Acho que nunca tivemos uma polêmica tão grande sobre o nome de um produto, desde que o Lolo resolveu mudar de nome para Milkbar (o que, convenhamos, foi uma grande ideia de jerico da Nestle). A polêmica sobre Gugong antecede em muito a questão do nome da caixa na edição BR que já deu o que falar aqui na Ludopedia. O jogo, havia sido lançado no Kickstarter como Forbidden City (Cidade Proibida), mas, por uma questão de Copyright, decidiu mudar de nome para Gugong, que, para quem não sabe, é outro nome do mesmo palácio imperial chinês.
E se não bastasse isso, vieram mais outras polêmicas. Primeiro, um erro de produção global fez com que o jogo viesse com uma Carta e Token a mais de um tipo e a menos de outro. A Game Brewer já ficou de reproduzir e distribuir isso globalmente, mas não sem antes proporem algumas gambiarras à comunidade que não reagiu muito bem. E depois tivemos a edição em Português/Espanhol com uma capa sem o nome do jogo (ele está, no entanto, na lateral), causando a ira de quem parecia não saber que jogo estava jogando. Será que colocaram um Munchkin China na mesa sem eu saber? Como vou descobrir?
Mas polêmicas e piadas a parte, o que queremos mesmo saber é: é bom? Vale a pena? Entrega algo diferente? Então vamos lá.
Gugong é um jogo muito fácil de se explicar. Ele é um jogo de alocação de trabalhadores sem trabalhadores, e isso pra mim é golpe! No caso, golpe de mestre! O jogo introduz cartas que fazem o papel dos trabalhadores. Você aloca cartas nos locais de ação para fazê-las. E isso pode parecer pouca coisa, mas a maneira com que foi implementado é o que dá a identidade ao jogo.
Gugong difere das demais alocações de trabalhadores então, por dois motivos: o efeito causado pelo escalonamento das cartas e a ausência de bloqueios diretos, tão comum em outros jogos de alocação. Vamos falar melhor disso.
Em Gugong, a ideia temática, é que você está trocando presentes em diferentes regiões da China para conseguir acesso a ações. Por isso, seu presente tem de sempre ser melhor do que o recebeu. Isso no jogo é representado pelas cartas. Há 7 cartas iniciais, sorteadas em 7 ações do tabuleiro. Todas elas são numeradas de 1 a 9. Cada jogador, começa com uma mão inicial, com valores também entre 1 e 9. Elas representam os presentes que você dá e/ou recebe. Para fazer sua ação, você então aloca no local uma carta da sua mão e retira do local, para sua pilha de descarte, a carta que estava lá anteriormente. A única condição para isso, é que sua carta, tenha sempre um valor superior ao da carta que lá já estava, sob condição de tomar uma penalidade caso não cumprir isso.
Isso daí, por si só, já muda bastante a dinâmica do jogo pois gera um custo de oportunidade de cada ação e acaba com um script direto da ação super forte de outros jogos de alocação (tipo a corrida para o engenheiro em Russian Railroads). As vezes a melhor ação está com uma carta 8 e você não quer gastar sua única carta 9 ali. Principalmente por que, com o passar dos turnos, todos os valores do tabuleiro vão crescendo e você vai precisar gastar logo as cartas baixas. Por outro lado, todas as cartas que você pegar nesse turno, são as cartas que você vai jogar no turno seguinte e nem sempre, as cartas dos locais que você quer ir, te darão, no futuro, os bônus que você gostaria de ter.
E como você apenas troca as cartas de local, o jogo não possui bloqueio direto das ações. Você pode dificultar para as pessoas de irem em um local, trocando a carta dali por uma de valor mais elevada. Ainda assim, todos podem ir lá. E mais, eu falei no parágrafo anterior sobre bônus das cartas. Em Gugong, muitas cartas lhe dão um bônus que lhe permitem fazer, sem precisar alocar cartas, outra ação do tabuleiro. É como se você fosse no local A, usando a carta que permite fazer também a ação do local D. Com isso, o jogo não é nada travado e dificilmente gera uma frustração muito grande nos jogadores. Sabe aquele casal que se xinga quando um "rouba" a ação do outro? Então, Gugong é o jogo perfeito para eles.
E são esses dois fatores juntos, que fazem com que Gugong tenha uma sensação diferente ao se jogar de qualquer outro workerplacement do mercado. Nada revolucionário, ou mind blowing, mas ao menos, único! Ao invés de restringir, ele permite. Ao invés de interagir pelo bloqueio, ele interage pelo custo. E ao invés de limitar o que fazer, ele, pelos bônus de cada carta, permite que você faça mais.
Mas nesse momento você deve estar pensando: é então um jogo leve, melzinho na chupeta, onde você faz ponto até por fazer piada na mesa? Não, não, não! Gugong é um jogo de poucos pontos, que você tem que lutar por cada um deles. Ele é um jogo que te permite fazer tudo, mas quase nada dá ponto, que é o objetivo de tudo. Ele premia quem faz isso da forma mais eficiente. É um jogo onde você não se sente tolido por ter sido bloqueado, mas por não ter nem tempo nem recurso para fazer o que queria.
O jogo tem um "recurso" que são os servos budistas (cubos na versão retail ou budas na deluxe). Em cada ação você pode fazê-la de duas formas: sem gastar seus servos, fazendo-a de maneira não otimizada; OU gastando 1 a 2 servos para fazê-la de uma maneira mais poderosa. O problema é que você nunca tem servo suficiente para isso, e é dificil pra CARACA, conseguir servo no meio do turno. Uma vez que eu joguei aqui no Rio, o Leandro Pires (Autor do Tsukiji/RnR Manager e leitor do blog

) perguntou umas 15x "Como é que faz para ganhar mais servo mesmo?" como se na próxima pergunta alguém ia tirar uma solução do rabo que não tínhamos falado ainda.
Gugong é então um jogo de execução e nem tanto de planejamento. Isso por que, as cartas de presente disponíveis na mesa mudam a cada rodada, e as vezes vale a pena pular em um lugar para pegar uma carta que vai lhe ajudar no final mais até mesmo que a ação que ela proporciona. Outras vezes, vale a pena aproveitar o track de viagem cheio para pular a frente e pegar, mais rápido, um bônus melhor. O tempo todo, a melhor jogada muda e chega no seu turno, diferente do que você planejou fazer. É um jogo tático!

Eu, sinceramente, fiquei bem impressionado com a qualidade do jogo. No KS eu já tinha pesquisado e não tinha me empolgado. Achei que seria só mais um euro que eu esqueceria que existe 6 meses depois do seu lançamento. Logo que chegou, um amigo próximo odiou a ponto de não querer nem levar para que eu jogasse. Ele colocou para leilão 15 minutos após o fim da 1a partida. Ele reclamou demais que o jogo era desconexo entre as ações. Quase como se fossem 6 mini-games dentro do jogo. Tipo Trajan sem a mancala. Eu fiquei cabreiro mas curioso e ao jogar na 1a vez não achei isso. Agora, após mais uma partida, já corri atrás para garantir minha cópia na coleção. E isso, em um momento que eu compro cada vez menos euros médios.
Isso não quer dizer que o jogo é perfeito no entanto. Já ouvi falar que o jogo te leva a estratégias vencedoras. Como o jogo é de pontuação baixa, quem joga fazendo bem os 2 objetivos de fim de jogo teria praticamente garantida a vitória. Eu, sinceramente, ainda não estou nesse nível não e quem venceu, nos meus jogos, não fez isso. Talvez com o tempo, perceba que o jogo é sim de cartas marcadas e resolva que já deu. Mas por enquanto, eu só quero é jogar novamente esse jogo que não deve ser nomeado.
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