Isle of Skye chegou para mim com muito hype. Era o vencedor do Kennerspiel, desbancando os meus jogos favoritos do ano (Pandemic Legacy e Time Stories), foi criado pela dupla bicampeã do Kenner (é da mesma dupla que fez o Broom Service, vencedora do prêmio em 2015) e eu escutei que misturava duas mecânicas que eu gosto muito: Tile placement e Leilão.
Ao sentar na mesa para jogar, eu fiquei bastante empolgado. Primeiro porque eu descobri que não era um leilão clássico, era simplesmente uma mecânica parecida com o Container de compra e venda. Você coloca um preço (à sua escolha) e se ninguém levar, você mesmo tem que comprar. Essa mecânica gera uma das coisas que eu mais gosto em jogos e que eu chamo de “orgânico”: Os jogadores tem um peso enorme na rejogabilidade e imprevisibilidade. Como há liberdade absoluta sobre o preço, você gera situações muito inteligentes em que um jogador pode estar precisando muito de uma peça sua e você precisa saber qual preço colocar (não há negociação), além das partidas serem muito diferentes entre si e com poucas situações óbvias.
Outro ponto importante e, esse eu acho que foi o mais preponderante para ter vencido o Kennerspiel foi aquela velha máxima do ‘fácil de aprender, difícil de dominar’. O jogo tem muitas nuances estratégicas a começar pelos tiles de pontuação (são 16 no jogo base e a PaperGames mandou uma promo junto com mais 2 tiles para quem comprou na pré-venda) , como apenas 4 entram em jogo (gerando mais de 40 mil combinações ou mais de 70 mil com as promos) e o jogo é profundamente afetado por isso somado ao sistema de compra e venda em que você precisa se adaptar aos jogadores, é aquele tipo de jogo que faz muito bem o trabalho de te fazer sentir que está jogando sempre algo novo e mais desafiador. Nas minhas primeiras partidas, fiquei completamente perdido e tomei uma surra da galera que já tinha jogado.
Muitas possibilidades de pontuação com o sistema de tiles !
Finalmente, queria deixar claro que essa idéia de que o jogo é um “Carcassonne on steroids” é bem fraca. A semelhança para no fato de ser a mesma mecânica e visualmente lembrar bastante. É como dizer que Stone Age e Agricola são iguais porque usam worker placement. Primeiro que os tiles não são adquiridos aleatoriamente mas você precisa comprar dos outros , além disso , você tem um tabuleiro próprio e uma mecânica de catch up do líder que modifica o bastante o jogo. Essa última, é um ponto bem polêmico e que precisa de bastante estratégia dos jogadores. É um sistema parecido com o Power Grid e basicamente força você a tentar pontuar o mais tardiamente possível. Em contrapartida, você precisa equilibrar isso porque se só pontuar no fim, não vai conseguir vencer.
Qualquer semelhança com Carcassonne é meramente estética
Como nenhum jogo é perfeito, eu consigo ver alguns pontos de reclamação da galera. O primeiro é sobre a parte que eu mais gosto no jogo. Como não há restrições sobre o preço colocado, é muito fácil um jogador novato “dar mole” e acabar favorecendo muito outra pessoa colocando um preço muito baixo para um tile. Como o catch up do jogo é justamente o líder ter menos dinheiro que os demais, tiles mal precificados podem gerar um runaway leader pesado. E como é um jogo que depende demais dos jogadores, é possível ter partidas "estranhas".
Outra faca de dois gumes é essa interação. Se você quer jogar bem, precisa prestar atenção em quão forte é o tile para os oponentes para precificar. Isso pode gerar mais downtime, especialmente em 5 jogadores e essa atenção constante ao jogo do amigo que algumas pessoas adoram e outras nem tanto. Tanto pela frustração gerada de não conseguir "aquele tile que você estava precisando" quanto pelo aspecto mais agressivo da interação que é sempre um sinal de alerta para a galera que prefere "olhar mais para o próprio mundinho".
No fim das contas, o Isle of Skye tem quilate de Kennerspiel. Há profundidade o suficiente para ser jogado em alto nível, poucas regras para mantê-lo dentro do critério de premiação e de elegância que é algo que está em falta hoje em dia, com cada vez mais e mais regras sendo adicionadas aos jogos pesados. Ele escala bem entre os números de jogadores (funciona surpreendentemente bem para 2 pessoas apesar da minha impressão inicial ser que não daria certo) , a arte é super funcional e tem um traço que aparece nos meus jogos favoritos: Os jogadores tem um peso muito grande no andamento do jogo. Isle of Skye figura entre os meus favoritos dos lançados em 2015 e recomendo fortemente para todos que buscam simplicidade e profundidade.
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Dupla bicampeã do Kennerspiel des Jahres.