Marcelo_boardgamer::Olá.
Inicialmente quero dizer que nunca joguei Porto Rico ou Mombassa, já ouvi vários comentários e reviews e a maioria destes foi sempre muito favorável o que me faz pensar que mecanicamente os dois sejam realmente muito bons jogos.
Olá, Marcelo. Sim, de fato, mecanicamente não há dúvidas, esses jogos são um sucesso de público e crítica. Contudo, nenhum jogo é unanimidade, bastante gente não gosta desses jogos por fatores relativos às mecânicas, inclusive.
Marcelo_boardgamer::O que eu percebo, mais uma vez correndo o risco de estar errado, é que apesar dos autores do jogo fazerem questão de colocar os erros históricos ocorridos nos respectivos períodos, no caso exploração da américa e exploração da África, nos dois casos nós jogadores somos colocados no papel dos exploradores e não dos explorados. Minha reflexão é sobre a real necessidade do jogo ser assim. É sutil mas para mim me tira um pouco a vontade de jogar estes jogos por que no fundo eu vou estar repetindo o padrão. O jogo pode chamar a atenção sobre a história mas não precisa repeti-la.
Sim, é isso mesmo. A questão do posicionamento, isto é, de que lado da história os jogadores são levados a participar nesse exercício, causa uma série de reflexões, como você e outros aqui colocaram muito bem. Para pessoas mais sensíveis nesse aspecto temático, realmente essa questão pode incomodar um pouco mais. São pessoas com uma empatia muito aflorada, o que particularmente considero maravilhoso.
Por outro lado, apenas colocando em perspectiva, as pessoas que não se incomodam tanto não são necessariamente ruins ou desprovidas de empatia. Reforço que em momento nenhum dessa discussão de alto nível que estamos construindo aqui eu vi esse tipo de alegação. Para a maioria dos jogos, eu não enxergo o tema com tanta facilidade, outros jogos que podem esconder cicatrizes históricas e que eu não tive a sensibilidade ou o conhecimento dos fatos para notá-las. Várias pessoas podem olhar para um mesmo quadro e destacar pontos completamente diferentes, isso vai de acordo com uma série de elementos que formaram a sua percepção ao longo da vida.
Sobre a escolha dos designers, creio que isso converge um pouco com o aspecto da construção cultural do indivíduo que citei no parágrafo anterior. Não é que eles sejam pessoas ruins por "escolherem" esse lado ao elaborar o jogo, também não é como se eles fossem moralmente proibidos de fazê-lo dessa forma. Muito provavelmente eles simplesmente não pensaram em todos esses desdobramentos que estamos discutindo aqui porque ao longo do seu desenvolvimento social, emocional, educacional, etc., essas questões podem ter sido deixadas em segundo plano. É apenas um palpite aqui, eu não fui amigo de infância desses designers.
Muitos outros jogos europeus focam na parte produtiva da coisa. Esses designers provavelmente jogaram bastante esses tipos de jogos ao longo de suas trajetórias e se sentem mais confiantes para desenvolver um jogo com essa mesma proposta. Eu não conheço muitos jogos que focam no outro lado da moeda, mas imagino que, mecanicamente e tematicamente falando, eles estejam mais ligados à questão da resistência, não necessariamente da produção. Spirit Island, por exemplo, que coloca os colonizadores sob uma perspectiva mais obscura, é um tower defense, não um jogo propriamente econômico.
Marcelo_boardgamer::Chamo a atenção para jogo Xingu do Marcus Macri que trata da exploração da região do Xingu pelo homem "civilizado". Os fatos históricos são chamados a atenção mas nós tomamos o papel dos explorados, provavelmente em um resistência inútil mas que acredito que tem o poder de fazer um reflexão maior sobre eventos semelhantes no futuro. Novamente posso estar incorrendo em erros pois também não joguei Xingu, me baseio apenas nas descrições do jogo e nos reviews.
Também não joguei Xingu, mas imagino que nós como brasileiros, em função da forma como aprendemos história, estamos culturalmente bem mais próximos de criar jogos que enfatizem a figura do indígena, consequentemente todo o passado de luta e resistência. Não que designers de outros países também não possam fazê-lo, muito pelo contrário, sejam bem vindos e espero que façam uma excelente pesquisa para que justiça seja feita na descrição desses povos.
O mesmo valeria para jogos com temática Viking, por exemplo. O povo da Escandinávia deve estar muito mais propenso a abordar esse tipo de tema em suas produções culturais por conta da proximidade. Nada impede que designers de outros países também abordem essa questão, ou que ainda, os escandinavos falem sobre o que quiserem.
Marcelo_boardgamer::Pra finalizar não quero com minha opinião dizer as outras pessoas o que devem ou não devem jogar isto vale apenas para mim e não estou criticando quem joga até porque uma vez que se começa o jogo provavelmente deve-se ficar tão envolvido com as mecânicas que o tema desaparece.
Peço desculpas se alguém já colocou estes pontos na discussão, realmente não li todos os comentários. Se for assim podem ignorar este.
Um abraço.
Marcelo, seu posicionamento está muito bem alinhado com o de todos aqui, agradeço-lhe por sua contribuição ao debate. Tudo que estamos discutindo aqui é muito mais profundo e importante do que o jogo em si. Puerto Rico é mecanicamente um excelente jogo e que deve ser apreciado em uma boa mesa por todas as suas qualidades de design. Nossa discussão não anula esse fato, mas coexiste em harmonia.
Forte abraço.