Mago do Caos::Os jogos estão caros? Estão. Sem sombra de dúvidas. Só que as editoras estão lá no final da fila dos responsáveis por esse fato. Não faço ideia de qual seria a melhor maneira de fazer as coisas melhorarem por aqui, mas estou certo de que não é a que vem sendo tentada majoritariamente (cobrar das editoras). Os esforços estão sendo direcionados da forma errada, para o destino errado.
Apenas um comentário de um burro que tá puto com os preços também, mas que não vê muito futuro em chorar com editora.
As raízes estão muito mais fincadas em questões governamentais (que passa por questões tributárias, renda média da população e competitividade da moeda local) e até tradição do povo (que se reflete na demanda).
As editoras fazem parte da solução, não do problema.
Só 10 centavos inúteis de quem não sabe de nada.
Caro Mago do Caos
Antes de qualquer coisa, você me perdoe por discordar e por favor não me mande nenhuma bola de fogo no "quengo", por conta disso. O que você diz faz algum sentido, mas eu sempre me pergunto, será que as editoras realmente não tem nenhuma culpa nessa história? Por isso eu até concordaria com você, se não fosse alguns casos recentes, que não tem como culpar qualquer um que não sejam as editoras.
O primeiro foi o caso do Stone Age. No final da tiragem original o jogo era vendido a "preço de banana", na casa dos R$ 150,00. Com isso ele esgotou, e continuou esgotado durante anos. O problema é que durante muito tempo, ele sempre foi, e até hoje é, citado como um dos melhores jogos de entrada para os euros mais pesados, principalmente no quesito alocação de trabalhadores. Outros jogos foram chegando, e algumas pessoas que tinham o Stone Age resolveram vender a sua cópia. Mas como o jogo era muito procurado e não havia tantas cópias disponíveis, o preço no mercado de usados foi nas alturas, artificialmente inflacionada apenas pela escassez e nada mais. De repente é anunciada uma reimpressão, e quando o jogo é lançado foi com o preço praticamente igual ao do mercado de usados (pouco mais de R$ 500,00), que só custava isso, pela pouquíssima oferta, e não porque o custo real do jogo fosse esse. Nesse caso é muita ingenuidade acreditar que por uma coincidência totalmente absurda o preço de relançamento do Stone Age casava direitinho com o preço majorado do mercado de usados. O que certamente aconteceu foi que a Devir pensou o seguinte: "se as pessoas pagam entre R$ 500,00 e R$ 600,00, por um Stone Age usado, certamente elas também pagarão R$ 550,00 por uma cópia nova".
Outro caso que não dá para esquecer foi o que aconteceu com o Red Cathedral, em que a mesma Devir, anunciou abriu a pré-venda, as pessoas compraram, e logo depois a previsão de chegada foi sendo adiada, cada vez mais, com uma desculpa mais esfarrapada do que a outra (alguém realmente acredita que o jogo fez tanto sucesso na Europa que a filial europeia teve que vender até as cópias que vinham para o Brasil?!?!). Por fim, quando o jogo estava próximo de ser entregue, a pré-venda foi cancelada e o jogo vendido mais caro. Como isso não pode ser culpa da editora?!?!
Para não dizer que eu só falo da Devir, alguém aí lembra de um jogo sobre vikings que eram verdadeiros "campeões" na sua terra "Midgard". Pois é, é dele mesmo que eu estou falando, do agora quase mitológico "Campeões de Midgard". O jogo foi anunciado em 29/09/2017 (muito antes da pandemia, caso alguém apareça com essa desculpa, mais do que batida), quando a Mosaico e a Meeple BR ainda eram uma só. Com a cisão, o jogo ficou com a Mosaico Jogos. Na época muita gente deixou de comprar a cópia gringa (inclusive esse otário aqui que vos escreve), mesmo que o jogo tivesse pouca dependência de idioma, para prestigiar uma editora nacional recém formada. O resultado é que a cada ano que a data inicial de lançamento fazia aniversário, a Mosaico transferia o lançamento para o ano seguinte, e sem falta. Só que ela fazia isso não por consideração, mas para tentar impedir que as pessoas comprassem o jogo importado e mostrassem o dedo médio para a empresa. Hoje o jogo nem é mais falado, boa parte das pessoas desistiu dele, ele já nem consta mais no site da editora, E mesmo que ele seja lançado no ano que vem (o que não há nenhuma estimativa séria disso) muito provavelmente não será grande coisa, porque aquele frenesi de jogos vikings, da época em que ele foi anunciado, já passou há muito tempo. Só para se ter uma ideia, o 'Campeões de Midgard" era para ser contemporâneo do Blood Rage. Nesse caso, se não é culpa da editora o cancelamento do reprint mundial ter ocorrido duas vezes, certamente é culpa dela não ter avisado isso, para que as pessoas pudessem comprar importado, ao invés de acreditar na empresa e ficar esperando um lançamento que nunca veio.
Como o tópico aqui é preço, vou evitar de falar da cacetada de jogos com erros de impressão nos lançamentos da Galápagos, embora a necessidade de paste up, em carta traduzida, certamente interfira no valor de revenda dos jogos.
Mas acima de tudo, muito mais do que isso que eu relatei, nenhuma empresa fala seriamente em aumento de tiragem e formas de baixar o preços dos jogos. E são as empresas é quem podem fazer isso, porque são elas que possuem os dados e não nós consumidores. Mas tudo que eu escuto nas lives são justificativas e tentativas de validação dos preços altos. Sempre a culpa é do dólar (quando cotação varia para baixo, automaticamente se deixa de falar nisso, e só se retorna quanto a cotação sobre de novo), sempre é culpa do frete, sempre é culpa da pandemia, mesmo quando o problema era bem anterior a ela, e por aí vai. Gasta-se uma fortuna para criar um hype incrível, levando ao famigerado FOMO, mas apenas em relação aos jogos caros. Dos jogos baratos quase não se fala. O próprio The Crew, só teve alguma exposição, porque as pessoas ficaram curiosas como é que um jogo de vaza ganhou o Spiel de Jahres. Não fosse por isso, ninguém saberia do coitado. Também quem mandou ser um um jogo de carta que custa baratinho. Além disso, todos os anos são lançadas talvez centenas de novos jogos em diversas faixas de preço, pelo mundo afora, mas a impressão que se tem é que para entrar no radar das editoras brasileiras o jogo tem de custar perto de US 100,00, porque por menos que isso, as brazucas nem olham. Para não ser injusto a exceção é a Paper Games que cada vez mais está dominando a faixa de party games, custando menos de R$ 100,00, e se continuar assim vai longe, muito longe. Mais uma vez, a responsabilidade sobre o foco de quais jogos se vai trabalhar para lançar aqui e quais serão solenemente ignorados é das editoras, e é difícil, pelo menos para mim, acreditar que elas só conseguem trazer jogos caros, com uma cacetada de componentes, que obviamente precisam ser produzidos na China.
Então meu camarada, você me perdoe, mas, com todo o respeito, em parte a culpa da nossa situação é das editoras sim, e não é pouca não.
Um forte abraço boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Você já notou como, que quando a editora diz que é obrigada contratualmente a produzir o jogo na China, o frete da CHina para o Brasil é citado como mais caro do mundo, mas quando há uma possibilidade de produzir o jogo aqui, as editoras alegam que produziram na China, porque o frete interno brasileiro é mais caro do que produzir na China e enviar para cá?!?! Não sei quanto a você, mas eu tenho muita desconfiança de dados que se alteram conforme a argumentação do freguês.