Muita tinta digital (e sangue) foi derramada sobre a representação da diversidade em jogos de mesa e em todos os outros campos de empreendimento geek e nerd. Geralmente essas conversas são extremamente combativas e tendem a terminar mal para todos os envolvidos. Eu mesmo estive envolvido nesses debates e discussões, para meu prejuízo. A posição que mantenho é que a liberdade de expressão e a visão do autor ou criador devem superar todas e quaisquer outras preocupações – incluindo diversidade, representação e assim por diante. A meu ver, a resposta é que as pessoas criem de acordo com sua própria consciência, não sejam condenadas de imediato ou que suas motivações sejam presumidas e que a diversidade de ideias seja a referência. Eu quero um mundo em que Varg Vikernes e David Hill possam fazer e vender jogos e eu possa ignorar os dois.

Dito isto, não posso deixar de ser atraído por tópicos controversos – é aí que residem os conflitos e histórias interessantes – e há poucos tópicos tão controversos quanto o tratamento de 'minorias' na mídia. Aqui chegamos a um ponto de nexo entre realismo, expectativa, demandas por representação, demandas por livre expressão, revisionismo histórico, magia, ficção científica, verdade, 'é' e 'deveria'. Isso o torna interessante, mas as linhas de batalha da política identitária, do liberalismo, do conservadorismo, da esquerda regressiva e do libertarianismo cultural também a tornam uma área repleta de dificuldades e mal-entendidos deliberados.

Não há boas – ou pelo menos não satisfatórias – respostas para muitas dessas perguntas. Talvez existam apenas várias abordagens, cada uma das quais irá incomodar algum grupo ou outro. O que é verdade em todas as circunstâncias, porém, é que esses tópicos controversos são interessantes, fascinantes e importantes em termos de mundo, personagem e construção de cenário, qualquer que seja sua posição particular.

Este livreto pretende examinar essas questões em si e por si mesmas, fora do atual estado de controvérsia e perguntar – em vez disso – como podemos simular melhor a situação de grupos minoritários, entendê-los dentro do contexto de mundos ficcionais, fazer concessões para jogadores- personagens que podem tentar contrariar essas tendências sociais ou permitir que os personagens – por meio de suas ações – afetem a mudança social dentro dos mundos do jogo.