Escrita por: Rodrigo Neves.

Sinopse do Jogo:
Em “A Game of Gnomes” cada jogador é um gnomo, e segundo os autores, é pequeno em estatura, mas imenso de coração. Sua ânsia por uma aventura só é comparável ao seu desejo por tesouros e amor por cogumelos. Entretanto, já é hora de deixar a proteção de sua bela casa gnômica e procurar sua fortuna em lugares distantes.
Nesta superprodução da Fragor Games, os designers Gordon e Fraser Lamont trazem um jogo de gerenciamento de mão e pick-up and delivery, onde os jogadores têm um ano para andar pelo reino coletando as diversas espécies de cogumelos, e otimizando as vendas em aldeias com demanda, sempre buscando aquelas que podem pagar melhor. O gnomo mais rico ao final vence o jogo.
Lançado na Essen de 2015, A Game of Gnomes é um belo jogo que mantém o estilo artesanal da Fragor. Com baixa dependência de idioma, partidas com média de 2 horas de duração e suportando de 2 a 4 jogadores, este é um bom jogo temático de fantasia, recomendado para a família e amigos.
Mecânicas:
- Administração de Cartas;
- Pegar e Entregar.
Componentes:
A Game of Gnomes vem em uma caixa bonita e muito grande, com destaque para a altura dela. Creio que ela seja a caixa mais alta de um boardgame que já vi, superando monstruosidades como Ogre ou Cthulhu Wars, na altura.
Como nos demais jogos desta produtora, aqui não poderiam faltar as peças artesanais de resina pintadas a mão. No total são cinco gnomos, quatro cogumelos raros e duas portas para o túnel. Muitos acham que existe um exagero na produção neste tipo de peças, mas este é um dos diferenciais e a marca registrada da Fragor. É notável que existe todo um capricho na embalagem e na proteção delas, que são acondicionadas em um estojo de isopor de fábrica.
Porém, neste jogo eles se superaram... mesmo em todos os sonhos artesanais megalomaníacos sobre boardgames, ninguém imaginaria que os caras conseguissem colocar uma montanha de resina dentro da caixa!
Entre os componentes que completam o jogo, temos: um tabuleiro médio, alguns tokens de aldeias e variados, pedrinhas que representam o dinheiro do jogo e cogumelos de madeira que representam os comuns que podem ser coletados de forma fácil durante a partida. Temos também uma centena de cartas variadas: acessórios, sonhos, ações e quests, em boa quantidade para garantir uma rejogabilidade bacana.
Síntese do Jogo:
Para montagem do tabuleiro, colocamos a montanha na parte indicada e distribuímos os tiles de locais no mapa, de forma aleatória. Para a primeira partida, existe uma sugestão de setup para elas. Cada local é um tile com um nome e uma inicial única. Estas iniciais são importantes por causa das quests que poderão ser obtidas durante o jogo. Existem três tipos de peças: lojas, aldeias e as casas dos jogadores.
As lojas possuem bordas brancas e não produzem/compram cogumelos. Mas em compensação, os jogadores poderão comprar diversos itens importantes lá durante o jogo. Entre eles estão mochilas que aumentam o limite de cartas na mão; cestas que permitem carregar mais cogumelos; botas, machados, bussolas e barcos que facilitam o deslocamento; chaves para usar o túnel; mapas para subir a montanha em busca do cogumelo raro; barcos e diversos outros tesouros que valem pontos no fim do jogo.




As aldeias produzem cogumelos das cores indicadas no centro do tile. Existem cogumelos das cores azul, amarelo e vermelho, representando as espécies diferentes. Conforme os gnomos fazem suas ações, as semanas passam, e com elas o marcador de tempo na trilha ao redor do tabuleiro também. Como a trilha está dividida em estações: primavera, verão, outono e inverno, mudar estação significa a entrada de uma nova espécie em jogo. Uma sacada muito temática. É preciso ficar de olho, pois algumas espécies apodrecem com a chegada de certas estações, então os remanescentes saem nesta virada também... inclusive os que já foram colhidos, nas cestas dos jogadores.
No começo os cogumelos azuis entram em jogo. Além de produzir, as aldeias também compram cogumelos, geralmente aqueles da cor que não é produzida lá. O tipo de cogumelo consumido é indicado pelas cores nas bordas das aldeias. Por isto no início do jogo, entram três pedras preciosas lá, marrom, verde e branca, com valores 1, 2 e 3 respectivamente. Ao vender um cogumelo em uma aldeia, o pagamento será justamente a pedra de valor mais alto a disposição.
As casas dos jogadores são seus espaços iniciais, que também produzem cogumelos ao longo do ano, mas nunca compram, pois tem bordas brancas. Cada jogador recebe alguns equipamentos iniciais, uma mochila que suporta 4 cartas na mão, uma cesta que leva apenas 1 cogumelo, uma chave do túnel e uma carta de sapo, que pode ser chamado durante alguma rodada do jogo, para facilitar o translado... como uma espécie de “cavalo”. Ao longo do jogo os jogadores vão comprando itens que melhoram a jogabilidade.
Interessante que existe um túnel em jogo, ligado pelas duas portas de resina. Ao usar uma chave em uma aldeia com túnel, ela será descartada e o gnomo levado instantaneamente para a outra porta, sem gastar mias ações. Mais chaves podem ser compradas nas lojas.
Em cada rodada, os jogadores possuem até 7 ações, chamadas de semanas, que podem ser gastas entre as seguintes atividades:
1ª Ação – Movimento: Os jogadores podem se mover pelas trilhas pontilhadas do mapa de um local para outro. As cores correspondem aos tipos de terrenos: branco é montanha, marrom e floresta e amarelo é planície. Para se mover, o jogador tem que jogar uma carta de viagem do terreno desejado. Cada movimento gasta uma semana ou duas, dependendo da distância. Existem itens que permitem se deslocar gastando ação, mas sem usar as cartas, o que facilita bastante. Temos também barcos que podem ser comprados na loja, que permitem se deslocar pelo lago ou rios. No inverno, a última estação do jogo, estes congelam, sendo permitido viajar a pé por eles gastando duas ações por deslocamento, sem cartas.



2ª Ação – Comprar cartas de viagem: Os jogadores gastam uma semana para cada carta de viagem da pilha que for comprada. O número de cartas na mão, durante a sua rodada é ilimitado, mas aquelas que excederem o limite da mochila, ao final da rodada, serão descartadas. Um ponto interessante aqui, é que os tesouros comprados nas lojas, também contam para os limites de mão. Isto impacta em uma corrida pelos tesouros no inverno, ao fim jogo.
3ª Ação – Coletar cogumelos: Os jogadores que se encontram em uma aldeia com cogumelo a disposição, gastam uma semana para coletar, independente da cor dele. Porém, deve haver espaço disponível na sua cesta para guardá-lo. Não há limite de coleta por aldeia, apenas pela cesta.
4ª Ação – Vender cogumelos: Os jogadores que se encontram em uma aldeia com demanda por uma cor, podem vender um ou mais cogumelos de sua cesta e coletar seu pagamento. Esta ação não custa nada, é custo zero.
5ª Ação – Comprar um item na loja: Os jogadores que se encontram em uma loja, podem comprar quantos itens desejar lá a disposição, sem gastar semanas para isto.
6ª Ação – Renovar o estoque de uma loja: Os jogadores que se encontram em uma loja, podem abrir mão de duas semanas da sua rodada, para eliminar as 4 cartas do estoque e abrir novas 4 cartas.
7ª Ação – Pegar uma quest com o feiticeiro: No reino existe um feiticeiro, cuja missão de vida é dar trabalhos para os gnomos já atarefados. Para chegar até a torre do feiticeiro, no centro do tabuleiro, os jogadores precisam jogar uma combinação qualquer de três ícones de viagem. Então eles podem aceitar uma missão. O bom do feiticeiro é que ele paga adiantado a recompensa, mas caso a missão não seja cumprida, o custo será altíssimo no final do jogo. Segundo os autores, é muito caro conseguir uma capa de invisibilidade para fugir de um feiticeiro furioso.

Um dos pontos mais interessantes do jogo é a montanha, cujo topo, contém os cogumelos mais raros e cobiçados de todo o reino. Ao longo do jogo, cada um dos gnomos pode se aventurar para conseguir coletar um deles. Mas para isto, é necessário possuir os mapas que ensinam o caminho. Em geral, eles se separam em duas partes, e que serão obtidas provavelmente em lojas diferentes e momentos diferentes. Mas estes cogumelos valiosos garantem 8 pontos de vitória extras no fim da partida, se forem coletados e vendidos.
No fim do jogo, que ocorre quando se ultrapassa a semana 52 do inverno, ou seja, após um ano completo, vence o jogador mais rico. Contam-se suas pedras, tesouros e o marcador do cogumelo raro, se houver. Caso alguma quest do feiticeiro esteja pendente, ela deve ser descontada.
Avaliação:
Visualmente, Game of Gnomes é um jogo único, deslumbrante e encantador. Possui um mix de mecânicas muito bem amarradas, bem como uma temática mercante forte. O jogo transpira o tema... mudanças de estações, cogumelos que nascem e apodrecem, quests do feiticeiro, demandas de mercado... você quase se sente um mascate andarilho. Já a questão da fantasia, de ser um gnomo e tudo mais, fica um pouco colado no cuspe mesmo.
Claro que um dos seus pontos mais fortes é a questão do acabamento das peças de resina artesanais, uma marca registrada dos designers. As peças são muito bonitas e sólidas, mas nada se compara com a montanha gigante, que traz um diferencial a mesa inegável. Entretanto, é importante frisar que apesar desta superprodução das peças principais do jogo, talvez falte um pouco de empenho em caprichar mais em alguns outros componentes. Meeples, tokens e tabuleiro poderiam ser de melhor acabamento e com arte mais profissional. Mas isto não tira o mérito do jogo ou seu valor.
A Game of Gnomes é um jogo que possui uma leve base matemática, de otimização e logística, mas com fundo dinâmico, dado que algumas variáveis alteram a leitura do jogo constantemente. Seja porque os produtos da loja e as quests do feiticeiro se renovam, ou por causa das vendas dos demais jogadores, como em um GPS, a todo momento precisamos realinhar nosso trajeto. Mas seguindo a linha de jogos da Fragor, são análises menos profundas e mais acessíveis. Apesar de não ser um gateway, dá para jogar com a galera menos envolvida no hobby tranquilamente.
Um ponto relevante são os cogumelos raros, que valem uma dose considerável de pontos ao fim do jogo. Mesmo que pareça difícil conseguir um para você durante a partida, nunca subestime a diferença que eles podem fazer na contagem final. E se esforce para pegar ele antes do inverno, porque no fim do jogo a briga pode ficar grande para conseguir as cartas de tesouro. Como os tesouros contam para o limite de mão dos jogadores, existe uma tendência a deixar mais para as duas últimas rodadas.
Vale lembrar que este é um jogo bem dificil de achar, de tiragem ultralimitada e bem difícil de se importar para o Brasil. Mas para quem gosta de experimentar jogos novos e family games, vale a experiência de uma partida. Pessoalmente achei o jogo muito bom! Mas devo confessar que tenho um motivador extra, por tentar colecionar os jogos da Fragor. Para quem se interessou pelo Game of Gnomes, existem outros jogos um pouco mais conhecidos dos mesmos designers: Shear Panic, Dragonscroll e Poseidon's Kingdom.
Os irmãos Gordon e Fraser Lamont.