Escrita por: Rodrigo Neves.
Introdução:
Antiquity, um jogo que cedo ou tarde você acabará por ouvir falar no nosso hobby, este ano recebeu uma nova impressão para a Essen de 2017, mas esteve muito tempo OOP, sendo vendido por preços astronomicamente altos. Como muitos outros jogos esgotados, obteve seu status de jogo grail por um longo tempo. Aceita de 2-4 jogadores, sendo disputado em partidas de 3 a 5 horas. Desenvolvido pelos designers Jeroen Doumen e Joris Wiersinga, foi publicado em sua primeira edição em 2004 pela Splotter Spellen, produtora especializada em jogos econômicos, de produção e logística. Esta editora é conhecida internacionalmente por publicar jogos bastante complexos, caros e de baixa tiragem. Outras produções famosas da empresa são Roads & Boats, Food Chain Magnate, Indonesia e The Great Zimbabwe.
Em Antiquity temos um jogo de cidades-estados concorrentes. No início, as cidades estão vazias e a paisagem está livre para todos. À medida que o jogo avança, as cidades iniciais crescem e novas cidades são fundadas, enquanto a paisagem é explorada e se torna uma bagunça poluída de terra inútil. A grande questão aqui é se os jogadores serão capazes de cumprir seus objetivos antes que todas as terras agrícolas sejam inutilizadas. As cidades, pousada e zonas de produção são construídas sobre um mapa modular, que descreve a área que você estará explorando. Há montanhas, lagos, florestas e planícies. De cada um desses tipos de terreno, você pode obter recursos diferentes: pérolas, conchas e peixes de água, ouro e rocha das montanhas, madeira de florestas e uma variedade de culturas ou ovelhas de planícies. Além do tabuleiro principal, cada jogador tem um pequeno board com uma grade, que representa o espaço interno que sua cidade possui. Os jogadores terão edifícios, em várias formas diferentes, que estarão construindo durante o jogo e tentando ajustá-los no espaço limitado que temos disponível.
Mecânicas:
- Alocação de Trabalhadores,
- Colocação de Peças,
- Negociação,
- Tabuleiro Modular
Síntese do Jogo:
Então, Antiquity é sobre a exploração da terra. A cada turno, os jogadores colocam seus homens para trabalhar. Eles trabalham nos edifícios da cidade, que oferecem uma série benefícios e habilidades. Alguns edifícios são meio que obrigatórios para cada jogador, pois facilitam ou são necessários para funções quase críticas, outros são mais adequados para certas estratégias. As escolhas do que construir e usar nem sempre é simples, já que a quantidade de homens disponíveis é bem limitada.
O livro de regras está bem escrito. Cada jogador começa com uma cidade e 6 madeiras para começar o jogo. Há dez fases em cada rodada: a construção da cidade e as fases de construção do país, são a que mais envolvem os jogadores e tomam seu tempo. Segue um resumo breve das fases para dar uma visão geral do jogo:
- Fase 1: Reset. Todos os trabalhadores na cidade são removidos do mapa da cidade, e ficam prontos para as atividades deste turno.
- Fase 2: Construções internas. Os jogadores colocam novos edifícios, pagando seus respectivos recursos necessários. Os edifícios são de tamanhos e formas diferentes, então um planejamento é necessário para ajustá-los à grade da melhor maneira. Apenas um de cada tipo pode ser construído por cada jogador, exceto para armazéns, carroças, fontes e casas. Cada edifício tem uma função específica, casas trazem homens para a cidade, carroças levam esses homens para fora nos campos, etc.
- Fase 3: Ordem de Jogo. É determinada pela verificação de quantas carroças e explorador cada jogador tem.
- Fase 4: Construções Externas. Cada carroça tripulada permite que um jogador construa um prédio no tabuleiro principal. Os lenhadores trazem madeira para construir edifícios, as minas trazem pedra (ou ouro). As fazendas/granjas trazem alimentos (ou vinho), os pescadores trazem comida (ou bens de luxos). Estes só podem ser construídos dentro da zona de controle do jogador, que se estende por dois hexágonos de cada cidade ou pousada.
- Fase 5: Armazenar mercadorias. Qualquer coisa que resta sobre os bens depois da construção é armazenada em seus armazéns, se estiver ocupada, senão elas estão perdidas.
- Fase 6: Colheita. Os edifícios externos produzem um bem. No entanto, uma vez que o hex que a madeira está dentro é esgotado, torna-se grama. Outras áreas tornam-se poluídas e não podem ser usadas novamente para produzir. Uma vez que a área dos lenhadores está esgotada, ele retorna à cidade para ser empregado em outro lugar.
- Fase 7: Explore. Durante a configuração, tokens de exploração são colocados em alguns hexágonos. Se você construiu um explorador, ele sai nesta fase para explorar o que são esses tokens, mas apenas se eles estão dentro de uma zona de controle.
- Fase 8: Fome. O nível de fome é verificado e cada jogador recebe tantos túmulos, quantos ultrapassarem seu estoque alimento e celeiro. Tumbas ocupam espaço em uma cidade e não podem ser construídos. Se todos os espaços em uma cidade estiverem cheios, as sepulturas começam a encher os prédios e estes perdem seu uso original.
- Fase 9: Poluição. Cada jogador deve colocar 3 poluições por cidade, e um jogador pode ter até 4 cidades. Isso é reduzido por ter um despejo e / ou fontes. A poluição se espalha pelo campo em uma zona de controle das cidades, tornando a terra inutilizável, principalmente, até que a poluição seja limpa.
- Fase 10: Verifique a vitória. As condições da vitória são decididas quando uma catedral é construída em homenagem a um dos 5 santos patronos. Cada santo tem condições de vitória muito diferentes, o que determinará a estratégia de um jogador durante o jogo. Por exemplo, San Nicolo exige 20 pessoas em jogo, enquanto Santa Bárbara exige que todos os edifícios sejam construídos.
Os dois aspectos que tornam Antiquity um jogo destacado são a poluição e a fome. Cada hex produz exatamente uma vez, então estará poluído. Há muitos hexágonos, mas uma vez que as ações do jogador estão limitadas a uma zona de controle de dois hexes em torno de suas cidades e pousadas, as terras agrícolas vão acabando bastante cedo. Não ter espaço livre para poluir dentro da sua zona de controle leva a colocar sepulturas dentro da cidade. Há, felizmente, soluções para este problema. A coisa mais fácil a fazer é expandir, porém em breve levará a uma competição feroz entre os jogadores. Há também meios para se livrar da poluição, mas são menos eficientes.
A outra fonte de sepulturas é a fome. Cada turno você precisa ter uma certa quantidade de comida disponível, caso contrário, o seu povo é perece. Uma faixa comum da demanda de alimentos é aumentada a cada turno, e você tem que tentar manter-se com recursos que contam como alimentos. Você não os perde para apaziguar a fome, mas precisa deles para uma boa parte dos edifícios.
Qualquer eurogame se contentaria em dar-lhe uma cidade-estado incipiente e algumas pecinhas para de te dar a impressão que você construiu algo legal. Em Antiquity todos já iniciam no meio da fome e sujeira, e as coisas só pioram. Você é obrigado a se destacar na adversidade. Todo o recurso que você coletar polui a terra, cada hex que seus adversários reivindicam é menos um que você poderá usar. Seu povo quer comida, sempre mais comida, sempre com mais fome.
Os edifícios são a chave do jogo. Alguns reduzem a demanda de alimentos para todos, alguns impedem a fome por si mesmo. Alguns expandem sua influência por terra, alguns pela água. Alguns permitem eliminar a poluição em alguns hexágonos, outros impedem a poluição que suas cidades produzem. O explorador permite que você obtenha uma semente (ou uma ovelha), que você precisará se desejar cultivá-las. O mercado introduz a possibilidade de recursos comerciais com outros jogadores, e o edifício de armazenamento é crucial se quiser manter os recursos de um turno para o próximo. Cada um lhe dará uma pequena mudança de regra, ou uma vantagem sobre os outros, e há muitas possibilidades de oferta de edifícios.
Um dos pontos mais bacanas neste jogo é que os jogadores podem escolher suas próprias condições de vitória. O edifício mais importante é a catedral. Quando construído, deve ser dedicado a um dos santos disponíveis. Cada santo tem uma condição de vitória e algum tipo de benefício é concedido a partir do ponto em que sua benção se torna pública. Desta forma, os jogadores podem escolher a condição de vitória que melhor se adapte ao seu estilo de jogo ou às condições do jogo. Neste ponto também há a escolha de quando declarar o padroeiro. É melhor construir a catedral imediatamente e usar a habilidade especial mais cedo, ou é melhor esconder os objetivos e construir a catedral mais tarde? Há ainda a opção da Santa Maria, que dá todos os benefícios dos demais santos juntos, mas exige o cumprimento de duas condições de vitória diferentes simultaneamente.
Avaliação:
Eu achei Antiquity uma das experiências mais incríveis que tive em euros pesados. Fiquei pensando e remoendo nos dias seguintes a partida, abordando novas ideias e estratégias que eu quero tentar na próxima vez. Eu achei o jogo bastante engenhoso. Os problemas são sempre os mesmos, mas existem muitas possíveis tentativas de soluções para eles.
O jogo é bastante complexo, no entanto. Bem... não é tão difícil na verdade, mas há muitas peças, regras e exceções. O tempo gasto em separar e empilhar as pequenas fichas de papelão, pode ser longo demais para algumas pessoas. O jogo em si já é longo, para iniciantes não espere que leve pelo menos quatro horas e mais de explicação + partida. No início, as regras parecem avassaladoras, mas após 2 ou 3 rodadas o jogo começa a cair na rotina. Há muitas decisões a serem tomadas em cada turno sobre o que construir e quando, e uma vez que a fome e a poluição começam a aumentar, manter isso sob controle enquanto ainda mantém suas condições de vitória no caminho certo, mantém você bastante ocupado durante a partida. Downtime? Nem consegui me lembrar dele enquanto jogava.
Antiquity está longe de ser um euro sem alma. O tema está lá e é forte. Para o ansiosos, pode parecer que sua alma está sendo devorada, pois o tema gira em torno de tentar prosperar durante os tempos obscuros, as sepulturas crescem, a poluição se espalha pela terra... a mecânica e os componentes ajudam a obter o "sentir" a opressão que o jogo está tentando apresentar.
Os componentes deste jogo são um caso de amor ou ódio. Eu mesmo gostei bastante. Não há minis, nem meeples e apenas alguns cubos. Felizmente parece que a nova edição tem melhoras significativas neste sentido. É um jogo impressionante. A caixa é enorme e contém muitas pequenas peças de papelão, são mais de 1400 tokens. Todos os componentes têm um tipo de aparência à moda antiga desbotada... e o resultado parece consistente, bonito e histórico. Mesmo a caixa é modelada após uma caixa de arquivo.
Alguns pontos a ressaltar. Primeiro, o jogo é apertado... as vezes um jogador ganha porque ele joga antes do outro... tipo, se ele não ganhasse, o amiguinho seguinte levava. Isso adiciona ao jogo a sensação de corrida que geralmente gosto em jogos. Segundo, o jogo é implacável... se perder toda a sua madeira e maneiras de obtê-la, você está morto. Se perder a sua capacidade de expansão, você está morto. Se falhar em prever seu crescimento e em planejar maneiras de alimentar seus trabalhadores, você se encontrará afogando em túmulos. Se falhar em poupar espaço para uma cidade extra que você precisa ganhar, você está morto.
Olhando de um ponto de vista imparcial: o jogo é longo, complexo e punitivo. Não é indicado para quem deseja se divertir no sentido de dar gargalhadas, mas sim colocar a prova sua capacidade de sobreviver a adversidade e opressão. Dá um trabalhão de explicar, montar e desmontar. É caro demais e configura aquele tipo de jogo bem difícil de ver mesa... Se for a versão antiga então, ocupará um espaço gigante na sua estante, na sua mesa e no seu pensamento mesmo uma semana após a partida. Na minha visão pessoal: após cerca de 620 jogos diferentes que tive a oportunidade de jogar até o momento, encontrei o segundo jogo que dei nota 10... Nada mais a declarar.
