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13 jogos que me influenciaram

Essa lista não é um "Top 13". É uma lista com jogos que, ao longo da minha vida, me tornaram o jogador que eu sou hoje, com minhas preferências, minhas manias, minhas chatices. Vários deles não estão nem entre meus jogos favoritos. Mas são todos jogos que me marcaram e que eu curto jogar até hoje.
Me inspirei em uma lista parecida publicada esses dias no BGG pelo usuário David Deblen (casualgod). Achei a ideia interessante e resolvi elaborar minha própria lista. Link para os interessados: https://boardgamegeek.com/geeklist/249228/50-games-influenced-me

1 comentário(s) Comentar

Itens (13)

1 - Truco

marciusfabiani 31 Dec 18, 20:01
7

Eu aprendi a jogar truco antes de aprender a ler. Foi o primeiro jogo que eu aprendi a jogar; sou mineiro do interior, e minha mãe jogava truco enquanto me amamentava. A família era (é) fanática por jogos de cartas: scopa, buraco, canastra, cacheta -- jogávamos de tudo, mas truco era sempre o mais divertido, o mais barulhento, o mais visceral. Não me lembro da época em que eu não sabia segurar cartas na minha mão. A influência do truco em mim transparece até hoje na minha paixão por jogos de cartas, por jogos de blefe, e por jogos envolventes, intensos e altamente interativos.

2 - Waterloo (I)

marciusfabiani 31 Dec 18, 20:18
2

Um tio meu, já falecido, foi quem mais estimulou minha paixão pelos jogos de tabuleiro. Ele era só 12 anos mais velho que eu, e sem dúvida foi o maior responsável pelo gamer que eu me tornei. Ele jogava tudo comigo, desde jogos bobinhos da Estrela, como Pula Pirata e Pinote, até xadrez. Foi ele que me ensinou a jogar os jogos que você encontrava em Uberaba na época (final dos anos 70, início dos anos 80): War, Banco Imobiliário, Combate, Detetive, Graphos, entre outros. Mas o jogo que mais me marcou foi Waterloo. Foi o primeiro jogo que eu conheci que tinha um "tema" (o jogo é praticamente um abstrato) mais sério: as guerras napoleônicas, que eu não tinha muita ideia do que eram, mas meu tio me explicou do que se tratava e isso enriquecia ainda mais a experiência. É o único jogo dessa época que eu me arrependo de ter se perdido; queria voltar no tempo e resgatar minha cópia das catacumbas da memória. Às vezes aparece uma edição no ML, mas não faria muito sentido ter outra cópia que não fosse a minha, perdida entre as mudanças e as voltas que a vida dá.

3 - Interpol

marciusfabiani 31 Dec 18, 20:27
5

Outro jogo da infância que ficou foi Interpol. Mas este, ao contrário de Waterloo, ficou mesmo: jogo até hoje, curto até hoje, embora minha cópia (de 2009) não seja mais a original da infância, que já se deteriorou há muito tempo. Na época eu não tinha ideia do que era "hidden movement", obviamente, e nem do que era Spiel des Jahres (que o Interpol ganhou em 1983). Hoje eu vejo gente descobrindo os "jogos modernos" e automaticamente desdenhando todos os "joguinhos da Grow". Muitos eram ruins, realmente, mas quem coloca Interpol na lata do lixo junto com o War está se desfazendo de um jogo muito bom, que não envelheceu um minuto sequer e que me influenciou na minha paixão por jogos de hidden movement como Letters from Whitechapel, Fury of Dracula, Hunt for the Ring e Mr. Jack.

4 - Xadrez

marciusfabiani 31 Dec 18, 20:33
7

Fechando a lista de jogos que meu tio me apresentou está o xadrez. Nunca fui bom, e não me lembro de ter ganhado dele, mas foi o jogo que me mostrou o poder dos jogos abstratos. Gostei do exercício mental envolvido em cada lance, e isso me acompanha até hoje. O xadrez me mostrou que nem sempre jogamos pela "diversão". Às vezes, o que queremos mesmo é exercitar as "pequenas células cinzentas", como diria o famoso detetive de Agatha Christie, Hercule Poirot. Mais tarde, já adulto, o xadrez foi o primeiro jogo que eu "estudei", no sentido de formar uma biblioteca sobre o jogo (que eu ainda tenho), estudar partidas, táticas e estratégicas, acompanhar o ranking mundial, essas coisas. Raramente jogo, continuo péssimo, mas foi, sem dúvida, um dos jogos que mais me marcaram na infância.

5 - Carcassonne

marciusfabiani 31 Dec 18, 20:50
7

Dia desses alguém postou uma enquete no fórum perguntando sobre o jogo que te introduziu no mundo dos jogos modernos. Não respondi, mas foi esse aqui. Na época chamava-se Domínio de Carcassonne (nunca entendi de onde esse "Domínio" veio). Eu havia passado vários anos longe dos jogos de tabuleiro ( a "vida" aconteceu: casamento, filhos, empregos, mestrado), com exceção de alguma partida de Catan (nunca gostei), algum xadrez, e jogos de cartas. Carcassonne me fisgou de jeito. A ausência do tabuleiro no meio da mesa explodiu minha cabeça: na verdade, o "tabuleiro" era formado, peça a peça, pelos próprios jogadores! E praticamente não havia possibilidade de dois "tabuleiros" iguais. É ainda hoje um dos meus jogos favoritos, e sem dúvida o jogo que eu mais joguei em número de partidas (algumas centenas). Já experimentei várias expansões, vários spin-offs (Hunters and Gatherers, South Seas, Over Hill and Dale, Amazonas, etc.), mas ainda prefiro o Carcassonne clássico, puro, em partidas de 2 pessoas. Prefiro a arte da edição da Grow, preciso conseguir uma (minha edição é da Devir). O manual da Devir não traz a relação de tiles, o que é uma falha grave, pois decorar os tiles do jogo é um dos pré-requisitos pra jogar bem -- todos aqui sabem os tiles de cor, né? :D

6 - Twilight Struggle

marciusfabiani 31 Dec 18, 21:02
4

O ano de 2016 foi o ano em que eu entrei de cabeça nos jogos de tabuleiro, por intermédio de um amigo que me chamou pra jogar na casa dele (se não me engano, jogamos Mysterium na minha primeira visita). Um ano antes, porém, eu já havia comprado um jogo meio que na louca, mas nunca havia jogado: Twilight Struggle. No finalzinho de 2014, lendo um blog sobre política que eu acompanhava na época, chamado FiveThirtyEight, me deparei com um post sobre o jogo (para os curiosos: https://fivethirtyeight.com/features/designing-the-best-board-game-on-the-planet/). Foi também quando eu conheci o BGG. Eu já conhecia Carcassonne, mas não dei, na época, o pulo pro mundo mais amplo dos board games. Esse texto me empurrou nessa direção. No ano seguinte, comprei o jogo numa viagem ao exterior, mas só fui jogar pela primeira vez com esse amigo, que foi quem me trouxe pro mundo dos jogos de tabuleiro modernos (aliás, coincidentemente, ele e meu tio têm o mesmo nome: Ricardo). Desde então, Twilight Struggle é meu jogo favorito. Depois do xadrez, foi o jogo que eu mais estudei: analisei partidas, li textos sobre cada uma das cartas, estudei aberturas e estratégias (abordagem Theory, abordagem Sankt). Ajudou o fato de o jogo ter como tema a Guerra Fria, período histórico que eu vivenciei na infância e na juventude. É o jogo pelo qual eu meço todos os outros, e sedimentou minha preferência por jogos para 2 pessoas, minha contagem favorita.

7 - Innovation

marciusfabiani 01 Jan 19, 02:24
1

Innovation foi meu primeiro jogo do Carl Chudyk, que hoje é meu designer favorito de jogos de cartas. Com ele aprendi a gostar de jogos desbalanceados, "quebrados" para muitos, que fogem da tendência atual dos euros ensimesmados e solipsistas, em que cada jogador olha pro seu umbigo e otimiza sua planilha. Innovation, Glory to Rome, Mottainai e Impulse são jogos em que é imprescindível monitorar tudo que seus adversários estão fazendo. Cada partida desses jogos é memorável, gera histórias pra contar e lições para as partidas seguintes. São jogos que têm o que falta pra mim em, por exemplo, Race for the Galaxy: o caos, a surpresa, o inesperado, o imponderável.

8 - El Grande

marciusfabiani 01 Jan 19, 02:43
4

El Grande e Tikal foram os dois jogos que iniciaram meu caso de amor com a mecânica do controle de área. O fato de ambos serem jogos do Wolfgang Kramer (em colaboração com Richard Ulrich e Michael Kiesling, respectivamente) me chamou a atenção pra esse designer alemão, que acabou se tornado meu designer favorito. Todo esse período que vai mais ou menos de 1995 a 2005, na minha opinião, é o "sweet spot" dos euros, o período em que foram feitos os grandes clássicos dessa categoria de jogos de tabuleiro. Kramer, Knizia, Schacht e outros desenvolveram uma escola de jogos que, para mim, ainda é a principal referência no hobby.
Não me canso de El Grande. Dispenso as expansões, a Big Box, a Centennial Edition: me basta o jogo base, que nunca me cansou. Nunca jogo com outra contagem que não seja 5 jogadores. Tudo no jogo é enxuto e interdependente: as cartas de leilão, as cartas de ação, o castillo, o rei, os caballeros e os Grandes. Regras simples e elegantes, interação absurda, tática e estratégia integradas à perfeição. Uma obra de arte em forma de board game.

9 - Detroit-Cleveland Grand Prix

marciusfabiani 01 Jan 19, 02:50
1

Até conhecer esse jogo, eu tinha preconceito contra jogos de corrida. Achava todos meio simplórios e sem decisões interessantes a serem tomadas. Detroit-Cleveland não apenas quebrou esse preconceito, como também me tornou um fã de bons jogos de corrida, como Winner's Circle, Downforce, Flamme Rouge e A Lebre e a Tartaruga. Foi também um dos primeiros jogos que joguei com a turma do Heavy Games Brasília (HGB), que se tornou meu principal grupo de jogatinas na minha cidade e no qual fiz grandes amigos. D-CGP sempre terá um lugar cativo na minha memória afetiva.

10 - Arte Moderna

marciusfabiani 01 Jan 19, 03:03
2

Se El Grande e Tikal iniciaram meu caso de amor com o controle de área, foi Arte Moderna que me atraiu pra outra das minhas mecânicas favoritas, o leilão. Ambas as mecânicas são praticamente garantias de interação, algo que valorizo muito em um jogo de tabuleiro. Jogo, pra mim, é interação, convívio, conflito e competição saudáveis. Daí vem minha preferência por mecânicas que valorizam esses aspectos, como leilão e controle de área, e minha resistência a mecânicas que privilegiam uma interação mais passivo-agressiva, como alocação de trabalhadores. Arte Moderna também me influenciou muito ao me apresentar ao designer Reiner Knizia, que acabou se tornando o designer mais presente na minha coleção: tenho 14 15 jogos dele.

11 - Pandemic

marciusfabiani 01 Jan 19, 03:11
4

Pandemic foi o segundo jogo cooperativo que joguei (o primeiro foi Mysterium), e é meu favorito. Joguei minha cota de coops (Mysterium, Hanabi, Eldritch Horror, The Grizzled, Ghost Stories, Gloomhaven, etc.), mas a franquia Pandemic continua sendo minha referência. São quebra-cabeças desafiadores perfeitos para o pensamento coletivo. Meu preferido é o Rising Tide, mas o Fall of Rome está chegando aí para bagunçar a hierarquia.

12 - Pax Porfiriana

marciusfabiani 01 Jan 19, 03:16
4

Pax Porfiriana foi o jogo que me apresentou ao universo do Phil Eklund e da Sierra Madre Games. É praticamente um hobby dentro do hobby. Os manuais são caudalosos e geralmente confusos; as regras são contra-intuitivas e difíceis de explicar; as partidas são exigentes e tensas. Ainda assim, existe algo nos jogos do Eklund que os destacam dos demais: o cuidado com o tema, as mecânicas inusitadas, a imprevisibilidade de cada partida. São jogos pra gamers experientes, difíceis de captar no início, mas que trazem uma satisfação ímpar depois que você os domina.

13 - Leaving Earth

marciusfabiani 01 Jan 19, 03:38
4

Leaving Earth representa o futuro dessa lista e o tipo de jogo que eu busco atualmente: jogos abertos, que os gringos chamam de "sandbox", como John Company, outro jogo recente que me chamou a atenção. Jogos que fujam ao convencional, que não sigam a moda da vez. Não sou um saudosista: acompanho as novidades, quero jogar os novos queridinhos de Essen, mas confesso que a maioria das novidades não me diz muito. Talvez pela minha idade (45), sou imune ao "cult of the new". Pra mim, um jogo tem que provar seu valor com o tempo. Também valorizo mais a profundidade do que a diversidade: prefiro jogar meus 10 jogos preferidos 100 vezes cada um do que jogar 1.000 jogos diferentes uma vez cada um.
Mas, é claro, sou um jogador antes de tudo: há poucos jogos que eu veto e me recuso a jogar. Mas os espaços de "queridinhos", a essa altura do campeonato, já estão quase todos ocupados, e fica cada vez mais difícil um intruso tomar o lugar de um jogo consagrado na minha preferência. Mas acho que esse talvez seja o caminho natural das coisas na vida quando vamos ficando mais velhos.

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