Alvo Natural
Poucas coisas são tão desagradáveis quando uma situação de fora do jogo é usada como justificativa injustificável (as vezes incubada) para que um jogador sofra marcação ou perseguição em jogo ainda que dentro das regras de jogo. Esse tipo de anti-jogo quase sempre é levado na “esportiva” pelos participantes da mesa mas para o jogador que é o alvo da marcação / perseguição, a experiência de jogo pode ser muito frustrante.
Não quero tratar aqui de jogos que em dado momento obrigam os jogadores a investirem contra um jogador que, a menos que seja impedido , obterá a vitória certa. Se as regras do jogo assim permitem que aconteça, que seja! Alguns exemplos ilustram as situações as quais convido o(a) leitor(a) a refletir:
1) Na última partida um jogador foi traído por outro jogador. Na partida seguinte o jogador “traído” e ainda magoado decide que irá investir com tudo no jogador que quebrou com ele a aliança da partida passada.
2) Os jogadores combinam mutuamente que ninguém irá colaborar com um jogador em específico simplesmente por que ele é o dono do jogo.
3) Um casal por questões pessoais realiza todas as suas ações em prol da derrota do “conjugue” independentemente se isso o levará a vitória ou não.
4) Um ou mais jogadores, por uma desavença pessoal além de jogar o tempo todo contra um jogador em específico, tenta manipular a mesa em causa própria.
5) Um jogador da mesa torce para um time de futebol que todos os demais não gostam e por isso acaba "levando porrada" o tempo todo e de todos na mesa.
Eu poderia continuar dando incontáveis exemplos de situações que são no mínimo infantis por parte de quem tem esse tipo de atitude. A insistência desse comportamento por um ou mais jogadores na mesa pode criar uma tensão entre os participantes a ponto de inviabilizar a jogatina ou futuras sessões de jogo com esse mesmo grupo.
Certa vez detectei que em uma das mesas de jogo do projeto que eu "tocava", a única menina da mesa sempre ficava em último lugar nas partidas ou era era deixada como "boi de piranha" para os zumbis. Conversei com e menina e ela não relatou nenhum tipo de comportamento dos meninos com o qual ela se sentia desconfortável. Conversei com os meninos e notei que eles jogavam contra ela por não querer perder para uma garota.
Noutra situação em um jogo competitivo dois irmãos a despeito de todos os demais jogadores da mesa jogavam um contra o outro e negavam-se a colaborar juntos em jogos cooperativos. Conversando com eles descobri que eram competitivos mesmo fora do jogo em todos os aspectos de suas vidas particulares.
Grande maioria dos casos, a coisa se resolve com uma boa conversa em um trabalho exaustivo de conscientização quando se trabalha jogos com jovens. Quando estamos falando de adultos a coisa fica mais difícil e quase sempre é mais fácil evitar certos jogos ou certas pessoas.
Umas das primeiras lições que aprendi quando me iniciei no RPG, lá nos início dos anos 90 é que o que acontece na mesa fica na mesa. Situações de conflito ou desavenças de jogo devem ficar dentro do jogo. Levar isso para fora do jogo é algo que traz prejuízos dos mais graves para todos.
Em tempos atuais, onde pessoas de narciso fraco se relacionam de forma superficial pela internet e se acostumam a conviver em sua própria bolha com pessoas as quais utiliza como espelho, separar o que é do jogo e o que é de fora do jogo, pode se rum problema tão grande quanto o respeito por uma opinião diferente. Conheço gente que não gosta de jogar com "estranho". Vejo gente que que só elogia seus próprios amigos. Na vida real você não pode deletar uma pessoa ou bloqueá-la.
O momento de jogo deveria ser uma oportunidade para que todos os envolvidos possam escapar de suas realidades e viver ali uma fantasia prazerosa. O anti-jogo provocado por esse comportamento é danoso ao alvo/vítima porém é muito mais prejudicial ao(s) seus praticante(s) uma vez que os afundam cada vez mais em um poço do qual dificilmente sairão até que em um momento se verá(ão) sozinho(s).