Uma regra bem comum nos textos sobre game design é que suas ações não podem ter um ganho alto demais em relação ao custo ou seu jogo vai explodir sem controle. Em vários, você gasta a suas poucas economias para fazer uma construção que vai se pagando aos poucos, ao longo do tempo enquanto as rodadas vão passando. Em 51st State Master Set, Ignacy Trzewiczek diz que você não tem tempo. Diz que cortou várias regras da versão original para deixar o jogo mais fluído. E olhando o resultado, tudo indica que ele cortou essa regra de game design também.
A grande maioria dos designers de jogos estratégicos dá a seus jogadores um conjunto de ferramentas para que eles construam, com muito esforço, sua máquina de pontos. Trzewiczek preferiu colocar à disposição de cada jogador um conjunto de fósforos, pavios, tesouras e vários barris de pólvora. Ganha quem explodir primeiro. Até lá, você também deve soprar e cortar os pavios dos adversários. Ignacy Trzewiczek é maluco e um incendiário!
Quando você é apresentado aos mecanismos básicos de 51st State Master Set as regras não ficam no caminho: as cartas possuem uma distância e podem ser usadas de três formas diferentes. Para cada uma você deve converter recursos em um número de marcadores igual à distância da cor da função que tem interesse. Some a isso uma forma de desenvolver cartas em outras e você está jogando em pouco tempo. Rápido e rasteiro.
Quando você começa a jogar 51st State Master Set um sinal de alerta toca em sua cabeça. Uma primeira ação parece boa demais. A segunda também e ainda aumenta os recursos na próxima rodada. A terceira não diretamente, mas vai destruir algo na mesa de outro jogador e ainda dá para fazer uns pontos de vitória. Você pode, ainda, enviar os seus lacaios para conseguir mais uma carta e trazer mais uma leva de novas e gordas opções...
Já na segunda rodada começam a aparecer comentários como “O jogo está quebrado, vou jogar umas dez ações nessa rodada!”. Não está, foi feito assim. O incendiário queria ver o jogo pegar fogo. Vence quem quebra o jogo. “Sempre que eu jogar com essa facção/estratégia vou ganhar”. Não vai. O incendiário quer ver quem quebra o jogo, primeiro, de forma mais eficiente. “Montei um combo muito forte!”. Então alguém vai lá e destrói uma de suas construções que é a espinha dorsal do plano. “Se vão destruir tudo eu vou perder!”. Se destruíram uma construção pequena, te deram uma oportunidade de levantar algo mais grandioso no lugar, só se preparar para isso ao ver o movimento das tropas.
O tema de futuro pós guerra nuclear é presente no comportamento esperado dos jogadores: você tem armas, o oponente tem recursos desprotegidos, não existe mais sociedade com lei ou moral imposta. Então, por que não? E lá vai mais uma escola ao chão. As crianças? Agora fazem parte da sua facção na próxima incursão para buscar recursos. Quer fazer uma partida mais pacífica? Ninguém se importa com o que você quer. As invasões pela sobrevivência vão continuar.
Uma partida de 51st State Master Set se desenrola por poucas, longas e conturbadas rodadas. O planejamento tem que ser feito em meio à vicissitude de um mundo agressivo e cruel. As opções se multiplicam como labaredas se espalhando por um prédio em chamas. Fogo e explosões. Ao final, apenas as cinzas de conceitos e regras tradicionais de game design sendo consumidas pelo fogo do incendiário.