1pipo_::Boa tarde, Luis!
Sempre leio as coisas que você escreve, inclusive adoro, são textos gostosos e divertidíssimos. Mas, por mais que eu não tenha o hábito de comentar muito, desta vez não teve jeito: PRECISO te parabenizar pela decisão de escrever esse texto e pela sua abordagem. Se em outros momentos o que mais me chamava a atenção era o humor ou a qualidade da sua escrita, aqui o que fica engrandecido é a sua parte humana e as reflexões que você propõe.
Por mais que a gente gostaria que essas ideias já fossem lugar comum, infelizmente ainda não é raro ver o pessoal dentro do hobby desprezando ou chamando de "lacração" quando a gente levanta esses pontos em relação a aspectos de jogos como Puerto Rico, ou mesmo Mombasa, que tem umas coisinhas problemáticas parecidas. Então é sempre muito legal ver que, além da sua evidentemente elogiável habilidade pra escrita, você também tem uma visão de mundo que te permite reconhecer os problemas da nossa realidade e tentar provocar uma mudança pra melhor. Nosso cenário se beneficiaria de mais artigos como esse e de mais pessoas como você.
Continue nessa! Um abraço!
Boa tarde, Pedro!
Eu fico sempre muito contente ao receber uma mensagem de alguém que acompanha o meu trabalho há um certo tempo. Muito obrigado pela leitura, pelo carinho e pelo comentário. Eu sei que muita gente prefere simplesmente ler os textos, sem sentir a necessidade de comentar, o que não é problema algum, mas confesso que a minha parte favorita depois de postar um texto é a interação pelos comentários. É muito bacana saber que esse texto, de caráter tão reflexivo, fez com que você se visse motivado a escrever esse ótimo comentário. Obrigado por sua contribuição no nosso debate. Seja bem vindo.
Sim, o humor é uma componente que me fascina. É muito difícil fazer humor. Para se produzir algum conteúdo humorístico, faz-se necessário um certo grau de percepção apurada, antecipando a reação do público. O riso é para mim o reflexo involuntário da concretização bem sucedida de uma piada. A piada, por sua vez, envolve a geração de uma certa expectativa, que é propositalmente quebrada a partir do inesperado, seja na forma de alguma inversão de valores, exagero, elemento fora de contexto, etc. Desde pequeno eu era uma criança muito esquisita, eu analisava, dissecava, o humor. Eu não ria das piadas, ao invés disso, eu falava algo do tipo "entendi porque isso é engraçado, muito bom". O humor também tem público: o que é engraçado para uns não é engraçado para outros, por diversas razões, seja porque é simplesmente tolo ou até mesmo ofensivo, o que, a meu ver, ultrapassa os limites do humor.
A parte inicial do texto reflete fielmente o meu processo criativo na construção do mesmo. Meu primeiro impulso foi fazer graça. Por que normalmente esse é o meu primeiro reflexo? Porque no fundo eu sou uma pessoa muito triste, leia-se com tendências à depressão. Eu faço terapia há quase dois anos, como disse, sou uma pessoa extremamente privilegiada. Não é qualquer pessoa que tem acesso a esse tipo de acompanhamento. Para muitos, depressão é vista como "doença de rico". Não, depressão é outro mal muito sério que também é invisível. O que a torna "doença de rico" é justamente o que estamos falando aqui, refiro-me à questão das condições drasticamente desiguais que as diferentes camadas sociais apresentam. Alguns privilegiados como eu têm acesso à informação, a profissionais sérios. Pessoas menos afortunadas acabam recorrendo a drogas ou são ludibriadas com algumas formas de charlatanismo.
Produzir humor para mim é uma válvula de escape. Contudo, ao abordar uma questão tão sensível como essa, eu simplesmente não consegui. Eu nem tentei, na verdade, sabia que não conseguiria. Esse é o limite do meu humor. Brincadeira tem hora. A resultante disso foi uma expressão do meu lado humano, mais empático.
Esse ano foi devastador para o mundo inteiro, literalmente o mundo inteiro. Eu, que nas condições normais de temperatura e pressão apresento tendências a ficar bastante cabisbaixo, neste ano perdi a noção, surtei um bocado. Apesar de todas as minhas imperfeições, fico aliviado ao ter a consciência de que não sou um cego intolerante que perpetua o ódio em função das origens (e orientações) de qualquer pessoa. O Covid não é o único vírus que vem assolando o mundo em tempos recentes. Infelizmente temos também a estupidez, a intolerância, entre outros. Conversar convosco sobre um assunto tão sério de forma tão empática, madura e respeitosa é um verdadeiro bálsamo para a minha pessoa na conclusão desse período torpe de nossas vidas, também conhecido como 2020.
Falando mais especificamente sobre essa questão do desprezo por parte de umas mentes mais resistentes, infelizmente, ao passo que a internet permite com que possamos nos reunir virtualmente e propagar bons pensamentos e práticas, por outro lado, pessoas intolerantes também ganharam voz. Vivemos em um contexto onde a quantidade fala mais alto do que a qualidade. Aquela máxima que surgiu em outro período sombrio da história da humanidade e que diz: "Uma mentira contada mil vezes se torna verdade". A diferença é que hoje em dia, uma mentira, para se tornar verdade, não precisa ser literalmente contada mil vezes, basta compartilhá-la mil vezes ou ainda curtir a postagem mil vezes. Virou uma guerra de egos, não um debate racional, e o combustível para essa disputa sem sentido é a visibilidade, os números, o algoritmo.
A internet não é ruim em sua essência, ela é, na realidade, uma ferramenta fantástica com um potencial fascinante para a produção de coisas boas. Em algum momento da história, lá atrás, erramos feio e erramos rude. Hoje, dentre muitas outras coisas, a internet infelizmente também serve para que crias ideológicas desse processo nefasto se juntem a seus pares e, através dos números, ganhem força, que extrapola o mundo virtual, invadindo esferas como a política, religião e a família.