte até o alcance da base, para somente no turno seguinte - o último antes da vitória rebelde - poder ganhar a partida com o tiro devastador do meu Super Laser menosprezei uma solitária unidade de caça X-Wing em órbita da base inimiga. Só que ele me atacou sob as regras de uma carta de missão rebelde, sim: bastava um pequeno tiro de um mísero caça para destruir minha Estrela da Morte, como a última ação desesperada do jogador rebelde. Se bem sucedido, seria uma vitória arrasadora. O Império perderia no último segundo uma vitória certa!!! Quem viu o filme IV - o filme original de Star Wars - sabe que esse é o desfecho sensacional da película.
Dessa vez, contudo, a rolagem de dados do jogador rebelde foi insuficiente, o tiro do seu X-wing apenas resvalou na entrada do reator da Estrela da Morte. E, no nosso jogo, passado no sistema Ilum, em vez de Yavin, o comandante da Estrela da Morte original (Tarkin), obteve a vitória na qual sua contraparte cinematográfica falhara. Meu Tarkin destruiu a base rebelde com um disparo certeiro e devastador do Super Laser, pulverizando a base rebelde!
Uma vitória suada, nervosa e desesperada! No último segundo!
Tanto eu quanto meu oponente rebelde compartilhamos da mesma opinião ao final da partida: a narrativa gerada pelo jogo fora sensacional, épica, espetacular, com suas mecânicas brilhantes reconstruindo minuciosa e surpreendentemente o mesmo clima da Trilogia Original, um efeito que me surpreendeu por superar o único outro jogo em que eu havia experimentado algo similar, ainda que bem menos efetivo, apesar de inspirador também: o jogo A Guerra do Anel, sobre a trilogia literária e cinematográfica inspirada do universo criado por J. R. R. Tolkien.
Um feito nada desprezível.
Para concluir, mais do que um jogo, novamente, Star Wars: Rebellion é uma experiência... Inesquecível, uma que todo jogador merece vivenciar.