
O MÍTICO MYTH !!!
Nós estreamos o mítico Myth aqui na Gruta do Groo, em uma das primeiras partidas do Brasil (a primeira documentada, pelo menos =) ). Mas por quê "mítico"???
Para quem nunca ouviu falar do Myth, ele é um jogo cooperativo, dungeon crawler, cheio de miniaturas da melhor qualidade, recheado de combates, lotado de cartas, e com um dos sistemas de gerenciamento de mão mais inovadores que vi aparecer nos últimos anos. Só estas características já seriam suficientes para garantir o sucesso do jogo, mas Myth ganhou o status de "mítico" devido à sua campanha de financiamento coletivo... dentre os financiamentos de board games, essa foi sem dúvida a mais frenética que eu já acompanhei no Kickstarter! =D
O financiamento do Myth aconteceu entre março e abril de 2013, fechando com mais de 5.000 financiadores que renderam ao projeto 926 mil dólares! Ok, ok, todos sabemos que outros projetos renderam até mais do que isso, mas nenhum teve um encerramento mais surpreendente e emocionante que o do Myth: só nas últimas 24 horas foram mais de 400 mil dólares arrecadados, uma miniatura especial oferecida a todos os participantes (a Knight of Twilight, desenvolvida pelo pessoal do Kingdom Death), e 6 stretch goals alcançados, dentre eles o Dragão, postado já no finalzinho da campanha com uma meta de mais 100 mil dólares que foi atingida em menos de 2 horas! O.o
Frenético, frenético... No fim da brincadeira, só os financiadores do pledge mais básico ($100 + $13 de envio) ganharam absurdas 113 miniaturas extras (no jogo base vem 41!!!), além de modelos dos lairs em plástico, tiles e cartas extras, moedas e tokens de metal, etc, e quem pegou pledges mais caros e/ou add-ons fechou a conta com cerca de 160 a 200 miniaturas. Pouquinho, né? =P

Explicado o caráter mítico de Myth, vamos ao jogo... =)
O Myth foi criado pelos game designers Brian Shotton e Kenny Sims, com ilustrações do Keith Lowe, e o know-how da MERCS Miniatures (que nos garantiu miniaturas de excelente qualidade, sem surpresas nem velas no final =D). Como eu já disse anteriormente, trata-se de um dungeon crawler cooperativo com temática de fantasia medieval, onde temos que ir explorando os tiles, eliminando os adversários, e cumprindo as diversas quests que aparecem durante o jogo. Até aqui nenhuma grande novidade, quem conhece o Mice and Mystics vai inclusive perceber as semelhanças básicas entre os jogos, principalmente no sistema de "Entrar em um novo tile, popular o tile com adversários, eliminar todos e partir para o próximo". Só que nessa comparação o Myth seria um Mice mega hardcore, com dezenas e dezenas e dezenas de elementos, regras e possibilidades a mais que o joguinho dos camundongos fofinhos. =)
A primeira grande sacada do Myth é que ele não é jogado em cenários rígidos, como acontece nos demais jogos desse estilo. São 3 modos de jogo: o Slaughterfield, que é basicamente uma arena de onde os personagens precisam sair vivos (não há histórias ou quests nesse modo), o Story Quest mode, que apresenta uma introdução e setup específicos para cada "Ato" (partida) da história, e o Free-form Questing mode, onde os jogadores ficam mais livres para irem criando suas próprias histórias através de um sistema de Quest Cards que podem ser encadeadas umas as outras, bastando obedecer aos ícones de Chain apresentados pelas cartas. Independente de se estar jogando o modo Story ou Free-form, aparecerão quests aleatórias durante o jogo, que se cumpridas oferecem bônus especiais para os personagens. Talvez vocês não tenham percebido, mas este sistema oferece uma rejogabilidade fantástica ao jogo. =)

A segunda grande sacada do Myth é a forma como os jogadores devem administrar o uso de suas cartas e, consequentemente, o momento em que ocorrerão os Darkness Cycles. Já é comum em jogos full cooperative que a sequência de jogo seja composta por uma fase dos heróis (jogadores) seguida por uma fase dos vilões (tabuleiro), que no Myth são chamadas de Hero Cycle e Darkness Cycle. A grande diferença aqui é que a ativação da Darkness depende da quantidade de Action Points (6 AP) gastos pelos heróis, ou seja, estes podem manter um certo controle sobre o momento em que um Dark Cycle será ativado.
Para você entender um pouco melhor... Os jogadores tem apenas 2 opções a cada Hero Cycle: mover seu herói (2 espaços) e/ou jogar cartas de sua mão (de 5 cartas), com a limitação de 1 carta de ação por Hero Cycle, enquanto as cartas de reação e interrupção são limitadas apenas pela quantidade de espaços no tabuleiro do herói (4 espaços). São essas cartas que permitirão realizar ataques, magias, mais movimentos, etc, etc, etc. Terminado um Hero Cycle (quando todos passarem a vez) os jogadores descartam as cartas usadas e da mão (pode guardar apenas uma) e repõem as suas mãos para 5 cartas. Ou seja, dependendo da estratégia do grupo, pode valer mais a pena usar muitas cartas e iniciar vários Darkness Cycles ou usar menos cartas e jogar vários Hero Cycles antes que um Darkness Cycle seja ativado. É justamente esse tipo de controle que garante muita estratégia ao jogo. =)

Do Darkness Cycle eu não preciso falar muito, não é? Embora ele tenha diversas regrinhas próprias, é basicamente o momento em que os inimigos serão movidos e atacarão os personagens, em que as lairs gerarão novos inimigos no tabuleiro, etc. Resumindo: é quando o bicho pega! =)
Enfim, Myth é um jogo com muitas e muitas regras, já que cada quest, cada personagem, cada vilão e cada tile tem um conjuntinho de regras e/ou habilidades próprias, o que oferece centenas de opções ao jogo, mas me impede de ser mais específico nesse review... =/ Minha preocupação aqui foi falar dos elementos mais inovadores do jogo, mas quem já conhece outros jogos do mesmo estilo sacou mais ou menos como funciona o Myth. =)

Mas e aí... O jogo é bom, Groo???
Myth não é para qualquer um, pois a sua complexidade (e nem falo das regras, mas sim da quantidade de coisas a se administrar ao mesmo tempo) vai afastar os jogadores mais casuais, mas para quem quer um bom cooperativo de combate tático e gerenciamento de cartas, ele é excelente (e difícil, perdemos feio a nossa primeira partida!).
A produção do jogo também está fantástica, com miniaturas super detalhadas, caixa com verniz aplicado, ilustrações bem legais, talvez pecando apenas em uma ou outra economia desnecessária, como os versos das cartas em monocromia (preto e branco) e as bases das miniaturas, mas nada que tire o brilho do jogo. Mesmo o manual de regras, tão criticado pelo mundo afora, não é esse horror todo... é muito bem produzido e achei até bem estruturado, embora tenha seus defeitos e não explique com clareza algumas coisas mais básicas... nada que já não tenhamos visto antes em manuais de empresas novas no mercado.
A minha sugestão é a mesma que eu sempre dou para quem lê o manual do Zombicide (que desesperou meio mundo, mas eu entendi tudo certinho desde a primeira leitura): leia e aplique as regras, não fique tentando interpretar (isso aqui não é RPG), e quando algo não estiver claramente definido, não invente regras mirabolantes (se elas fossem mirabolantes com certeza estariam claramente explicadas no manual), simplesmente aplique a regra mais simples (que quase sempre está definida por outras regras do manual).
Pow, mas e aí, o jogo é bom ou não é, Groo???!!!
Eu adorei! =D
Valeu!
Groo

Marcelo "Groo" Medeia é um dos sócios da Gigante Jogos, programador visual, board gamer semi-profissional, nunca escreveu nada, nunca publicou nada, nunca... enfim, basicamente ele nunca fez nada, só joga board games e escreve umas besteiras para você, que também é aficcionado por esse mundo dos Jogos Modernos. =P