Perda de rosto

Ershabet nasceu vidente, propensa a visões estranhas e portentosas. Mas não foi o futuro que ela viu – ou pelo menos, não com frequência suficiente para que os seus poderes ajudassem a sua família. O que a princípio pensaram ser uma bênção acabou se revelando uma promessa vazia. Mas os seus sonhos não eram vazios, pois neles ela via a Mãe de Cem Rostos. Ela se ofereceu em devoção imediatamente e recebeu suas justas recompensas. Os rostos que ela pegou emprestado de seus companheiros cultistas – criaturas estranhas espalhadas por muitos mundos – trouxeram-lhe a prosperidade que ela desejava, mesmo que nem sempre fosse uma vida honesta.

Mas com o passar dos anos, ela ficou desiludida com o culto ao qual havia aderido. Não bastava ela trocar rostos com alguém distante. Ela não queria devolvê-los. Ela queria possuí-los. Da mesma forma, ela passou a odiar seus correligionários, especialmente os monstruosos. Com o tempo, até o simples pensamento de alguma criatura desumana usando seu rosto foi suficiente para deixá-la doente. E então ela se despediu da Mãe e abriu um novo caminho para si mesma – um caminho de assassinato.

Alguns diriam que Ershabet se tornou mais monstruosa do que aqueles que ela desprezava. Mas, novamente, a maioria daqueles que descobrem suas verdadeiras intenções não vivem para contar a história. Pois embora ela use uma máscara de rostos mumificados, com ossos de crânio e tudo, ela não é rápida em dizer como eles são obtidos. Isso assustaria aqueles de quem ela deseja obter novos rostos: seus companheiros aventureiros.