Escrita por: Rodrigo Neves.

Sinopse do Jogo:
San Marco é um jogo de controle da área por maioria da escola clássica, com regras simples, mas muitas opções estratégicas. Foi criado por Alan Moon em 2001, o mesmo autor de Ticket To Ride e Airlines Europe. Neste jogo, cada jogador representa uma família influente de Veneza, que disputa uma vaga no conselho governante da cidade.
Para isto, devemos usar cartas para distribuir nossos aristocratas pelos distritos, e buscar chamar a atenção de Doge para pontuar. As cartas servem para executar diversas ações como colocar os aristocratas (cubinhos) nos distritos, construir pontes, levar o Doge para um distrito, transferir ou expulsar aristocratas adversários. San Marco é um jogo de 3 a 4 jogadores, e que dura em torno de 1:30hs de partida, poucas regras, fácil de explicar, com setup bem rápido e um bom grau de interação entre os jogadores.
Mecânicas:
- Controle de área;
- Seleção de cartas;
Visão Geral:
San Marco é um jogo um pouco antigo, que possui uma arte bem bacana, apesar que fica muito evidente a sua idade. A começar pela caixa baixa e comprida, no estilo de outros jogos como Arkadia, Maharajara ou El Grande. Ele possui ainda um insert bem feito, que deixa pouca folga para os componentes... que aliás, são em pequeno número para o tamanho da caixa.
O manual é impresso em preto e branco, com papel que lembra bastante o utilizado pelos jornais. Mas é bem escrito e amarrado, não deixando espaços para dúvidas.
O jogo vem com um meeple de Doge, um dado, um marcador laranja para as rodadas, algumas pontes e cubinhos para os jogadores.
O tabuleiro representa a cidade de Veneza, dividida em distritos. As cores usadas são vibrantes e arte remete à produções de época, de artistas da região. O tabuleiro ainda conta com uma trilha de pontuação ao seu redor, um marcador de rodadas e um quadro de distribuição de cartas.
No começo do jogo, cada jogador rola o dado 3 vezes, e em cada lance, aloca um par de cubos (aristocratas) nos respectivos distritos. As imagens de faces de dado nos distritos só servem para o setup mesmo. Em seguida, cada um aloca duas pontes no mapa, marcando com um cubo da sua cor, para indicar a sua propriedade.
Existem dois tipos de cartas em San Marco: cartas de ações de fundo azul e as cartas de limite de fundo verde.
Temos poucas ações no jogo. Algumas cartas representam os distritos de Veneza. Ao utilizar uma delas, o jogador terá direito de colocar um dos seus aristocratas neste distrito. Caso, você seja o dono de alguma ponte neste distrito, será permitido mover o aristocrata recém-chegado para um distrito vizinho, desde que passe por uma ponte sua.
Outras cartas permitem a você construir novas pontes entre os distritos. Deve-se obedecer ao limite de, no máximo, duas pontes diferentes interligando os mesmos distritos. Caso todas as pontes da reserva tenham sido construídas, o jogador poderá tomar uma ponte construída por outro jogador, realocando ela em outro lugar e tomando sua posse.
Outras permitem que você role o dado para expulsar as aristocratas de um distrito, ou uma transferência, onde você um cubo de um adversário do jogo e substitui por um seu, representando que ele traiu a antiga família e passa a trabalhar para vocês a partir de agora.
Por fim, existe a carta de Doge, que permite chamá-lo para um distrito e executar uma pontuação instantânea lá. O jogador com mais cubos no local ganha a maior pontuação de lá, a segundo maior ganha a pontuação menor. Em caso de empate duplo ambos ficam com a pontuação menos. Em caso de empate triplo ou maior, ninguém ganha nada. Ou seja, o jogo não privilegia o empate, a vitória por maioria é muito mais valorizada.
Outro ponto importante é que o Doge somente pode visitar um distrito que tenha uma rota de pontes para chegar lá, ele nunca passa pela água. Porém, caso seja necessário passar por uma ponte que não seja sua, você terá que pagar 1 ponto de vitória ao dono, para passar com ele.
As cartas de limite são sempre numeradas de 1 a 3.
A alma do jogo está na distribuição e seleção das cartas. No início de cada turno, os jogadores sorteiam quem serão os distribuidores e seletores. Existe uma tabela para lembrar esta ordem no tabuleiro principal. Para 3 jogadores, um jogador irá distribuir e os outros dois selecionarão.
O distribuidor compra 6 cartas de ação e 4 de limite das respectivas pilhas. Compra as cartas fechadas do topo. Em seguida ele precisa separar o montante, abertamente, em três conjuntos. Não existem regras para esta distribuição, apenas que cada conjunto deve conter uma carta ou mais. E isto é lindo!
Mas porque é lindo?... Deixe-me explicar. Despois que o distribuidor separa as cartas, o primeiro seletor escolhe uma das pilhas para ele e executa as ações na mesma hora, colocando as cartas de limite abertas na sua frente.
Em seguida, o segundo seletor escolhe a sua pilha entre as duas que sobraram e também executa o mesmo procedimento. Por fim, o distribuidor poderá ficar com a pilha que sobrou e também executar as ações. Sinceramente, o papel do distribuidor não é nada fácil. Se for um jogo disputado, neste momento o cérebro do cara literalmente enfumaça... brainburn puro!
Um ponto a favor do distribuidor são as cartas de limite. A cada turno, os jogadores devem colocar as cartas de limite compradas a sua frente, de forma acumulativa. Quando o primeiro jogador atinge o limite de 10 pontos, anuncia-se o final da rodada. Isto significa que haverá apenas mais um turno depois disto, e o cara que estourou os 10 pontos não participará. Sim, isto mesmo, ele estará fora, e os outros dois jogadores poderão executar mais um turno inteiro de ações... sem ele.
San Marco se passará em três rodadas. No final da última delas, existe uma pontuação final, onde todos os distritos pontuarão, independente de onde o Doge esteja. O jogador de maior pontuação vence a partida.
Avaliação:
A mecânica mais original do San Marco é a distribuição das cartas, onde alguns jogadores fazem papel de distribuidores e outros de seletores. Interessante é que a distribuição tem regras diferentes para 2, 3 ou 4 jogadores. Para 3 pessoas na mesa, a cada turno, um jogador compra o total de cartas e as separa em 3 grupos abertos na mesa. Os demais jogadores escolhem primeiro os grupos que mais interessam, deixando o último para o próprio distribuidor. Por outro lado, existem umas cartas de limite, que funcionam como contrapeso e pode atuar como atrativo ou inibidor para estas escolhas.
O jogo rola em 3 rodadas, e durante elas, aparecem algumas cartas que permitem deslocar o Doge a certos distritos para pontuar. Ali apenas o primeiro e segundo jogador com maioria pontuarão. O jogo desfavorece os empates, o que torna as disputas mais acirradas. No fim do jogo, ocorre uma pontuação geral em todos os distritos, no melhor estilo El Grande.
Ações como expulsão ou transferência são muito fortes, pois tem alto impacto negativo para os adversários. Isto faz de San Marco um jogo de grande interação e com aleatoriedade presente, o que pode incomodar alguns dos eurogamers mais tradicionais e puristas.
Certamente é um jogo bastante elegante, com visual muito bonito na mesa e que vale a pena conhecer. Caso tenha oportunidade de participar de uma partida, aproveite.