Patrelcus::iuribuscacio::
P.S. Em tempo, e mais uma vez numa boa, eu te pergunto se você realmente acha que a autorregulamentação que você defende é uma coisa boa para você e para as outras pessoas ao seu redor, que compram board games? Você realmente acha que os preços atuais dos jogos são justos e de acordo com o que eles entregam? Você realmente acha que está tudo bem com o mercado de jogos e que ele está indo de vento em popa, tanto para as editoras e para os compradores? Porque, com toda a sinceridade, meu camarada não é isso que eu vejo, e acho que muita gente concorda comigo...
Caro Iuri,
Sempre estou disposto a debates edificantes ainda mais quando conduzido com pessoas de bons argumentos.
Bom, vamos lá, tentarei ser sucinto.
Primeiro acho que estamos com uma diferença conceitual. Autorregulação pode se referir à autonomia dos setores econômicos em se regularem. Não é a isso que me refiro, me refiro ao ajuste de preços natural que nasce da oferta e demanda.
O jogo custa X pq tem quem pague. É claro que o vendedor vai tentar obter o maior lucro possível. Podemos nos insurgir contra isso, mas é assim desde a aurora dos tempos.
Como um adendo, eu em momento nenhum DEFENDI isso. Apenas disse que é dessa forma que o mercado se comporta. Se isso eventualmente vai colapsar sobre si mesmo e o mercado de boardgames vai implodir, aí já não sei. É possível.
Grande abraço!
Patrick
Caro Patrick (
Patrelcus)
Meu camarada, deixa eu aproveitar o ensejo e fazer uma retificação, porque relendo o que eu escrevi, percebi que não fui claro o suficiente. Quando eu disse que você DEFENDIA, a autorregulamentação na verdade, eu não quis dizer que você era À FAVOR da autorregulamentação, mas sim que defendia a sua aplicabilidade no mercado de jogos.
Nesse sentido, o meu texto também ficou um pouco confuso, porque não ficou claro que o que eu defendi é que no mercado de usados, e na verdade no demais setores econômicos, o que não existe é aquela autorregulamentação teórica, que se aprende nos livros, em que as duas partes possuem paridade de armas, e podem negociar livremente, chegando a um preço que é bom para os dois. Eu acho que é isso que fica implícito, quando se diz que se tem gente pagando o preço dos jogos é porque o preço dos jogos se autorregulou.
O problema é que quando se defende isso, fica parecendo que esse preço autorregulado é justo, porque foi o que as pessoas aceitaram pagar, e a história não é bem essa. Na verdade, a situação dos consumidores fica mais próxima de coação, porque quem detém o poder econômico, manipula a relação, de forma a obter resultados absurdamente mais vantajosos para si. Nesse sentido, eu acho que o que existe na verdade é uma deturpação do conceito de autorregulação.
Essa inclusive é uma questão muito interessante quando se fala em capitalismo, porque o sistema se baseia em dois pilares: a iniciativa privada e a livre concorrência. O problema é que muito se fala na iniciativa privada, mas muito se esquece da livre concorrência. Nesse caso, quando a legislação permite que uma empresa praticamente monopolize o mercado, a livre concorrência vai para o saco, e ao invés de capitalismo, o que nós temos é o capitalismo selvagem, que é a forma com que nós brasileiros sempre convivemos, e isso desde que Cabral aportou na Bahia. O mesmo se aplica quando meia dúzia de empresas se unem para fatiar o mercado, mantendo o preço dos produtos lá em cima, mesmo que não haja propriamente o monopólio de uma delas. O setor automobilístico brasileiro é um bom exemplo, porque aqui se paga pelo carro popular, o que em outros países se paga por categorias acima.
É por isso, ou seja, que com um mercado de jogos praticamente na mão de uma única empresa, a Galápagos, as pessoas se sujeitam a pagar preços exorbitantes pelos jogos no lançamento. Porém, "misteriosamente" esse preços despencam alguns meses depois, afinal de contas o jogo da vez, recém lançado com preço astronômico, passa a ser outro. É por isso também que as pessoas se sujeitam a aceitar jogo com tradução mal feita, com tabuleiro/cartas impressos errados, e até o famigerado "lacrado, mas mofado".
Por isso, talvez a questão não seja existir ou não a autorregulamentação do mercado, mas sim que ele é sempre nociva, e funciona sempre em prejuízo da parte mais fraca dessa relação econômica, que são os consumidores, evidentemente considerando a inviabilidade de mobilização e organização da massa.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio