O jogo fruto do projeto 3R está pronto. Temos as mecânicas bem alinhadas, possuímos a contabilidade exata dos componentes de jogo e talvez nunca consigamos testá-lo tanto quanto gostaríamos.
Ele é essencialmente um jogo de rolar dados e mover-se por meio de uma trilha. O que torna o jogo ligeiramente diferente de qualquer outro que eu tenha jogado ou sobre o qual tenha lido/visto/ouvido algo a respeito é o gerenciamento de dados no qual se baseia tudo o que os jogadores podem (ou não) fazer.
Olhando para março/16 quando começamos a imaginar o jogo, vejo quanta coisa aconteceu, mudou e foi abandonada para que chegássemos até o ponto no qual estamos. As dificuldades de ajustar as regras, de criar um identidade para o jogo e torná-lo mais que um monte de papel colado com durex e impressões de baixa qualidade. Hoje quando olhamos para o jogo conseguimos enxergar nele, algo de valor imensurável para nós, mas de futuro incerto. As vezes gostaria que ele ainda não estivesse pronto, pois saberíamos exatamente qual seria o próximo passo.
O que falta? Um protótipo apresentável (a priori). Os testes até então foram feitos apenas de forma interna. Apesar da vontade de dar a cara pra bater em alguns eventos e outras oportunidades de experimentá-lo em testes públicos, optamos por permanecer às sombras até que tenhamos um protótipo que seja atrativo a quem quer que deseje gastar seu tempo em testar o jogo.
Os testes foram feitos com um grupo de quatro jogadores e tive a sorte de poder experimentá-lo com 2 jogadores também e para minha surpresa, em ambos os casos tudo funcionou perfeitamente bem. O que me preocupa e é o ponto em que gostaria de conversar com vocês, é sobre a aceitação que este jogo poderia ter dado o atual momento do hobbie em solo nacional.
1) A moda da administração de dados: Parece que a onda do momento é lançar jogos com alocação de dados e apesar de gostar da forma como o jogo utiliza essa mecânica, não sei se haveria espaço nas mesas brasileiras para um jogo indie feito por alguém desconhecido que utiliza dados em lugar de meeples.
2) Outra coisa que me preocupa bastante é o fato de que o jogo utiliza 50 dados de 6 faces. Quem estaria disposto a comprar/reunir 50 dados, para experimentar um jogo amador? Tenho uma alternativa para o uso dos dados: algo a ser utilizado em uma possível versão PnP (infelizmente ao custo da experiência de jogo que os dados conferem aos jogadores).
3) O tema. O tema é pobre e pouco atrativo. Se trata de uma corrida de galinhas ao redor de uma fazenda/sítio/chácara. Desde o inicio perseguimos a idéia de ter um jogo puramente abstrato e quando surgiu um tema para o jogo ele nos serviu em alguns aspectos mas sempre nos distanciamos das possibilidades de aprofundarmos muito nele. Acho que conseguimos isso muito bem: temos um tema mas ele não é crucial no jogo. Esse nosso objetivo, no final talvez seja nossa principal desvantagem: Vejo um monte de jogo ser vendido por sua caixa e pelo seu suporto tema. Causa expectativa nos jogadores e acaba frustrando por não ser o que promete. Não estamos prometendo uma “mega experiência temática”. Nosso jogo é abstrato e o tema é colado com cuspe. Isso pode não agradar.
4) A arte do jogo. Definitivamente este não é um jogo onde o tema seja fator decisivo “in game”. Não temos grana para pagar um artista. Ninguém em nosso grupo é ilustrador ou designer. Somos um bando de oreia seca que passou os últimos 3 meses se divertindo enquanto brincava de criar um jogo tosco. Portanto, toda a parte visual do jogo está bem rudimentar e o nosso melhor protótipo não encoraja muito alguém a encará-lo.
5) Este não é um jogo que agrada por ser engraçado. A diversão proporcionada pelo jogo vem do prazer que o jogador tem de ser recompensado por ter aproveitado ao máximo as possibilidades que ele tem turno a turno e a concretização de seus planos a longo prazo. Até onde percebi a grande e imensa maioria dos jogadores brasileiros ainda está na pegada dos jogos que vendem risadas a cada carta descartada ou dado rolado. Ouço com muita frequência o pessoal argumentar que vão fazer um jogo leve para "entrar" no mercado e blá, blá, blá. Acho que os tubarões nascem nadando e se é para deixar minha marca quero algo que represente um pouco do meu gosto pelo hobbie. Se o jogo vai ser publicado ou vendido algum dia, no me importa ... Esse não é meu ganha pão, mas sei que meu público já está restrito por tentar focar o público mais "dedicado".
6) Teste público. Após a confecção de um protótipo apresentável, temos a seguinte questão: Vamos adaptar o jogo para uma versão PnP ou o jogo deve viajar o país em testes aleatórios?
Estou de frete para uma prancheta rabiscada um monte de dados e cubos pitados toscamente. Meu cachorro rasgou alguns papelões que eu iria aproveitar de alguma forma. Vou passar o resto da noite repensando o jogo e talvez amanhã tenha uma outra versão de algo que talvez já esteja bom o suficiente. Quando parar? Não sei, mas sem a pressão de ter que publicar logo posso trabalhar com calma até ter algo a altura dos que nos apoiaram até aqui com seu tempo, opiniões, comentários e reflexões ....